Memórias

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Mira encarou a escuridão com medo. Em meio ao breu, ela percebeu um vulto negro com olhos verdes luminiscentes. Expirou pausadamente, atemorizada. Tentou localizar algo que pudesse usar para se defender da criatura, mas tudo parecia muito distante. A fera rosnou novamente, sua boca mostrando dentes afiados e pintados de vermelho. Quando se aproximou lentamente, a baixa visibilidade só permitia ver uma confusão de massa negra fluida com braços e pernas bizarramente musculosos com garras tão afiadas que marcavam o chão metálico.

Mira fechou os olhos. Era o fim. Ela sempre soube que ia morrer em Primux e isso iria se realizar. A fera se aproximou mais e uma de suas mãos agarrou a perna da mulher. A asiática se encolheu contra a porta, puxando os joelhos. Estava assustada. Lágrimas desciam por seu rosto sem que pudesse impedir. A criatura saltou sobre ela subitamente, mas a asiática conseguiu desviar para o lado, fazendo o monstro bater contra a porta. A fera se ergueu de novo, mais irritada, e Mira sentiu o ar faltar ao perceber que não havia saída. Porém o monstro repentinamente começou a ter espasmos, como se sentisse muita dor. Seu olhar se dirigiu para o chão e se focou em algo em meio à bagunça.

Suas garras remexiam os objetos soltos e quebrados furiosamente, como se estivesse atrás de algo. Mira encarava a cena, incrédula. A criatura vasculhava o lixo com desespero enquanto tremia. Subitamente sua garra agarrou algo longo e pontudo que foi prontamente cravado em seu braço. A tenebris começou a escorrer do seu corpo, caindo no chão como uma poça de líquido inerte. O rosto do mutante foi pouco a pouco se revelando apesar de seus olhos permanecerem luminescentes. Mira arregalou os olhos, surpresa.

— Lance?! - exclamou, ainda incrédula.

O homem se curvou no chão, tossindo violentamente. Quando parou, passou a mão na boca, por onde um fio de sangue rubro escorria.

— Mi... Ra? - disse com sua voz arranhada.

Ele parecia muito abatido. Quando a tenebris saiu de seu corpo, Mira percebeu que o homem estava com seu traje retalhado por completo. Fios de líquido negro escorriam pelos rasgos na roupa e se acumulavam no chão aos pés dele, como uma sombra. O homem tentou se erguer, cambaleante, mas caiu novamente, se apoiando em seus braços. Curvou suas costas novamente em outra crise de tosse.

— Você está... - Mira começou quando ele parou de tossir.

— Péssimo, eu sei. - ele começou. - É esse lugar. É como se estivesse me matando lentamente. Eu...

Seu olhar recaiu sobre o corpo no chão.

— Alice! - disse, alarmado.

Ele se ajoelhou perto do corpo inerte da mulher. No pescoço dela, o corte parecia escurecer e ela tremia bastante. Lance pegou o corpo de Alice com cuidado e o virou. Retiraram o respirador e se depararam com os olhos apertados e a boca seca. O rosto dela estava quase cinzento graças à pouca luminosidade e o suor se acumulavam na testa.

— Está quente. - disse Lance. - Precisamos levá-la para o esconderijo. - ele recolocou o respirador na cabeça de Alice.

Mira assentiu e, junto com o homem, levantaram a outra mulher. O peso extra iria torná-los lentos em uma fuga, então precisavam ser espertos e cautelosos. Fora que Lance não estava em sua melhor forma se entrassem em um confronto. Por isso, rapidamente pegou o caco de niotita que a morena inconsciente levava sempre. Ao se mover, não conseguiu deixar de notar as veias escuras crescendo pelo rosto do homem como rachaduras em um vaso de porcelana. Ele estava muito pálido e parecia sentir dor.

— Você não está bem. - concluiu ela, séria. - O que houve? Você sumiu... Ficamos preocupados.

Lance suspirou.

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora