2_Geladeiras Electrolux.

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Em todos os meus dezessete anos, nunca tinha encontrado alguém bonito ao ponto de me fazer perder a fala. Eu, Sydney Clark, que sempre tinha uma resposta pra tudo, me encontrava sem palavras diante do garoto a minha frente.

Os cabelos um tanto claros estavam  desarrumados e faziam contraste com sua pele levemente bronzeada, as bochechas repletas de sardas discretas o deixavam ainda mais atraente. Seus olhos. Seus malditos olhos azuis que me encaravam com intensidade em busca de alguma resposta minha. Vasculho minha mente em busca do que dizer. Nada. Estava vazia.

— É melhor limpar essa baba antes que alguém escorregue. — cruza os braços e seus músculos se ressaltam na camisa branca que usava.

Garoto bonitos deveriam ser proibidos de abrir a boca. Esse na minha frente, por exemplo. Só precisou abrir a boca para que eu visse que era um idiota. Um idiota gostoso.

— Eu não estava babando. — levo o canudo da caixinha as lábio, tomando um gole — Quem é você?

Seus olhos param na caixinha em minha mão, e ele vem até mim, parando na minha frente. Só agora me dou conta do quanto ele é alto. Porra, o cara parecia uma geladeira Electrolux de quatro portas, quase me fazia ficar intimidada. Quase.

— Sabe, esse toddynho na sua mão era meu. — fala baixo, me olhando feio — Mal chegou aqui e já mexe no que não te pertence?

Me irrito. O cara tá brigando por causa de um toddynho? Te foder, mermão.

— Acontece que não vi seu nome nele, e o senhor Black disse que eu poderia comer o que eu quisesse. — dou um longo gole no toddynho o esvaziando, e o olho com falsa inocência.

Ele chega mais perto, seu rosto se formando em uma carranca sexy. Porra, não, não. A carranca era feia. Feia.

— Eu espero que você não se meta comigo e nem entre no meu caminho. — ele chega um pouco mais perto. Perto demais.

— Não se preocupe, eu não te conheço e não tenho o menor interesse na sua vida. — coloco a caixinha vazia em suas mãos e saio da cozinha, ainda em tempo de escutar sua risada incrédula.

Resmungando, entro na sala e antes que eu suba as escadas, Senhor Black me chama. Me viro rapidamente, paralisando no lugar. Meu tutor não estava sozinho. Estava acompanhado de cinco garotos extremamente lindos. Eles ficam em pé e arregala os olhos. Porra, cinco geladeiras Electrolux que me encaravam com carrancas.

Forço meus dedos a soltarem o corrimão da escada e ando lentamente na direção do senhor Black, parando ao seu lado. Eu estou no paraíso? Por que caralhos eu me recusei a vir com ele?

Olho pelo canto do olho e vejo o barraqueiro da cozinha entrando na sala. Merda, seis geladeiras Electrolux. Sete com o senhor Black, ele também não era nada pequeno.

— Pessoal, quero que conheçam a Sydney. — ele apoia a mão em meu ombro — Ela vai morar conosco agora, espero que a tratem bem.

Passo os olhos pela sala, encontrando os do barraqueiro. Envergonhada, desvio o olhar, focando em tirar os restos do meu esmalte.

— Sydney, esses são meus filhos. Alec e Adrien são os caçulas de dezesseis anos. Como pode ver, são gêmeos. — aponta os dedos pra dois garotos de cabelos castanhos e olhos claros , que me olhavam com tédio — Esse é o Willian ou Will, como preferir. Ele tem dezessete anos. — aponta pra um garoto de cabelos e olhos negros, seus lábios repuxados em um sorrisinho sinistro — Esse é o Saymon de dezoito anos. — eu olho pro loiro que se mostrava mais interessado em seu celular. Que exploda, amém — Esse aqui é o Damon, também de dezoito anos. — eu olho na direção do barraqueiro. Damon combinava com ele. Me lembrava a palavra demônio — E por fim, esse é o Edward, de dezenove anos. — olho na direção do cara de cabelos castanhos e olhos escuros.

