Diário de bordo 090520

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Click.

Ainda estou aqui.
Eu.
E a solidão.

Chiado.

Lance não deu as caras, Mira não responde meus chamados e...

Tump. Tump.

Droga!

Tlec. Tumc!

E esses bichos ficam tentando entrar pela ventilação.

É terrível, mas é a única coisa ocupando meu tempo agora.

Sabe, há três entradas diferentes pela ventilação até aqui. Como o oxigênio dessa secção já acabou, preciso pegar o que resta em outras secções, o que só é possível pelas pontes. Só que toda vez que eu abro uma entrada de ar para receber esse oxigênio...

Chiado. Tump. Tump.

Eles ficam aparecendo.

Tlec. Tlec. Tumc. Guincho.

Tive sorte até agora. Fecho as entradas no exato instante em que eles vem correndo para entrar e tudo o que sobra é o som do choque contra o metal.

Infelizmente não passa de um jogo de azar, uma aposta com esses aliens. Tudo depende de até quando minha sorte vai me manter e eu espero que seja até os outros voltarem.

Eu não sei o que Lance pretendia sumindo daquele jeito dramático ou o que Alice tinha em mente para sair escondida e sozinha, mas espero que Mira ache os dois e os traga pra cá logo.

Tumc. Tumc.

Enquanto a saturação estiver boa, não preciso abrir a entrada.

Chiado.

Sabe, isso me lembra um jogo que eu conheci na Terra, quando era garoto. Se chamava "Sete noites no Olga's". Ah, os velhos tempos... Era realmente assustador. Talvez não tanto quanto a guerra civil que estava na Alemanha do Norte, mas ainda assim me trazia pesadelos.

Era sobre uma grande loja protegida por um sistema de segurança com inteligência artificial que controlava os robôs assistentes para eles protegerem o lugar à noite. Mas aí alguém colocou um vírus no mainframe e o sistema começou a atacar pessoas mesmo de dia.

No jogo, você controla um robô que deve garantir que o sistema faça todas as tarefas pendentes enquanto tenta não ser pego pelos outros robôs defeituosos. Você tinha que realizar várias tarefas nas várias partes da loja, como mandar os robôs assistentes arrumarem os produtos ou fazer uma disposição correta dos detectores de movimento para pegar ladrões e para saber se os outros robôs estavam se aproximando de você.

Era muito bom!

Chiado.

No fim, independentemente de ter vencido os níveis, após as sete noites, você descobre que você era o robô com o vírus e os que tentavam te atacar estavam tentando acabar com a ameaça.

Eu não sei o que acontece depois do final, já que todas as empresas de entretenimento faliram durante a grande crise econômica de 99. Parece que, há alguns séculos, o governo americano desconsiderou por tempo demais a situação ambiental.

Aí agora, nós, exploradores do espaço, temos que ficar procurando algum lugar para manter a existência humana.

Isso não parece trágico? Nós só nos multiplicamos e morremos, seguindo comportamentos cíclicos que destroem e reconstroem as coisas independente da vontade dos outros para no fim isso não ter adiantado de nada. Absolutamente nada vai impedir o fim da raça humana. Toda espécie um dia acaba ou evolui e se torna outra que vai conseguir sobreviver.

Mas e nós? Nós evoluímos? Se sim, por que continuamos seguindo os padrões? Por quê?

Chiado. Tump. Tump.

Eu já não sei de mais nada. Esses... Pensamentos tristes me perseguem no isolamento que é Primux.

Eu odeio isso.

No século XXI, diziam que era por causa da falta de vitamina D. Talvez estivessem certos. Não é como se eu estivesse em algum spa, pegando sol.

Suspiro.

Eu estou preocupado com Alice. Ela é uma parte das minhas memórias e eu não consigo... Não consigo resolver o enigma que ela traz.

Tumc. Tumc. Tumc.

Nossa, quantas batidas.

Tumc. Tumc. Blam.

O que... Aaah...!

Creck.

Erro ao salvar arquivo.

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora