Imensidão Azul

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Cedi. Depois de exatos doze anos, eu cedi aos persistentes convites para voltar para aquela cidadezinha perdida no meio do Maine.

Apagar Storybrooke da minha mente era meu maior objetivo quando a deixei para trás, o desejo de esquece-la ardia em minhas veias como se cada lembrança da cidade e, principalmente das pessoas, fosse um veneno que percorria meu corpo junto com o sangue e me atacava a cada fechar os olhos. Era doloroso demais ficar. Em cada rua, em cada esquina, em cada pedacinho daquele lugar, eu me lembraria dos bons momentos que vivi ao lado dela, do seu sorriso, dos planos para o nosso futuro, um futuro que nunca existiu.

"Você tem que aprender a lidar com a dor, meu filho" Foi o que a vovó disse quando soube da minha decisão. Abandonar a família e ir morar do outro lado do mundo nunca foi algo de seu agrado. Apesar das minhas tentativas de explicar que Londres não necessariamente ficava no outro lado do mundo e que ela sempre poderia me visitar, não adiantava, ela ainda me olhava como se eu tivesse dito que iria morar em Marte e nunca mais voltaria. Ah, se eu tivesse essa opção, Granny.

Convencer Ava foi pior ainda, seus olhos se encheram de lágrimas no instante que eu disse o motivo pelo qual estava arrumando minha mala. Minha mãe tentou conversar, ouvir, entender, mas percebendo que nada adiantava se desesperou, gritou, brigou, chegou até mesmo a trancar a porta do quarto. Meu único arrependimento em deixar Storybrooke foi ter feito de uma hora para outra, não dei chance nem tempo para que elas absorvessem minha escolha. Odiei ver as duas chorando na porta de casa, odiei saber que quem estava causando tanto sofrimento era eu, mas eu não poderia mais ficar ali, não sem fazer uma besteira. Esperar que elas, em alguma hora, entendessem e perdoassem aquele menino de dezoito anos com o coração partido, era tudo o que eu desejava.

Os dias passaram e elas perdoaram, mas não desistiram, nunca desistiram. Granny e Ava alternavam entre ligações e cartas, com conteúdos que variavam desde saber como eu estava, como estavam indo os estudos, até saber se eu já havia comido ou se lavava a roupa ou se eu estava me protegendo do clima da capital inglesa. "Robin, eu vi na televisão que vai chover aí em Londres, você está levando guarda-chuva e um casaco? Se eu souber que você ficou gripado, menino, eu vou até aí só para puxar sua orelha! " Mesmo ameaçando, vovó nunca foi me visitar. Ok, confesso. Eu nunca falei sobre as minhas gripes, eu não ia arriscar a receber uma irritada senhora de um metro e meio, que com certeza me forçaria a tomar vários litros da sopa milagrosa. Não, muito obrigado.

Apesar de estar longe da minha família, em Londres eu conseguir seguir em frente e me curar. As lembranças não doíam em meu peito como tortura, aprendi a conviver com minhas memórias como se elas fossem velhas amigas, respeitando e buscando me recordar apenas dos bons momentos. Funcionou. Deixei de ser aquele menino fugitivo, para me tornar um homem maduro e um profissional de sucesso. Por isso que aceitei voltar. Passar pela fronteira de Storybrooke mais uma vez seria a última provação do meu processo de evolução. Era o que eu precisava para provar a mim mesmo que o passado havia ficado para trás e nada poderia me tirar do meu centro.

Errado. Obrigado por gritar isso, destino.

Aceitar o convite da Ava foi o certo, mas comecei a duvidar se a viagem era uma boa ideia assim que pisei em Portland. Primeiro foi a frustração de descobrir que minha mala tinha sumido e depois ainda tive que aturar uma louca passando na minha frente e me acusando de roubo. Suspeitei que eu de alguma forma bizarra havia caído em alguma pegadinha e que certamente haviam pessoas rindo da minha cara em algum lugar, mas argumentar isso estava fora de questão. Procurei discretamente e não vi câmera nenhuma, nem sequer um microfone escondido em alguma planta artificial ou quadro, nada. Fora a isso, a louca parecia estar brava demais para uma simples atuação. Das duas uma, ou era verdade ou ela era uma ótima atriz.

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