Diário de bordo 170420

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Nuvens.

Aglomerados de moléculas de água em estado gasoso levemente condensado.

Sinto falta delas. Faz muito tempo que vi uma. Provavelmente não verei outra mais uma vez.

Mas isso não importa agora.

Tosse.

Nossa... Esse foi o começo mais melancólico que já fiz... Acho que isso acontece quando você percebe que seu fim é inevitável...

Suspiro.

O sobrevivente que encontrei anteriormente teve uma... Crise. Não sei bem o que é essa "doença" ou seus efeitos, mas, aparentemente, eu tenho algum grau de imunidade, porque não desenvolvi esses sintomas depois de ser atacada. Ainda é cedo para marcar minhas teorias como certezas, mas preciso registrar minhas observações.

Passos. Som de pano sendo levantado. Bipes em ritmo constante. Tosse forte.

O "paciente" e objeto de observação é Ryan. Deve ter uns trinta anos, tem pele num tom de marrom claro, cabelos escuros e olhos castanhos, como já registrado. Sua temperatura está alta e ele está num estado febril preocupante. Sua respiração parece estar sendo dificultada por algo e seus pulmões chiam. Ele está ficando mais pálido a cada hora que passa e veias escuras estão se destacando por todo o seu tórax, se alongando a partir do ferimento. Por causa disso, suspeito que deva ser uma espécie de infecção. As pupilas estão dilatadas e os batimentos ora estabilizam ora se reduzem. Diagnóstico inconclusivo...

Suspiro. Tosse.

Suspeito que seja o mesmo mal que acometeu o almirante. Eu gostaria de sair, ver o corpo dele novamente e tentar descobrir algo mais, porém não quero deixar Ryan sem supervisão. Por isso estou tentando me virar com o que tenho aqui.

Som de vidro trincando.

Andei recolhendo amostras do sangue de Ryan para procurar... Não sei... Comprovar minha teoria de poucos fundamentos...? Francamente, não sei o que estou fazendo. Eu comparei a amostra que eu havia tirado anteriormente com a atual e a única mudança que pude notar de imediato foi a redução enorme de plaquetas e o aumento do número de hemácias que sofreram lise celular, o que pode explicar a febre, a palidez e a dificuldade de cicatrização.

Suspiro.

Queria saber o que tinha acontecido comigo quando fiquei inconsciente depois de ser ferida também por aquele monstro. Eu poderia descobrir algum padrão além do que posso presumir a partir de minhas observações e experiências. Talvez pudesse descobrir o que de fato houve depois que aparentemente fui atacada por Nancy - considerando que o que vi era uma memória, é claro.

Mas infelizmente a vida é injusta.

De qualquer forma, quando Ryan acordar... Se ele acordar... Vou passar novamente no escritório do almirante para pegar amostras e... Oh, meu Deus! O que é isso?! Está saindo de dentro dele! Está...!

Grito. Som de baque. Vidro trincando. Erro de transmissão.

.

..

...

....

Click. Respiração ofegante.

A situação piorou e... Saiu um "pouco" do controle.

Respiração ofegante. Tosse. Som de baques.

Alguns minutos atrás o estado de Ryan foi para um nível acima do que eu posso lidar.

Grunhidos inumanos. Som de socos.

Acho... Acho que isso comprova algumas de minhas teorias... E eu preciso gravar isso caso... Caso ele fuja... Ou caso eu não consiga resolver esse problema. Acho que vou morrer em breve, considerando a alta probabilidade de os dois ocorrerem.

Som de vidro trincando.

Com base no que vi, acredito que as partículas que eu vi no corredor, devido à sua estrutura, sejam uma espécie de esporos, como com os fungos. Esse "esporo" se desenvolve em matéria orgânica e, por se fixarem principalmente nas formas de vida predominantes aqui na estação, eles tem uma sensibilidade aos níveis de oxigênio. É como eu consigo explicar tudo pelo que eu passei.

Quanto à tenebris e como se desenvolveu... Tenho muitas dúvidas, por isso pode soar vago. Essa matéria deve ter uma espécie de consciência ou organização em colmeia, já que parece seguir aquele ser. Não o vi ultimamente, mas ele parece ter total controle sobre tenebris. Por isso acredito que ele seja uma espécie de "rainha", o que explicaria o fato de ser tão forte.

Quanto aos "humanos mutantes", percebi que a tenebris altera o comportamento das células, gerando um aumento desordenado do número delas, o que eu imagino que, num organismo vivo, forme outras estruturas, como as garras que humanos naturalmente não têm. Por algum motivo, precisam que os seres vivos dos quais se "apossam" estejam vivos, porém inconscientes, abandonando-os quando morrem.

É uma teoria que pode explicar tudo o que houve até agora, mas ainda não consigo decifrar como eu estou bem...

Tosse.

Relativamente falando, claro.

Ainda assim, eu não mostrei nenhum sintoma parecido com os visíveis em Ryan ou em Meliès. Minha temperatura está normal, assim como todos os meus outros sinais vitais. Minha amostra de sangue não mostra a presença de mais nada além do que devia haver.

Tosse.

A única coisa ruim é essa tosse. Mas acho que é apenas problemas de garganta, já que não ando bebendo muita água e o ambiente está constantemente frio.

Piiii... Pi... Pi... Piiiiii... Pi... Pi...

Grunhidos. Som de baques.

E quase me esqueci de dizer a respeito de Ryan.

Receio que, segundo minha teoria, a tenebris esteja invadindo os sistemas dele novamente. Mas não sei como parar isso. Talvez se eu descobrir uma forma de mantê-lo consciente para que ele resista... Eu não sei... Estou fazendo vários testes aqui com as amostras de sangue dele para ver se algo é capaz de "matar" ou inativar os esporos, mas não faço ideia... Céus! Ele está quase quebrando a barreira que fiz para minha proteção! O que eu faço?!

Baques mais fortes. Som de vidro quebrando.

Droga, droga, droga, droga, droga...

Guinchos. Som de coisas caindo.

Não, não, não, não, não...

Guincho. Som de garras batendo no metal.

Ryan... Não...

Silêncio. Respiração ofegante.

Por favor... Volta...

Guincho. Rugido.

Ah!

Som de metal quebrando.

Crek. Erro de transmissão.

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E então? Como vocês estão? O que será que aconteceu? Ryan voltará? Descubra no próximo capítulo! 😉😊

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