Primeiro Encontro - Parte 1

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Escute seu coração.

Era o que dizia a voz em minha cabeça que me fez ir até o gazebo no entardecer daquele dia. A casa mergulhada em um profundo silêncio e escuridão, fazia de meus passos o único sonido ressonado nos corredores. Depois de ter passado a tarde inteira no quarto pensando no que Tinker havia falado, seus conselhos, e acima de tudo no conteúdo de seu sussurro ao pé do ouvido antes de despedir-se, eu desci as escadas pronto para falar com Regina.

Caminhei até seu quarto, bati e chamei por seu nome uma porção de vezes, mas o silêncio que obtive me intrigou. Olhei ao redor procurando algum sinal seu, mas não consegui encontrar nada, tudo parecia exatamente igual. Vazio. Antes de desistir e voltar para o andar superior, vi sua então bagagem recuperada, uma mala média vermelha, encostada na parede interna do hall, próxima à porta. A confusão por aquelas informações sem sentido transformou-se em uma enxurrada de preocupação assim que juntei os pontos. Regina iria embora.

O desespero me fez sair pela porta como um furacão impossível de deter. Eu não podia deixa-la partir, não sem antes saber se era real, se era possível, se era correspondido. Percorri todo o jardim com os olhos, mas também não tive sucesso. Se ela não estava na casa ou pronta para entrar em um carro e partir, onde minha morena estaria? Escute seu coração. Novamente a voz de minha amiga ecoou em minha cabeça, como o grito desesperado de minha consciência, lembrando-me do nosso lugar.

Quando apresentei o gazebo à Regina, eu o dei a ela assim como o meu coração. Naquele momento, deixou de ser somente meu ou dela, tornou-se nosso.

Corri até a parte de trás da casa e suspirei aliviado ao ver sua silhueta de pé na construção de madeira. Regina estava de costas para mim, de frente para o lago, olhando o poente do sol. Naquela tarde em particular, o céu mostrava-se como arte, pintada perfeitamente em degrade colorido, mas toda minha atenção era voltada para a morena que possuía meu coração.

Ainda tentando recuperar o fôlego evadido pela aflição de perde-la e a corrida até o lugar, me aproximei a passos lentos. Regina não se moveu, não parecia ter notado minha presença, continuando assim a contemplar o encanto da natureza, enquanto eu admirava a sua beleza.

Havia tantas palavras a serem ditas, tantos assuntos a serem tratados, mas quando minha boca se abriu a pergunta sobre como ela havia chegado até ali praticamente voou sem que eu pudesse conter. Mesmo assim esperei a resposta que nunca veio, Regina parecia querer não falar comigo ou me ignorar. Continuei andando em sua direção, não desistiria dela. Toquei em seu braço e seu rosto virou-se para mim. Minha morena estava séria, irritada e seu olhar pincelado por lágrimas não derramadas me sinalizaram também sobre sua tristeza.

Quando ela confirmou minhas suspeitas e disse que ia embora, exteriorizei toda angústia sentida e indagações cujas respostas eu odiaria saber, mas precisava. Regina tentou passar por mim, mas eu sempre projetava meu corpo para bloquear seu caminho, a irritando ainda mais. Ela riu irônica quando lhe perguntei o motivo e lançou-me um olhar repleto de ódio ao mencionar o nome de Tinker. Sorri. Minha amiga sussurrou o certo, Regina estava com ciúmes.

Acredite em seu coração.

O resto das respostas dadas somadas à minha certeza sobre seu ciúme fizeram a esperança sobre um amor recíproco renascer. Mesmo meu coração já sabendo a verdade, a maldita razão e seu senso de autoproteção continuavam duvidando, eu precisava ouvir cada uma das palavras sendo proferidas por ela. Necessitava acreditar que meu sonho não era mera ilusão, mas sim uma linda e complicada realidade.

Fui audacioso ao encurtar ainda mais a distância que nos separava e tocar-lhe sua cintura. Regina não me recriminou ou se afastou, então subi minha outra mão para retirar uma mecha de cabelo de sua face, aproveitando para tocar sua pele. Com nossos corpos próximos, quase colados, senti seu calor e cheiro amadeirado emanando de si, além de vê-la ofegante e com a íris alternando entre minha mirada e boca. Questionei mais uma vez e ela por fim disse sem um pingo de dúvida ou negação de seus sentimentos, "eu não posso ficar aqui, nessa casa onde o Daniel nasceu e cresceu, amando outro. Não posso". Os olhos castanhos quase negros encontravam-se com os meus, a conexão que sempre tivemos se fortaleceu, a esperança transformou-se em verdade e a felicidade cresceu em meu peito.

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