Arremate

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Ryan abriu os olhos de repente. Olhou para a bateria sobre a mesa, montada. Suspirou. Tinha cochilado? Talvez não só Alice estivesse precisando descansar.

Parou. Tossiu e tentou respirar fundo. O ar estava faltando. A visão começou a ficar embaçada. Só então ele percebeu o que estava acontecendo. Correu até o traje com desespero e começou a vestí-lo às pressas.

— Ryan! - Alice gritou, alarmada, entrando no lugar.

Ela estava com seu traje e parecia ofegante.

— O oxigênio acabou.

— Já percebi. - respondeu Ryan, respirando de forma ofegante dentro do capacete. - Acho que nós não temos mais tempo, não é?

Alice fez uma expressão triste.

— Consertou a bateria?

— Na verdade...

— Não tinha problema nenhum. - completou Alice, cruzando os braços. - Certo?

— Bem... Sim. Como sabe?

Alice desviou o olhar.

— Era só um pequeno problema de interferência... Não vai mais nos atrapalhar. - ela voltou a olhar para ele. - Temos que ir logo. Meu "conserto" não vai se segurar pra sempre.

Ryan olhou para a tela do capacete.

— Está... Quente?

— Eu religuei o aquecimento central. - explicou Alice. - Mas só dura mais... - ela olhou para o tablet em suas mãos. - Dez minutos. Temos que ir logo!

Ryan suspirou e saiu correndo atrás de Alice pela porta do esconderijo. Correram pelos corredores, apressados. Ryan carregava a bateria inteira e Alice levava o tablet que controlaria o trajeto. Na outra mão dela estava seu gravador com toda a pesquisa sobre a tenebris.

Subitamente houve um estrondo. O mundo entortou para um lado e luzes vermelhas começaram a piscar por todo lado. Tudo começou a tremer e os humanos foram jogados no chão.

— Droga... - murmurou Ryan, se erguendo com dificuldade. - Acho que os transmissores de calor não aguentaram. - ele encarou Alice com um pouco de irritação. - Eu não tinha avisado sobre a possibilidade das coisas explodirem se o aquecimento central fosse reativado?!

Alice gemeu, se levantando.

— Não importa. - disse a mulher, indo adiante no corredor. - Temos que sair daqui. De preferência ANTES que tudo exploda.

— Concordo. - respondeu Ryan, indo atrás da mulher.

Com dificuldade, eles andaram até chegarem à entrada do hangar. Abriram a porta com dificuldade. Tudo brilhava em vermelho.

Um arrepio percorreu sua nuca.
Alice se virou, preocupada.

As luzes piscaram e uma mancha escura surgiu nas paredes. Os alarmes piscaram novamente e a mancha ficou mais próxima.

Alice arfou e fechou a porta do hangar atrás de si. Ela encarou a poça viva com seriedade. Provavelmente a porta só ia atrasar a tenebris por pouco tempo. Voltou-se para o caminho. Ryan já seguia em frente na plataforma. Rapidamente ele entrou no módulo. A cientista seguiu atrás dele, ouvindo atrás de si o som da criatura se chocando violentamente contra a porta várias vezes.

O vidro da porta se quebrou de supetão. A tenebris pulou para dentro do hangar.

Alice começou a se desesperar. Ela paralisou.

— Ryan! - gritou Alice, vendo a poça se aproximar de seus pés lentamente.

— Estou quase! - gritou ele, se desesperando.

O engenheiro encaixou a bateria com urgência e fechou o painel. As luzes se acenderam por dentro da cápsula, criando um padrão geométrico por todo o interior. Alice olhou para trás, na plataforma, com desespero. A poça de escuridão já estava muito próxima da nave. A fuga podia acabar mal.

Alice suspirou. Precisaria fazer algo a respeito. Só ela podia fazer algo a respeito naquela situação. Com seu dedo, traçou cuidadosamente o caminho na tela e clicou.

— Estou ligando o módulo! - gritou Ryan. - Traz o tablet!

Ela foi para a frente da porta, mas não entrou.

— Vem, Alice! Entra logo! - gritou Ryan, vendo a poça de tenebris anormalmente perto.

Ela sorriu, triste, e colocou seu gravador na mão de Ryan.

— Desculpe. - sussurrou ela, apertando um botão no tablet.

A porta do módulo se fechou e Ryan ficou encarando Alice pela pequena janela de vidro, sem entender o que estava acontecendo.

— Eu... Não vou com você. - disse ela, colocando a mão no vidro.

— Alice, o que você está fazendo?! - gritou ele, apertando todos os botões do painel para tentar abrir a porta novamente.

— Não vai adiantar. - disse ela. - Eu cancelei o controle manual. Você vai chegar em segurança e sem interferências.

— Alice, por... Por quê? - ele perguntou, colocando sua mão do sei lado da janela.

Alice deu outro sorriso triste, olhando para o corredor se iluminando aos poucos.

— Eu estou infectada, Ryan. - disse ela. - Se eu voltar, vou começar uma epidemia com um ser vivo de outro ambiente que está sem predador. Seria um desastre.

— Mas e a sua filha?!

— Eu fiz isso justamente por ela. Não posso deixá-la em perigo desse jeito. Eu... Eu deixei meu gravador aí.

Alice arfou enquanto a tenebris cobria metade de seu rosto por dentro do capacete.

— Preciso que o leve para a minha filha. - Alice olhou novamente para o fim do corredor, vendo a luz se aproximando lentamente. - Eu queria ter tido mais tempo.

A cientista encarou o engenheiro com tristeza.

— Foi uma honra conhecer você, Ryan Hamilton, técnico da NASA.

— Alice, espera...

Mas, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Alice apertou um botão no tablet e a cápsula foi lançada para fora de Primux com grande aceleração. Ryan se chocou contra as paredes por causa da força de reação.

Ele usou todas as suas forças para chegar à janela de vidro. Por ali ele viu a escuridão do espaço e Primux ao longe, uma miniatura diminuindo conforme ele se afastava.

A superfície da porta ficou quente com a entrada na atmosfera.

Ao longe, o pontinho que era Primux brilhou e cresceu. A estação espacial mais futurista do próprio século tinha explodido, seus pedaços se juntando ao entulho espacial que orbitava o planeta Terra.

— Alice... - murmurou Ryan, antes de chocar sua cabeça contra a parede metálica e perder a consciência.

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora