Hearts Collide

Primeiro Encontro - Parte 2

Viver em um orfanato significa que você pode ter esperança, mas é bom manter os pés no chão; você pode se apegar, ter amigos, mas saiba que em qualquer dia eles podem simplesmente ir embora; você pode sonhar, imaginar, voar, mas tenha consciência do peso da realidade e o quão forte ela pode ser para te puxar para baixo. Aprendi cada uma dessas lições sob aquele teto. Vi meus amigos serem adotados, senti o brilho em meu olhar por uma família ser apagado em cada passar de ano - quando mais você cresce, menor são suas chances -, aprendi a dividir e não desejar muito.

"Deus escreve certo por linhas tortas, Regina", eram as palavras de conforto de Abby nos meus momentos de tristeza e solidão, os quais ocorriam sem pena especificamente no primeiro dia de fevereiro. Assim que o ponteiro do relógio sinalizava a entrada do novo mês, eu permitia com que minha realidade me abatesse e me mostrasse quão derrotada e desprezada eu era. Por anos, a tradição em meu aniversário se consolidava ainda mais; entretanto, as palavras de minha amiga só foram acalentadoras até nossos doze anos, porque assim que ela assoprou as velhinhas, seu desejo de ter um lar foi realizado e nunca mais a vi.

Meu maior sonho quando criança era sair do orfanato e ver o mundo por além daqueles muros, porém ao atingir a idade legal para ser considerada adulta, tudo aquilo tornou-se um pesadelo. Psicologicamente abatida e conscientemente sozinha, eu tive que enfrentar os problemas e me adequar. Depois de algum tempo, consegui um emprego modesto, mas suficientemente bom para pagar minhas contas. Persisti também até conseguir entrar em uma faculdade, o curso de administração não era o que eu queria, mas era o que me daria mais estabilidade. Eu já não era mais tão novinha para seguir pelos caminhos da atuação.

Após alguns meses já trabalhando na galeria de arte, em uma noite aparentemente normal de exposição, vi passando pela porta o homem que me fez voltar a acreditar em contos de fadas. Daniel estava acompanhado por dois amigos, igualmente vestidos de ternos e gravatas, que por suas expressões fechadas e constantes verificações ao relógio não queriam estar ali. Ele por outro lado, ignorava os chamados para ir embora e seguia observando atentamente as obras de arte. Meus olhos estavam fixos nele, o acompanhando e sem saber explicar, o admirando também.

Daniel foi embora naquele dia, mas voltou em cada noite daquela semana. Quando já estávamos juntos, eu questionei o que ele observava tanto naqueles quadros e ele respondeu dizendo que não sabia, apenas ia até a galeria para me ver.

É incomum de se falar, mas com os meus vinte e oito anos, ele foi o primeiro em minha vida. Apeguei-me a Daniel, ao seu amor, ao seu cuidado, a sua proteção com urgência e desespero; ele me dera tudo aquilo que eu desejava quando órfã: não ser mais sozinha. Eu era grata por ele ter me escolhido e me aceitado apensar dos meus traumas e fraquezas; então quando me pediu em casamento, com apenas quatro meses de relacionamento, eu disse sim sem pestanejar. Eu teria um futuro e, finalmente, uma família.

Todavia, o destino é traiçoeiro e estranho.

A viagem para Storybrooke mudou tudo completamente e com menos de um mês vivendo naquela cidade todas as minhas certezas ruíram. Robin entrou em minha vida e quando me dei conta aqueles olhos de oceano já habitavam em meus pensamentos conscientes e inconscientes.

Demorei para aceitar e entender aquele sentimento, eu nunca havia experimentado algo tão forte, doce e puro, nem pelo homem com quem ia me casar. O que sentia, digo, sinto por Daniel não chega nem perto da loucura, combustão e felicidade que é amar o Robin. Dane-se minha culpa, a verdade é essa, eu o amo.

― Meu anjo, entenda. Eu não penso e nem tenho olhos para outra que não seja você.

Mesmo depois da minha patética crise de ciúmes, ele estava ali, ao meu lado, segurando minhas mãos e me fazendo entender, através de seus olhos nos meus, a veracidade de cada uma de suas palavras.