Significa Liberdade

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― Vocês iam assumir, não iam? ― Emma questionou parando ao meu lado frente a porta branca.

Suspirei fundo e brevemente assenti movendo a cabeça. Minha mirada estava voltada completamente para a entrada daquele quarto, então, não consegui ver o olhar apenado de minha irmã em minha direção, mas podia senti-lo; como se seu compadecimento por aquela situação queimasse a pele do meu corpo, aumentando ainda mais a tensão pelo o que estava por vir.

Uma hora antes.

Frio e silêncio.

O ar gélido que percorreu meu corpo se intensificou pela falta de contato entre nós dois. O toque da sua mão contra a minha começou a se esvanecer ao passo que sua face empalidecia, a distância aumentava conforme os instantes passavam, mas ela não parecia notar. Consciente ou inconscientemente, o meu amor se afastava de mim e eu não sabia se encarava aquilo como reação momentânea ou um sinal do que de fato aconteceria quando os dois se reencontrassem.

Desesperado, segurei sua mão novamente, esperando que o ato a trouxesse de volta para mim, porém, seus olhos continuaram vidrados em um ponto qualquer à nossa frente. Perdidos, longe, como se ela estivesse viajando em um mundo só seu, onde ninguém mais existia, onde eu ou a nossa história não importava.

Medo.

Fui tomado por aquele sentimento e enquanto o restante da minha família se abraçava e comemorava, eu não fui capaz de fazer o mesmo, de me sentir feliz. Meus olhos somente dedicavam-se a ela, observando cada parte do seu rosto para tentar entender o que se passava em sua mente. Todavia, meu anjo continuava não reagindo.

— Regina. — Entrelacei nossos dedos e suavemente comecei a afagar sua pele. Nada. Ela continuava da mesma maneira: imóvel e com a mirada perdida. Olhei ao nosso redor e percebendo que ninguém nos observava, eu arrisquei a inclinar meu corpo mais para perto do seu. — Amor? — Chamei baixo, sussurrando. — Meu amor? — Apertei a palma da mão contra a sua.

Volta para mim, meu amor, volta.

Como se o gesto ou o meu chamado a tivessem puxado para a realidade, ela soltou o ar preso em seus pulmões, respirou fundo e em seguida me olhou. Castanho e azul se encontraram novamente. Meu amor me observou como eu fazia com ela, sua mirada percorreu meus olhos, minha boca e desceu rumo às nossas mãos unidas. Quando ergueu a cabeça, vi algumas lágrimas começarem a dominar seu lindo olhar. Franzi o cenho buscando entender o que elas significavam, mas não tive tempo de interpreta-las, logo Regina apertou nossas mãos em um movimento firme e forte, e em seguida nos separou novamente. Ela havia se despedido?

Com o coração pulsando em desespero e a boca seca, eu a vi se levantar, limpar os rastros molhados no rosto e caminhar em direção a minha mãe; ainda com tudo a minha volta em silêncio e agora acontecendo como em câmera lenta, observei as duas se abraçando e comemorando juntas.

Eu precisava de ar, precisava respirar.

Ergui meu corpo do sofá com certa brutalidade, o suficiente para uma dor chata e fina aparecer na altura do ferimento em meu abdômen. Ignorei aquilo e sai da sala a passos rápidos, quase correndo. Como eu poderia continuar no mesmo ambiente quando todos compartilhavam daquela atmosfera feliz e eu só queria gritar?

O que eu sentia não girava apenas em torno da aflição de perder o amor de Regina, mas, sobretudo, havia culpa também inflando o meu peito. O fato era que meu irmão sobreviveu de um acidente terrível, despertou de um coma e eu era incapaz de me sentir alegre pela sua recuperação. Que tipo de ser humano eu havia me tornado? Daniel era um canalha desgraçado? Sim! Mas ainda era um canalha desgraçado que compartilhava do mesmo sangue que eu, da mesma família e merda, nós crescemos juntos. Por que eu não conseguia encarar aquela notícia da mesma maneira festiva que todos?

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