#ANDRE
Visto o casaco do meu filho e dou-lhe um beijo na testa.
AFONSO: Onde vão? - aparece no hall de entrada.
EU: Vamos até à praia!
AFONSO: Obrigadinho pelo convite! - revira os olhos no gozo.
EU: Não te convidei porque eu e a Ana vamos ter uma conversa!
AFONSO: Meu deus. A sério??? O meu otp vai voltar??? - mete as mãos na cara.
EU: Era bom! - sorrio.
SIMAO: Adeus! - acena com a sua pequena mãozinha ao tio Afonso.
AFONSO: Adeus campeão!
Saímos de casa e fomos para o meu carro. Prendo o meu filho na cadeirinha e sigo viagem para a praia. Faltavam uns cinco minutos para as 16h00. Peço um mini milk para o Simão e para mim uma garrafa de água.
Ao longe vejo a Ana a vir. Ajeito-me na cadeira e cumprimento-a assim que chega perto de nós.
ANA: Olá meu amor! - pega no Simão ao colo. - Portaste-te bem?
EU: Ele porta-se sempre bem! - sorrio.
ANA: Tem dias! - gargalha.
EU: Ahaha vais querer alguma coisa?
ANA: Aceito um café!
Chamo o empregado e peço então o café.
EU: Admito que estou ansioso para saber o tema da conversa! - digo um quanto nervoso.
ANA: Ainda bem que estás ansioso porque é um tema que temos mesmo de puxar!
O café chega e ela começa por o beber.
ANA: Há pouco tempo soube de uma coisa sobre ti que não gostei nada! - fiquei ainda mais nervoso. - Que ideias tens tu na tua cabeça André?
EU: Como assim?
ANA: Queres que o Simão cresça sem pai? Queres que toda a tua família ande por aí a chorar por causa da tua perda?
EU: Onde queres chegar com isso?
ANA: Porque é que te quiseste mandar da ponte D.Luis? - olha-me nos olhos.
Fico calado. Não sabia mesmo como lhe responder.
ANA: Não me venhas dizer que é só por não estarmos juntos. Tu tens aí outro problema qualquer que te anda a atormentar!
EU: Eu estou bem… - digo quase num sussurro.
ANA: Não estás nada André. Uma pessoa que quer acabar com a sua vida não está bem!
EU: …promete-me uma coisa...
ANA: O quê?
EU: Aconteça o que acontecer não te afaste de mim! - uma lágrima sai.
ANA: O que vais fazer André? - pergunta preocupada.
EU: Por favor promete! - fecho os olhos para conter as lágrimas.
ANA: Eu…eu prometo. Mas quero que me prometas também uma coisa! - segura a minha mão. - Quero que fales comigo para eu te puder ajudar. Por favor!
Encaro-a com os olhos totalmente vermelhos.
EU: Eu prometo mas não te posso contar aqui!
#ANA
Caminhamos pelo areal a fora. O Simão fazia as nossas delícias. Estava sempre de rabo no chão.
ANDRÉ: No dia em que assinamos o divórcio eu fui para um bar. Bebi tanto que eu já não me segurava em pé. Havia muitas pessoas e a música estava mesmo muito alta. De repente ouço um enorme estrondo. O som da música deu lugar ao som dos gritos das pessoas! - o seu olhar estava fixo no fundo do mar. - Todos estávamos abaixados com as mãos na cabeça. Era um atentado terrorista!
EU: E depois?
ANDRÉ: Depois eles começaram a dar tiros em pessoas aleatórias. Eles eram cerca de uns 5 e houve um deles que me reconheceu por ser jogador de futebol. O pior aconteceu depois... - fecha os olhos.
EU: Se quiseres parar podes parar. Eu não te obrigo a nada!
ANDRÉ: Eu quero continuar! - respira fundo. - Todos em minha volta começaram a ser mortos a tiro…menos eu. Um deles falou em inglês que a vida deles tinham sido sacrificadas por mim. Aquelas pessoas foram obrigadas a dar as suas vidas por minha causa! - começa a chorar e a soluçar.
EU: Meu deus…eu lembro me de ouvir falar desse ataque. Eles disseram que não houve nenhum sobrevivente!
ANDRÉ: Eu pedi para não falarem que eu lá estive. Quando a polícia os matou eu falei com eles e deixaram me sair pelas traseiras para não ser visto! - limpas as lágrimas e respira fundo.
EU: …tu devias desabar com alguém!
ANDRÉ: E já desabafei. Contigo! - sorri fraco e encara-me.
EU: …fogo André! - levanto-me do areal. - Porque tornas as coisas tão difíceis? - meto as mãos na cabeça.
ANDRÉ: Como assim? - levanta-se igualmente.
EU: Ainda ontem eu não te podia ver à frente e hoje estou aqui a falar contigo na boa…tu estragas-me o psicológico!
ANDRÉ: Eu…eu percebo que não me queiras ver e que é um sacrifício teres de falar comigo mas…eu estou muito arrependido do que eu fiz!
EU: Não é um sacrifício eu ter de falar contigo. O problema é que eu sempre que te vejo o meu coração ainda palpita mas sempre que penso…só me lembro de ti com aquela loira na nossa cama! - grito a última parte e começo a chorar.
ANDRÉ: Não sabes o quão nojento me sinto! - baixa o olhar.
SIMÃO: Mamã, papá! - aparece Simão com uma concha na mão.
EU: Que linda meu amor! - beijo a sua testa.
ANDRÉ: Vamos andando? Já está a ficar fresco!
Assinto com a cabeça. Pego no Simão ao colo e caminhamos até aos nossos carros.
ANDRÉ: Obrigada por esta tarde! - sorri.
EU: Não tens que agradecer. Nós precisávamos desta conversa. Deste tempo para meter os assuntos em ordem! - sorrio fraco.
Despedimo-nos do André e cada um entrou no seu carro. Segui viagem sempre com o André na minha imagem. Sempre que olho para ele só o imagino a fazer o que ele mais anseia..matar-se. Custa tanto mas tanto admitir até porque o orgulho é enorme mas…eu ainda o amo.