Promessa

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Engolidos pelo escuro. Não apenas metaforicamente falando, mas descrevendo a realidade daquele quarto. Robin e eu estávamos deitados e abraçados na cama em silêncio, um inquietante silêncio que me fazia ter vontade de gritar, mas eu não gritava. Não usava minha voz para pronunciar as trevas que habitavam meus pensamentos, eu apenas respirava e ouvia o som do seu coração batendo em um ritmo forte, frequente, mas ao mesmo tempo distante.

Desde que desabei em prantos em seus braços no interior daquele carro nada mais foi falado entre nós dois. Nenhuma palavra foi dita durante o percurso até em casa assim como nada foi mencionado enquanto caminhávamos abraçados até o meu quarto. O silêncio se tornou constante, incomodo e complicado de ser afastado. Não sei se era eu, se era ele, se éramos nós ou toda a situação que nos envolvia, mas de certa forma eu me sentia mais pertencente ao breu daquele cômodo, porque mesmo estando deitada em seus braços, sentindo seu cheiro, seu calor, com a cabeça colada ao seu tórax, ouvindo o tum tum tum daquele órgão tão vital para a vida dele, eu o sentia longe.

Talvez a que estivesse distante fosse eu, talvez seja besteira, talvez seja minha mente apenas desorientada pelo despertar de Daniel e por ter ocorrido da forma que aconteceu, talvez seja culpa ganhando voz em meus pensamentos. Existem muitos talvez em nossa história, mas será que algum deles é verdade?

― Eu posso ouvir o som do seu coração batendo ― falei baixo para ele, quebrando o incomodo silêncio que nos envolvia, todavia, não movi minha cabeça ainda presente em cima da sua pele.

Robin parou momentaneamente o carinho que fazia em meus cabelos e, mesmo que não estivesse com os olhos sob ele, senti sua cabeça voltando-se para mim, observando, contemplando ou apenas pensando.

― Ele bate por você ― respondeu, assim como eu, quase sussurrando. Como se nossas vozes fossem ecos altos demais para corromper aquele silêncio que habitava o quarto.

Éramos nós dois, quietos, juntos, mas apenas nós dois.

Robin voltou a acariciar meus fios castanhos, porém não consegui falar mais nada, as palavras ficavam presas em minha garganta, mas gritavam nos pensamentos. Como tudo havia mudado em apenas um dia? Meu mundo foi revirado mais uma vez de ponta cabeça, repleto de incertezas sobre o que veria a seguir. Eu não tinha dúvidas sobre meu amor por Robin, mas morria de medo que esse sentimento não fosse o bastante.

A aflição pela possibilidade de perde-lo apertou ainda mais meu coração, senti lágrimas percorrerem meu rosto sem que as pudesse impedir. Chorei em silêncio, cuidando para que nenhum som triste escapasse de minha boca, não queria que minha dor se transformasse em sua, não de novo.

Desesperada por ele, apertei mais forte meu braço ao redor do seu tronco, o trazendo para mim em um abraço que eu desejava que fosse capaz de calar as vozes da minha angustia.

― Arhg! ― Seu resmungo de dor me fez despertar.

Retirei minha mão de seu corpo rapidamente e levantei meu olhar preocupado em sua direção.

― Ai meu Deus, o machucado ― a voz ainda embargada por causa do choro ganhou também um tom arrependido.

O breu contribuiu ainda mais para o meu desespero, aquele maldito escuro limitava o quanto eu conseguia enxergar de sua expressão. Meu ladrão não pronunciou mais nada além do resmungo de dor e aquele seu silêncio não era o melhor dos sinais.

Desci apressada da cama, o que somado à quantidade de luz que havia no lugar por um triz não resultou em mais um problema para a minha perna quase curada. Meus pés se enrolaram em um pedaço do lençol caído ao chão e por um segundo perdi o equilíbrio. Seria cômico demais se não beirasse a tragédia, Robin possivelmente precisando de ajuda e eu com a perna faturada, de novo. Graças a Deus e a todas as forças do universo, consegui recuperar a estabilidade e então não seriamos considerados o "casal hospital".

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