Brilho

Sangwoo

Como Bum aceitou conversar, deu a ideia de irem em direção a alguma cafeteria, para ficarem mais acomodados. Viu que o moreno ficou constrangido, então o tranquilizou dizendo que poderiam conversar no caminho também.

-Mas... mesmo assim... você está perdendo aula.

-Sem problemas. É por uma boa causa.

-Er... vamos indo, então? – viu que o moreno corou. Era incrível a maneira que corava tão rápido, a pele pálida colaborava com a coloração das bochechas.

Ele... viu naquele garoto um potencial que não sabe explicar. E ao mesmo tempo...

"Eu vejo que o sofrimento dele o consome por dentro e por fora..."

Sangwoo detesta expor seus problemas. Prefere sorrir e ser simpático com todos, e fica calado ao chegar em casa. As pessoas o cercam, o admiram, querem usá-lo de exemplo... mas...

Sente-se sozinho.

A dor e tristeza que sofre pela perda de sua mãe sempre o corroía. Seu pai, amargurado e fora de si, o torturava da maneira que achava melhor. Até que um dia...

-Eu o espanquei tanto... que ele parou de se mover.

Estavam na metade do caminho para o café, enquanto contava sua história para Bum. O moreno parou, e o encarou com olhos arregalados.

-Você... o matou? – falou quase em um sussurro, com medo.

-Sim...

É agora. O que o garoto faria? Correria, o julgaria, sentiria raiva? Parando pra pensar agora, não tem detalhes da vida do rapaz... será que foi errado dizer parte de sua vida tão confidencial para alguém que, talvez, sofresse como ele?

-Eu... bem... liguei para a polícia. E alegaram legítima defesa. Caso você... esteja pensando nisso.

-Não, eu... – Bum suspirou. – Sinto muito, pela sua situação. Sei que não é fácil.

Deu um suspiro aliviado. Quer perguntar ao garoto o que passou também, mas prometeu que falaria de si, para que o garoto tivesse espaço para se abrir aos poucos.

"Um passo de cada vez, Sangwoo. Um passo de cada vez. "

Voltaram a andar, em silêncio, até chegar no café. Óbvio que não havia falado com Seungbae, como contou à Bum. Mas não queria pensar nisso agora.

Pediram um café expresso, para continuarem a conversa.

-Então... eu não sei bem como me sinto em relação a isso. – o loiro continuou. – Mas... às vezes essas lembranças me assombram a noite... eu não consigo nem levantar da cama quando tenho pesadelos fortes. Preciso reunir forças e encontrar motivos para levantar no dia.

Começou a ficar sem graça por contar isso. Não sabia como, mas estava se sentindo a vontade com o moreno, e queria que ele se abrisse mais. Sentia que podiam compartilhar grandes coisas, não somente suas dores ou preocupações. Acha que se expor vai fazer o moreno falar mais.

-E quando vejo o futuro que estou formando... penso se sou merecedor disso tudo. Eu penso em desistir várias vezes, mas acho que minha mãe não gostaria que eu fizesse isso... – abaixou um pouco o olhar, passando a mão pela nuca. – E é por isso que... eu... – levantou um pouco o olhar, vendo o garoto o olhar espantado. – Acho que você tem um futuro brilhante. Você... pode não querer me contar o que aconteceu com você, mas vejo que sofre tanto quanto ou até mais do que eu. Passamos por processos difíceis em nossas vidas... eu não quero que desista de tudo. Você entende?

Fitou o moreno, que estava mudo com a boca entreaberta e com olhar espantado. Falou demais, mas acha que conseguiu o efeito que queria. Será que conseguiu passar a mensagem que queria? Será que o garoto estranharia seus pensamentos confusos que nem ele entende em boa parte dos casos?