Por quê todo mundo nesse lugar tinha que ser tão fodidamente bonito? E que genética era esse que o senhor Black tinha? Nunca vi tanta gente bonita no mesmo lugar.

— Bom, vou deixar que se conheçam, até mais. — tento retrucar mas o meu tutor já estava subindo as escadas.

Assim que ficamos a sós, o ar na sala muda, fica mais tenso. Will levanta da poltrona e começar a andar ao redor, como se me examinasse.

— Por que veio pra cá? — ele para a minha frente, de braços cruzados. Todos os irmãos me encaravam agora.

— Seu pai não te disse? — minha voz sai mais baixo do que eu pretendo. Estar perto de tanta gente bonita me deixava fraca — Ele quer ser meu tutor, investir nos meus estudos.

Will apenas balança a cabeça como se após minha fala, algo fizesse sentindo.

— E você, é claro, nem congitou negar o pedido. — sorri sarcástico — Bem que tínhamos razão.

— O quê? — franzo a testa em sua direção — Como assim?

— Vamos fazer sua vida um inferno. — um dos gêmeos fala e arqueio a sobrancelha em sua direção, sem entender. O que caralhos estava acontecendo?

— Você deveria ter ficado no Brasil, nós somos altamente perigosos. — o outro gêmeo fala. Agora estou arqueando as duas sobrancelhas.

— Deveríamos parar, o pai não vai gostar nada disso. — Edward me olha e depois sorri — Mas seria legal ver até onde ela aguenta.

Analiso todos os rostos daquela sala sem entender o que está acontecendo. E antes que eu tenha a oportunidade de perguntar, Will me interrompe.

— Volta pro Brasil, gatinha. A fila da herança já está bem cheia. — ele fala sorrindo, enquanto enrola uma mecha do meu cabelo nos dedos.

O encaro confusa por alguns minutos antes de tudo fazer sentido. Pego a mão de Will que brincava com cabelo e torço seu braço atrás de suas costas, ouvindo seu grito.

Claro, agora eu entendi. Esses idiotas achavam que eu era interesseira, que queria a herança do pai deles. Merda, garotos bonitos definitivamente deviam ficar calados.

— Escuta aqui. — pressiono ainda mais seu braço, e ele cai de joelhos — Eu não sou interesseira, seus riquinhos de merda. E tão pouco quero o dinheiro do pai de vocês. Não deveriam julgar uma pessoa sem ao menos conhecê-la, não é porque sou pobre e cresci em um orfanato que não tenho caráter.

Pressiono as unhas em seu braço e ele guincha em dor.

— Ai, ai, solta! — pede com uma voz nada máscula — Era zoeira, era zoeira!

Olho em volta percebendo que os outros riam da situação do irmão, sem a menor vontade de ajudá-lo.

— A merda dessa brincadeira não teve graça, eu não estou sorrindo. — eu estava muito puta, na verdade.

— Tá bom, desculpa, desculpa. — ele bate a mão livre no meu braço para que o soltasse — Solta, porra, 'tá doendo!

Eu solto, percebendo as marcas das minhas unhas em seu braço. Devia ter arrancado no dente.

— Sua maluca, você quase arrancou meu braço! — Will se ergue do chão, massageando o ombro.

— Dá próxima vez não vai ter um quase, eu vou arrancar. — olho pra cada um daquela sala, meu olhos parando em Damon que encarava tudo sério.

— A gatinha é selvagem, gostei. — Saymon fala, sorrindo na minha direção.

— Selvagem ou não, já está avisada. — os gêmeos falam em um uníssono.

— Vão se foder. — ergo o dedo do meio e subo rapidamente as escadas, não lhes dando tempo de retrucar.

Abro a porta do meu quarto e a fecho com força, me jogando na cama. Pego um travesseiro e o ponho sobre o rosto, gritando bem alto, o travesseiro abafando o som. Me odiavam sem ao menos me conhecer.

Onde foi que eu vim parar?

𝗗𝗲 𝗣𝗲𝗿𝗻𝗮𝘀 𝗣𝗿𝗼 𝗔𝗿Onde histórias criam vida. Descubra agora