Reuniões

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"Hipoxia: estado em que não há oxigênio suficiente nos tecidos para manter as funções corporais. Geralmente se dá quando a porcentagem de oxiemoglobinas no sangue é de 70%."

Mira pensou nesse trecho do livro de fisiologia quando olhou novamente para o mostrador do nível de oxigênio em seu sangue. 73%. Isso era ruim. A falta de ar e a tontura já se pronunciavam. A morte estaria a meio caminho se ela não colocasse mais ar no traje.

— Preciso... De mais ar. - ela arfava. - Lugar... Seguro... - Mira apontou fragilmente para o outro cilindro. - Sem o gás... Agora!

Alex moveu as mãos, mostrando que tinha entendido. Olhou do lado de fora do buraco na parede e chamou Mira com gestos. O desconhecido então a guiou pelos corredores. Após uma longa caminhada, pararam na frente de uma enorme barricada de entulhos. O estranho se aproximou e tirou uma placa amassada da frente, revelando um buraco através do "muro". Apontou para o túnel de forma enfática.

— Entendi. - disse Mira, se abaixando e começando a engatinhar.

Por incrível que pareça, esse curto trajeto foi o mais difícil para ela. Sua visão estava turva e a fraqueza fez com que parasse várias vezes. O mudo ajudava-a a continuar, sendo prestativo ou talvez impaciente. Não dava para saber. Suas expressões faciais estavam totalmente ocultas pela máscara.

Após tudo isso, finalmente conseguiram ultrapassar o obstáculo e Mira se deparou com um outro corredor, cada porta dele marcada por um xis vermelho. Essa era a Ala Sul. Ao perceber isso, sentiu um estalo mental. Alice esteve na Ala Sul. Talvez ela tivesse voltado para lá. Subitamente aquele lugar adquiriu muita importância. Precisava ficar viva.

— Onde... - arfou, se apoiando em seus joelhos. - Fica o lugar... Seguro?

Alex apontou para o fim do corredor, sem um ponto específico.

— Andar mais? - disse Mira, fraca.

Alex moveu a cabeça e os ombros, em um gesto que expressava como ele sentia muito, mas que tinham que continuar. Olhou o marcador. A saturação do sangue permanecia constante em seu 71%, mas ela não podia arriscar ter hipoxia. De todas as maneiras que imaginou para sua inevitável morte, nunca imaginou que o "mal da montanha" estivesse entre elas.

— Ok... - Mira se esticou, cansada. - Vamos.

Continuar talvez tivesse sido uma má ideia. A dor em seu peito e em sua cabeça piorava a cada passo. Suas pernas se tornavam pesadas como chumbo. Sua visão se turvava e se duplicava. Com tudo isso, ela mal pôde desenvolver curiosidade sobre o significado das marcas nas portas metálicas ou reparar em como a cor delas ficava cada vez mais clara ao longo do caminho ou notar que o ar clareava subitamente no ponto em que não havia marcas nas portas. A asiática só pensava em como ela queria que o mal estar acabasse logo.

Por isso, se surpreendeu quando Alex parou abruptamente e a puxou para uma sala. Não havia nenhum xis nessa porta. O estranho fechou a entrada e puxou uma alavanca. Uma lufada de gás amarelo atingiu seus corpos e Mira viu um triângulo vermelho surgir no canto do capacete. A saturação estava em 70%. Ela abriu a boca para avisar, mas logo sua visão escureceu e seu corpo foi ao chão.

Acordou tempos depois com uma movimentação ao seu lado.

— E-ei... - chamou, sentindo seu corpo pesar.

O estranho logo se virou, sua roupa espacial meio embaçada.

— Ah, você acordou. - disse uma voz feminina. - Lamento não ter me comunicado antes, mas as criaturas estavam muito perto e com certeza nos ouviriam.

Mira ergueu seus olhos, mirando quem falava. Seu cérebro processava tudo lentamente.

— Como se sente? Você desmaiou com a falta de oxigênio. Não se preocupe. A secção russa ainda tem ar. Em todas as outras que eu fui, estava um vácuo e cheio de monstros-escorpião. Era uma loucura. Eu não sei como você sobreviveu. A propósito como sobreviveu? Existem outros...

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora