Descoberta

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Silêncio repentino.

Tenebris escorria pelo ferimento de Ryan. Porém, diferente de um líquido normal, a substância se juntava ao corpo dele, como um simbionte. Os aparelhos ainda estavam ligados ao humano e mostravam que o ritmo cardíaco dele estava muito lento.

Pi... Pi... Pi...

A substância formou longos braços e ergueu Ryan no ar. Seu corpo estava mole como o de um boneco de pano. Sua cabeça se movia em ângulos estranhos. Alice olhou para sua mesa de relance e rapidamente pegou uma injeção de adrenalina. Talvez fazer o coração dele bater mais rápido o fizesse acordar. Era uma teoria. Nesses milissegundos que demorou para pensar, um tentáculo a lançou contra a parede, fazendo o objeto que poderia ser sua esperança voar de suas mãos. Ela sentiu muita dor enquanto seus órgãos se chocavam com seu esqueleto.

A boca do monstro se abriu soltando um rugido e sua atenção se virou para a máquina reparadora de tecidos. Ele começou a correr na direção dela e Alice se levantou, trêmula.

— Não! - gritou, com urgência na voz.

A criatura parou, virou-se para Alice e ficou a encarando. Tentando não fazer movimentos bruscos, Alice foi lentamente para o lado, na direção do aquecedor e de onde estavam jogados os frascos de outras substâncias. A criatura a seguiu. Com a visão periférica, a cientista viu que se aproximava de onde a injeção de adrenalina estava. Com cuidado, pegou o objeto e recuou até encostar na parede ao lado do aquecedor. O metal congelado esfriou sua pele. Ela manteve seus olhos fixos nos movimentos de Ryan, mas ele parecia paralisado.

Na cabeça de Ryan, ele estava em frente a um prédio, à espera de alguém. Não demorou muito e uma mulher de curtos cabelos cacheados e castanhos chegou ao seu lado, sorrindo.

— Ana. - disse, sorrindo. Ele olhou para a barriga dela. - E olá, Mateus.

Ela sorriu.

— Você veio mesmo. - disse.

— Claro, não deixaria as pessoas mais importantes da minha vida sem ter como ir ao médico. - disse ele, apontando para o carro. - O bebê precisa de toda a atenção.

— Você é uma gracinha, sabia? - disse Ana, beijando sua bochecha. - Vamos?

— Claro. - disse Ryan, abrindo a porta de seu carro.

— Ah, espere! - disse ela, percebendo algo. - Esqueci seu presente de aniversário!

Antes que Ryan pudesse dizer algo, Ana foi correndo e entrou no prédio novamente. Uma sensação ruim de déjà vu chegou até Ryan, mas ele a ignorou. Minutos depois, ele viu a fumaça e o fogo. O andar onde ficava o apartamento de Ana se desfez em milhares de pedaços de concreto que voaram pelos ares.

O mundo ficou cinza e o ambiente mudou.

Ryan se viu imerso no silêncio. Pontos de luz estavam dispostos ao redor. A falta de gravidade foi estranha por alguns segundos.

Ele então notou que estava com sua roupa espacial. À sua frente havia a superfície metálica da estação. Uma das placas fotovoltaicas estava quebrada. Isso vinha acontecendo muito desde que tinham passado pelo Cinturão de Asteróides que divide o Sistema Solar. Ryan terminou de retirá-la. Iria levá-la para sua sala na Ala Leste. Quem sabe um conserto fosse possível...

Olhou seu nível de oxigênio. Estava perto do fim, afinal era um cilindro pequeno, só para trabalhos de reparação rápida e ele estava demorando demais. Se aproximou da plataforma da estação usando o cano de ar e logo entrou. Esperou a porta se fechar e o ambiente voltar à pressão normal. Então tirou seu capacete e, com cuidado, selecionou outro cilindro. Foi para a porta da sala das máquinas e ficou lá, analisando o estrago na placa. Com sua visão periférica, viu uma mulher de cabelos cacheados escuros e pele morena andar curvada pelo corredor.

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora