Segunda Chance

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Respira e anda.

Como um mantra, foquei na repetição dessas duas palavras ao sair do quarto de Regina até alcançar o meu. Andei mais rápido do que costume, não podia arriscar ninguém ver e perceber o pandemônio que dominava minha mente, tenho certeza que meu rosto assustado me denunciaria de imediato. Fechei a porta com certa brutalidade e me joguei na cama pensando no que havia acabado de acontecer.

Droga, eu estava muito ferrado.

De um segundo para o outro, tudo se transformou de provocação e brigas infantis para algo que eu não podia pôr em palavras, nem ao menos conseguia nomear ou entender, mas era algo muito, muito errado. Ao segura-la em meus braços, algo mudou. Pensei por um segundo que fosse uma loucura minha, besteira momentânea, mas eu sei que ela também sentiu, sei que sim. Regina emudeceu quando eu a apertei mais contra meu corpo, sua respiração mudou e seu olhar constrangido não passou despercebido. Tentei voltar para nossa zona de conforto, a provoquei e tudo piorou. Quando a morena virou seu rosto para contra argumentar, ela deixou sua linda face perto, perigosamente muito perto da minha. Pequei ao deixar meus olhos caírem sob a provocante cicatriz em seus lábios, senti minhas veias queimando pela tentação de provar daquela boca. Inferno.

Não pude evitar o desejo que consumia meu corpo e calava minha razão. Naquele instante, não havia nada, ninguém, circustância alguma que alegasse o errado que era sentir o que eu estava sentindo. Confesso que deixei-me levar pelo encanto de seus olhos castanhos também. Aquela mirada doce e forte me deixou hipnotizado, e o mais assustador, os olhos de Regina me deram paz. Uma calmaria dentre a tormenta, como esperança, como uma promessa.

— Oi molenga— Emma invadiu meu quarto com seu humor ácido de sempre, pausando a crise nada racional que se desenvolvia na minha mente —, carregou um pesinho e já tá aí todo exausto jogado na cama, que decepção, nem parece o cara que praticava mil e um esportes na época do colégio.

— Era só arco e flecha, futebol e corrida.

Emma ignorou minha resposta e se jogou na minha cama, deitando ao meu lado como sempre fazia quando éramos crianças.

— Você precisa aprender que uma porta fechada significa que o outro precisa bater para poder entrar. — Ela me olhou rapidamente e riu alto. — Além disso, eu estava aqui todo confortável na minha cama e agora eu estou espremido, sai.

Comecei a fazer cócegas em seu pescoço, o que só serviu para fazer explodir sua gargalhada. Era bem possível que todos na casa conseguissem ouvir o riso escandaloso e contagiante da minha irmã.

Parei o ataque quando percebi seu rosto vermelho. Emma demorou um pouco para se recuperar, ela tentava voltar ao normal o ritmo da respiração ao mesmo tempo que tentava parar de rir. Sorri com sua alegria. Quando saí de casa, ela tinha apenas dezesseis anos, uma menina ainda, agora, ela já era uma mulher formada, independente e segura de si que enchia meu peito de orgulho.

— Eu senti sua falta. — Ela falou quando pôde recuperar o fôlego.

— Até parece, você me viu em Londres faz pouco tempo.

— Sim, eu sei, mas senti sua falta aqui nessa casa.

A melancolia em sua voz era o sinal de que se eu continuasse no assunto, feridas poderiam ser revividas. Emma nunca se conformou com a minha decisão de sair da cidade, ela sabia que havia mais do que a verdade que eu contava. A pequena loira sempre teve o dom de ler meu olhar, ela conseguia saber quando eu escondia algo, quando mentia ou quando fingia estar tudo bem. Mesmo sendo mais nova, por muitas vezes, ela foi o colo que eu buscava quando precisava desabafar ou chorar. Entretanto, as circunstancias daquela noite chuvosa nunca chegaram aos seus ouvidos, bom, não de forma completa. Emma e todos na cidade tinham conhecimento apenas de uma parte da história, a outra, a pior, a mais obscura, eu nunca consegui falar em voz alta, e não sei se algum dia conseguiria.

Hearts CollideOnde histórias criam vida. Descubra agora