Perseguição

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Alice desligou seu gravador e colocou-o cuidadosamente em sua bolsa.

Suspirou, cansada.

Se dirigiu para a porta, atenta. Parou, esperou para ver se ouviria algum som suspeito. Nada. Empurrou o metal lentamente, ouvindo-o ranger na estrutura velha. Focou em sua audição. Ruídos indistinguíveis no corredor. "Talvez seja apenas o som dos motores danificados.", pensou Alice. Então ela abriu a porta e saiu. A fraca luminosidade das ainda acesas luzes de emergência ajudava a enxergar o corredor. Parou subitamente. Um arrepio percorreu seu pescoço, como se estivesse sendo observada.

Provavelmente era isso, já que Enklidia ainda estava lá, à espreita, em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum, vigiando Alice pelos olhos de seus submissos e, mal sabe nossa protagonista, manipulando suas ações.

Alice olhou para trás, preparando-se para fugir ou lutar com um pedaço de metal. Não viu nada. O corredor se prolongava, quase infinito, envolto em escuridão. Subitamente o ambiente pareceu ficar frio e o som de sua respiração parecia excessivamente barulhento no silêncio. Se abraçando, Alice voltou-se para a frente, quase esperando que houvesse algo lá.

E de fato havia.

Uma sombra se destacava na penumbra. O que quer que fosse virou sua cabeça e encarou a cientista com seus olhos medonhos completamente escuros. Alice conteve um grito. Deu lentamente um passo para trás. Seu pé esbarrou em algo, que saiu rolando e fazendo barulho. Assustada, Alice olhou para trás. Quando virou-se para frente, a silhueta havia sumido. A mulher estava mais uma vez aparentemente sozinha. Desconfiada e assustada, ela caminhou rapidamente. Queria sair logo dali.

Mas não adiantava o quanto se afastava, o arrepio na nuca e a sensação de estar sendo seguia persistia. Ela apressou mais o passo, quase correndo. Seus passos faziam muito barulho no chão metálico.

Tum tum tum tum

Alice parou, apesar de que não deveria.

Tum tum tum tum

Novamente o som. Alice olhou para cima.

Tum tum tum tum

Vinha da ventilação. O pânico a paralisou. Somente quando o metal começou a ser amassado numa tentativa da criatura de fazer um buraco ali que Alice se moveu. Ela correu com todas as suas forças, mas com igual velocidade o monstro a perseguia pela ventilação. De início, a mulher conseguiu uma boa distância, mas pouco a pouco os sons da criatura correndo pela ventilação aumentavam.

Tum tum tum

Alice se sentia lenta, não conseguiria fugir.

Tum! Tum! Tum!

O som ficou mais alto e, com emergência, Alice correu ainda mais, precisava de ajuda.

Tropeçou.

Seu corpo se chocou com força contra o chão. Fungou, frustrada. Se levantou o mais rápido que pôde.

Sentiu algo úmido se enroscar em sua perna como uma cobra e, antes que pudesse gritar, foi lançada contra a parede. O ar fugiu de seus pulmões e ela arfou, tentando tolerar a dor. Da saída de ar da ventilação, um longo tentáculo se esticava. Ele recuou e, durante esse pequeno período de tempo em que ele desapareceu, Alice imaginou que teria tempo para escapar. Dolorida, se levantou, trôpega, e tentou andar o mais rápido que pôde. Naquela hora, a dor crônica em sua perna retornou com toda potência, fazendo a cientista cair. Ainda sem desistir, ela se levantou mais uma vez e, ignorando todas as dores e se ergueu, se arrastando pelo corredor.

Atrás de si, a figura de olhos negros a encarava, sádica, aproveitando seu sofrimento e os segundos que passavam, velozes, levando consigo as forças de Alice, a qual, entretanto, mantinha sua determinação. Após alguns metros de angústia, a mulher virou-se para trás e viu com mais clareza a criatura que a seguia. Tinha formato humanóide, pele completamente recoberta por uma gosma escura e espessa como petróleo. Atrás daquilo, tentáculos feitos de tenebris se erguiam no ar, como cobras prestes a dar o bote. As feições eram perturbadoramente humanas e quase familiares.

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora