XXIII - Visitas Inesperadas (Primeira parte)

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Na taberna onde Ryan havia passado a noite na companhia de Kharis, começava a mostrar algum movimento logo na parte da manhã. A velha madeira que compunha o edifício transmitia com grande facilidade as conversas que se faziam ouvir na cozinha e no balcão no andar de baixo. Os clientes começavam a chegar lentamente, caminhando ao longo do corredor velho e bolorento preparando o cobre para satisfazer a sede naquela que era uma cerveja relativamente boa.

O jovem vampiro que fora o último a deitar-se deles os dois, ficou algum tempo mais mas não a dormir, visto que os vampiros não dormem. A sua mente divagava numa série de imagens que tivera a noite passada. Parecera-lhe tão real e lúcido. Tudo á sua volta parecia ser apto para o toque, os sabores eram doces e calmos, assim como a pessoa em questão era-lhe conhecida.

Firefang surgira-lhe naquele frenesim psicológico, que tivera tudo de estranho e confuso. Ela estava calma e com o seu doce sorriso no rosto, mas os seus movimentos pareciam um pouco agitados. Tentou naquela hora tocar nela ou saber o que se passava, mas não se conseguira mover do local onde estava. A única coisa que saía da boca dela, fora uma frase que o deixara pensativo não percebendo qual seria o seu significado.

-"Eles vêm ai".

A frase embora pequena, não lhe conseguia sair da cabeça, deixando-o ausente do ambiente que o rodeava. Como prova desta sua ausência, Ryan nem havia notado que Kharis não estava naquela divisão.

Alguns segundos depois, a porta do quarto abriu-se calmamente de onde ela apareceu, mas mantendo-se com aquela expressão carrancuda. A pequena discussão que tivera no dia anterior não havia passado., e os efeitos ainda pareciam estar presentes.

- Bom dia. - cumprimentou Ryan tentando quebrando o gelo.

- Bom dia. - Kharis usou um tom frio e afastado.

- Vais continuar chateada comigo? Eu já te disse que não o fiz de propósito.

Sem lhe dar resposta á pergunta que o rapaz fizera, a vampira arrumou o quarto com rapidez parecendo que estava com pressa para ir a algum lado.

Fez a cama, endireitando os lençóis da cama, colocou a almofada no centro da cabeceira e fechou por último a janela. Ryan sentiu-se incomodado por estar a ser ignorado. Antes de sair do quarto, ele agarrou no pulso dela não a deixando sair.

- Vais ignorar o teu futuro rei?

- Rei? - ela esboçou um sorriso acenando a cabeça não acreditando no que ouvia - Podes ser o herdeiro ao trono, mas ainda te falta muito para eu sequer aceitar que és meu rei. A tua inexperiência ontem só veio confirmar o que te eatou a dizer.

- Sera possível que não me possas dar um desconto? Isto é tudo novo para mim, eu não sei o que se está a passar com o meu corpo. Sinto imensa fome, tenho um turbilhão de sensações novas, tenho de aprender a controlar o meu comportamento, nada disto é fácil para mim.

- E achas que é para mim!? Se queres um desconto, procura um mercado que eles dão-te. - respondeu-lhe num tom de voz mais elevado exibindo os seus olhos vermelhos agressivos - Eu tive de deixar a minha familia para procurar por ti. Não os vejo á quatro meses. Os únicos que me fizeram companhia foram os casacas negras que tu, a tua irmã e a rainha das raposas mataram. Arriscámos tudo para te ir buscar, para te ir salvar de alguém que planeava matar-te, e tu dizes que isto não é fácil para ti!?

Ryan baixou a sua cabeça, sabendo o quanto ela tinha razão. Por momentos desenhou-se na mente dele todo o cenário pelo qual ela havia passado. O clima abrupto, o facto dela estar afastada da familia sem o carinho deles para a amparar numa viagem tão dolorosa. Deve de ter sido realmente difícil para aquele ser que mesmo sendo imortal, demonstrava fer frágil e belo. Tudo um conjunto de adversidades que ele não podia ignorar, mas que ele havia passado igualmente quando ainda era um mero mortal.

O Rei Vampiro - As Relíquias PerdidasOnde histórias criam vida. Descubra agora