Fuga

593 78 71
                                    

Alice acordou com um som baixo. Pensou que fosse seu alarme e que ao abrir os olhos veria o teto de seu quarto, em sua casa, na Terra. Um sorriso brotou em seus lábios ao pensar que tudo aquilo fora um pesadelo e que ela tinha voltado da missão na Estação sã e salva.

Então ela sentiu falta de ar e seus olhos se depararam com a escuridão do esconderijo improvisado na Área de Residência. Seus olhos demoraram alguns segundos para se acostumar com a falta de luz. Quando ela conseguiu distinguir os contornos do ambiente, levou um susto e se levantou bruscamente. As "raízes" do ser que segurava sua porta estavam quase tocando seus pés. Então sentiu a pontada de dor em sua perna por tê-la movido tão bruscamente e gemeu, frustrada.

Com dificuldade pegou o cano de metal ao seu lado e habilmente moveu as raízes da coisa para longe de si e do painel, que parou de soltar faíscas. Com muito cuidado e atenção, Alice apertou os botões do painel e a porta se deslizou para o lado com muito barulho. A cientista ouviu o som de garras arranhando o metal e se preparou, segurando um enorme caco de vidro. Quase naquele momento, um dos seres com uma forma humanóide em meio a tentáculos de uma substância escura pulou na direção dela.

Alice procurou desviar, mas a criatura mexia-se rápido demais e a decrescente gravidade fazia os seus movimentos ficarem mais lentos. Com o movimento de um dos tentáculos, o caco de vidro voou das mãos dela e ela ficou indefesa. Os outros se enrolaram nela e a imobilizaram. Ela tentava se mexer, mas era em vão. A substância começou a crescer pelo seu pescoço.

Então ela conseguiu soltar seu sapato, que voou e acertou seu cilindro de oxigênio de emergência, soltando o fecho. Instantaneamente o gás começou a vazar e a encher a sala. Isso fez a criatura ficar atordoada e soltar Alice. Rapidamente, Alice pegou seu caco de vidro e cravou-o no que deveria ser a cabeça da criatura. O ser guinchou e se contorceu, mas acabou caindo no chão, inerte. A estranha substância se soltou do corpo humano e começou a subir para a ventilação.

— Não, não, não, não... - dizia Alice, tentando, em vão, conter aquilo antes que chegasse aos tubos de ventilação.

Mas seu oxigênio continuava vazando e ela resolveu ir tentar fechar o cilindro. Quando conseguiu, toda a substância escura e viva tinha subido pela parede e desaparecido na escuridão do tubo de ventilação. Ela fez uma expressão irritada que logo foi substituída por uma de medo ao ouvir os sons que vinham do corredor.

— Droga! Ele chamou reforços!

Alice pegou suas coisas rapidamente. Então ela virou-se para o corpo ali. Estava morto, sem dúvida. O fato de a gosma escura ter deixado-o poderia significar que ela precisa de um ser vivo. Mas por quê?

O som da aproximação das criaturas foi ficando maior. Alice segurou no "cabo" do caco de vidro e o retirou do corpo rapidamente. Ela sentiu um estranho formigamento em seu estômago, o que concluiu ser apenas fome. Então virou-se para a saída e correu para fora. Um grande erro.

Do lado de fora, criaturas como aquela de tentáculos tentavam derrubar a barreira improvisada que ela havia feito. A barreira não ia aguentar muito tempo e ela sabia disso. Mas, quando virou-se na direção contrária, ela viu um monstro que era diferente de todos os outros.

Ele era feito completamente daquela substância escura e ficava maior a cada segundo na medida em que mais substância ia chegando pela ventilação. Era quase humanóide, de certa forma. Tinha pernas e braços enormes e finos. Seu tronco era só um pouco mais grosso que os membros. Mas o mais perturbador era o que deveria ser a cabeça. Ela era oval e, no lugar do rosto, tinha um risco transversal onde se dispunham três olhos vermelhos de tamanhos diferentes. Um risco ia de um lado a outro da cabeça representando sua boca, que se abriu, mostrando dentes afiados e soltando um som grave semelhante a um rosnado.

Isso pareceu ter dado forças aos seres que tentavam passar pela barreira, de modo que eles conseguiram quebrá-la de vez. Cercada de monstros, Alice imaginou que estava perdida. Porém o novo monstro pulou sobre as criaturas e matou uma a uma usando apenas suas mãos. A substância escura se soltou dos corpos e foi em direção a ele, que pareceu aumentar e ficar mais forte.

Alice não acreditava que fosse pura bondade da criatura, então se levantou e procurou correr, ignorando a dor. Ela correu muito e conseguiu chegar perto do final daquele módulo. Então parou, ofegante. Na sua frente, uma poça de substância escura e espessa como nanquim começava a se formar. A cientista pulou sobre a poça e conseguiu chegar ao outro lado. Porém a porta não abriria rápido o suficiente.

Alice ficou de costas para a porta e viu, para seu horror, o monstro quase completamente formado. Ele esticou seu imenso e fino braço até ela.

— Não! - gritava Alice entre lágrimas enquanto a mão enorme dele envolvia seu pescoço e começava a apertar.

A porta finalmente se abriu, mas a mão da criatura era muito forte. Seus dedos finos como lâminas começaram a machucar o pescoço da cientista. Ele a ergueu lentamente, fazendo-a ficar na sua linha de visão. Um som agudo começou a sair de sua boca e Alice sabia o que era aquilo. Ela ficaria inconsciente de qualquer forma, pela falta de ar ou pelos sons estranhos e hipnotizantes.

Com muito esforço, Alice pegou seu caco de vidro da bolsa aberta e cortou o braço fino dele, fazendo-o soltá-la. Mas ele não parou de fazer os sons estranhos. Deveria ser mais forte que os outros seres. A cabeça de Alice ficou pesada e ela sabia que desmaiaria em breve se não fizesse alguma coisa. Então gastou sua última força de vontade e correu para o outro lado, para a saída, fechando a porta em seguida. Ela viu a mão cortada voltar ao seu lugar e a criatura pareceu sorrir sinistramente para ela. Assim que a porta se fechou, Alice desmaiou.

_______________________

E é isso, pessoal! Espero que tenham gostado. Se gostou, vote no capítulo e deixe seu comentário 😉

O que será que vai acontecer com a Alice? Descubra acompanhando a história.

______________________

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora