Maldito Murphy

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Olhei para o anel em meu dedo brevemente durante o trajeto, queria me certificar de que ele ainda estava ali, provando com seu brilho que todo esse pesadelo acabaria em breve. Por mais que eu tentasse pensar positivo, vê-lo em meu dedo anelar perdido nos vestígios do liquido vermelho viscoso que manchavam minhas mãos e partes do braço, não ajudava muito, pelo contrário, levava-me a pensar em todas as consequências daquele maldito acidente. Haveria um final além da tragédia para aquilo?

Espantei aquela negatividade com a cabeça e voltei meus olhos para o homem deitado na maca da ambulância rodeado de paramédicos que lutavam por salva-lo. Meu noivo estava inconsciente, coberto de sangue e com ferimentos que seguiam desde a cabeça até seus pés. Sua face, cheia de hematomas, cortes e encoberta pelo liquido vermelho, nada parecia com aquele lindo rosto que me acordava todas as manhãs com um sorriso capaz de iluminar meus dias. Como eu havia sofrido quase nada com a batida e ele estava ali correndo risco de vida? Seria alguma espécie de brincadeira do destino? Um aviso de que não importasse o que eu tentasse, eu sempre estaria sozinha? Malditos pensamentos, parem! Não posso perde-lo, não posso.

*Doze horas antes, na manhã daquele mesmo dia.*

— Não vejo porque não posso ir com você?

Com o telefone apoiado no ombro enquanto terminava de arrumar as malas, eu tentava, pela última vez, argumentar com ele sobre o quanto era descabida a ideia de chegar sozinha na pequena cidade do interior do Maine, sem conhecer nada nem ninguém, e para o que seria a comemoração de nosso noivado.

— Amor, você sabe que não é viável. São quatro horas de viagem daí de Nova Iorque até aqui em Houston, e outras cinco horas daqui até o aeroporto de Portland. Portanto, chegaríamos em Storybrooke exaustos e só amanhã.

— Eu sei, seu sei.

Era bem típico dele me explicar as coisas detalhadamente, como se tentasse convencer uma criança teimosa, mas eu compreendia muito bem o conceito de tempo e distancia, só me sentia insegura por cair de paraquedas na cidade onde meu noivo nasceu e cresceu, e de bônus, ainda conhecer pela primeira vez sua família.

— Não tem motivo para você está nervosa, Regina, minha mãe já te conhece e te adora.

Ele parecia ler meus pensamentos.

— Conhecer por ligação de vídeo não conta, Daniel. — Sussurrei mais para mim mesma do que para ele ouvir, o que era quase impossível considerando o barulho da mistura de vozes que ecoavam onde ele estava.

— Amor, eu vou ter que desligar, embarco daqui há duas horas e lá pelo fim da tarde eu chego em Storybrooke. Tem certeza de que quer ficar no hotel?

Sim, eu tinha certeza. Meus nervos já estavam me matando apenas por chegar sozinha, imagina se ainda fosse direto para a casa da família Locksley?! Definitivamente não estava preparada para os encarar sem Daniel ao meu lado me passando segurança. Não sou um bicho do mato ou tenho fobia à interação humana, apenas não estou acostumada a um ambiente familiar.

Família, família, ou pode chamar também de o meu ponto fraco.

Fui encaminhada para um orfanato muito pequena, tinha pouco mais de seis anos, e lá morei até ter idade para me responsabilizar por mim mesma perante a lei. Diferente de meu noivo, eu não me lembro como é a sensação de ser amada e de ter pessoas que estão ali por você, apoiando você e amando você independentemente de qualquer coisa. Mas tudo mudou quando conheci Daniel, ele preencheu os vazios que haviam em mim, tornou-se minha família e meu porto seguro. Um sorriso apareceu em minha face quando me lembrei dele e só por isso percebi que minhas divagações sobre minha infância me fizeram olhar o nada, abraçando uma blusa que agora estava muito amaçada para ir para a mala.

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