Uma luz pálida acometeu meus olhos assim que os abri. Pisquei algumas vezes tentando me acostumar com aquilo, mas o que apenas consegui foi piorar uma dor de cabeça que nem sabia da existência. Em um movimento automático, levei minha mão esquerda à testa para massagear o local, mas ao contrário do que eu esperava, meus dedos percorreram a superfície macia de algo grande o suficiente para cobrir quase toda minha frente. Estranhei. Pisquei novamente tentando entender o que estava acontecendo e foi quando meus olhos, já habituados com a iluminação, notaram, um lugar não muito amplo, delimitado por paredes de cor verde.
Por um segundo, um mísero segundo, a sensação de desconforto pela dor que pulsava em minha cabeça e um princípio de pânico por não saber onde estava ou o que estava acontecendo, foram minhas únicas preocupações. No instante seguinte me vi lutando contra fios que prendiam meu braço direito, dificultando com que eu o erguesse em direção aos meus olhos. Estava deitada e sentindo-me fraca demais para sequer sentar.
As lembranças do pesadelo voltaram a atormentar minha mente com toda a intensidade, assim que consegui concluir meu objetivo. Vendo perfeitamente minha mão, um arrepio percorreu toda minha espinha quando vi sua ausência. A promessa de um futuro. O anel. Meu anel de noivado havia desaparecido como se nunca houvesse estado ali.
Respirar tornou-se uma tarefa árdua demais.
Meu coração batia freneticamente.
Minhas mãos tremiam.
Minha visão estava embaçada por conta das lágrimas, mas mesmo assim pude ver quando a porta foi aberta. Pessoas vestindo branco entraram a passos rápidos, suas bocas se mexiam, falavam algo entre si, falavam algo comigo, mas não os escutava, meu mundo estava rodando e em silêncio. Lancei um último olhar para minha mão antes que tudo escurecesse.
Pareceu terem se passado apenas alguns segundos quando meus olhos se abriram pela segunda vez.
Após repetir o processo de habituação à luz, minha mirada destinou-se até uma mulher de branco parada perto de mim anotando algo em uma prancheta.
— Daniel. — O nome dele foi a única coisa que saiu de meus lábios.
— Oh, senhorita Mills, que bom que acordou. Está mais calma?
De fato, nem meu coração não pulsava freneticamente, nem minhas mãos tremiam. Meu corpo parecia estar anestesiado, preparado para suportar as angustias sem sucumbir a um ataque nervoso.
— Daniel. — Insisti, não queria saber de mais nada.
— Não se preocupe, ele está sendo muito bem cuidado. Logo o Dr. White, o médico responsável por seu caso, vem aqui para conversar com a senhorita. — Ela sorriu e deixou o local sem me dar respostas concretas sobre o estado do meu noivo.
Naquele momento eu já me recordava de cada detalhe do acidente.
Após a batida, o carro foi jogado para o acostamento da estrada. Senti o mundo girando algumas vezes antes do forte impacto do veículo com as árvores que cercavam o local. Lembro de sentir meu sangue escorrendo pelo rosto e dor, muita dor, em várias partes do corpo, a sensação se igualava a ser pisoteada por elefantes; mas tudo caiu para segundo lugar quando virei minha cabeça e vi Daniel desacordado. O filete de sangue que escorria pela minha face, não era nada perto do estado dele. Meu noivo estava todo ensanguentado, com um grande ferimento na parte superior da cabeça e outros menores no rosto, mãos, pernas e peito. Era difícil localizar alguma parte dele que não tivesse sido afetada com o impacto.
O desespero por vê-lo daquele jeito foi maior do que tudo que eu já senti, tinha vontade de tira-lo dali, daquele carro, daquele pesadelo, mas minha razão gritou em meu ouvido para não fazer. Sua cabeça estava caída sob a janela estilhaçada, e só Deus sabe em que estado estava o lado que eu não conseguia ver. Mexer em seu corpo poderia ser um erro, o maior deles.
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Hearts Collide
RomanceAs curvas do destino às vezes nos levam a lugares inimagináveis. Regina Mills, certa de que já havia achado sua alma gêmea vê tudo mudar após um grave acidente no dia de sua festa de noivado. Com Daniel em coma, seu último pensamento era se apaixona...