Sobrevivente

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Alice abriu os olhos subitamente e viu que estava sentada em uma toalha na grama. Uma leve brisa passou por seus cabelos e um sorriso brotou em seus lábios. A luz solar incidiu sobre sua pele morena enquanto ela limpava a borda do vestido coberto com pequenas folhinhas de grama. Alice ergueu o rosto e sorriu ao ver uma pequena garotinha de cabelos encaracolados e escuros como os seus correndo atrás de um cachorro peludo. A pequena tinha a pele num tom acobreado como a do pai e os olhos cor-de-mel como os da mãe. Uma hora o pequeno cachorro pulou sobre a menininha e ela caiu no chão, rindo e rolando na grama.

- Não corra tanto, Vitória! - disse Alice, com um sorriso repleto de ternura. - Você vai sujar seu vestido. E nós ainda iremos à casa de sua avó.

A garotinha sorriu, radiante, diante da notícia e começou a correr na direção da mulher.

Então um mal-estar tomou Alice e tudo ao redor começou a ondular e a escurecer. As árvores verdejantes do parque desapareceram e em seu lugar surgiram paredes de metal e armários cheios de produtos químicos. Os sons de pássaros e de risadas se calaram, sendo substituídos pelo silêncio tenso que precede o perigo. Alice se levantou de súbito e viu que quem vinha em sua direção não era mais a pequena Vitória, mas uma mulher loira de jaleco e expressão sombria. O pânico tomou sua garganta por algum motivo e ela recuou um pouco, mas logo suas mãos tocaram a mesa fria.

- O que você está fazendo aqui, Alice? - perguntou a loira, com tom irritado.

- Nancy! Eu... E-eu... - Alice gaguejava, sentindo o déjà vu.

A loira virou a cabeça, tentando ver o que havia atrás de Alice e uma expressão sádica tomou seu rosto ao descobrir.

- O X-28... O que estava fazendo com isso, Alice? - Nancy perguntou, apesar de que já sabia a resposta.

Alice percebeu pelo tom de voz da loira que havia sido pega.

- Eu descobri tudo, Nancy. - disse ela, firme e objetiva, o que poderia ter sido um erro. - A experiência confidencial... Isso tudo é loucura, sabia?! É imprevisível e incontrolável! Talvez não seja uma boa ideia continuar. - disse Alice, com falsa calma e consciente da ingenuidade dessas palavras.

Pouco a pouco suas mãos rodeavam algo frio e afiado, a lâmina que usavam para cortar os pedaços da amostra de meteorito.

- Se der errado, pode significar o fim da raça humana.

Um brilho assassino surgiu nos olhos de Nancy.

- Bem, não posso fazer nada quanto a isso, Alice. - disse Nancy, com um sorriso meio perturbador. - As coisas foram muito mais longe do que todos nós pensávamos. - ela disse, olhando suas longas unhas - Eles são muito superiores a nós. Sua força, sua inteligência, sua capacidade de adaptação... Os humanos não são nada em comparação. - disse ela, se aproximando de Alice lentamente. - É uma pena que acabe assim pra você. Eu achava que poderíamos aproveitar sua mente brilhante, mas você tinha que se envolver com o que não lhe diz respeito... - falou Nancy, usando uma irritante voz fina que se usa para falar com crianças.

- A sobrevivência da minha espécie certamente me diz respeito. - disse Alice, tentando ir para o lado da mesa sem fazer movimentos bruscos.

- Oh, mas os seres humanos já estavam com os dias contados mesmo. Destroem o próprio lar, se matam em guerras sem sentido... Você verá. Quando todos estiverem interligados, tudo será harmônico. A Terra será uma ótima colônia. - Nancy começou a passar a unha fina e afiada sobre a mesa. - É claro que alguns terão que morrer e outros se recusarão por serem irracionais, mas tudo tem um preço, não é?

- Você não é mais Nancy, não é? - disse Alice, arrumando a lâmina entre os dedos e tentando encontrar em seu campo de visão algo para jogar nela.

- Ah, agora eu sou muito melhor. Eu sou uma rainha! - Nancy deu uma risada insana que fez Alice se preparar para atacá-la.

Então algo aconteceu. Um líquido escuro começou a escorrer dos olhos e ouvidos de Nancy, a cobrindo lentamente. Alice recuou mais e percebeu, para seu desespero, que havia chegado à parede. Ela abriu seus quatro olhos vermelhos e brilhantes, seus dentes eram longos e finos como agulhas, seus dedos eram garras, suas pernas se esticaram e seu corpo se estendeu como se ela fosse uma contorcionista. Uma longa língua bífida saiu de sua boca e um sorriso assustador surgiu em seu rosto.

- E agora morrerá! - gritou Nancy, com uma voz não humana.

Braços de escuridão foram em direção a Alice, agarrando suas pernas e braços, marcando sua pele como ferro em brasa. Ela se movia, buscando se soltar e usou a lâmina para tentar cortar o que quer que aquilo fosse, mas, infelizmente, ela não era longa e firme o suficiente. As garras de Nancy seguraram seu pescoço e começaram a apertá-lo, sufocando Alice, que, ainda procurando se soltar, tentava ferí-la com suas unhas e com o objeto. Porém logo a falta de ar começou a enfraquecê-la e sua mão ficou sem forças para segurar o cabo, de modo que a lâmina caiu no chão com um plim.

A visão de Alice começou a enfraquecer. Ela não conseguia mais sugar o ar. O rosto bizarro de Nancy começou a desaparecer e, quando Alice piscou, o que viu foi uma cabeça oval feita de algo parecido com sombras sólidas se elas pudessem ficar sólidas. Três olhos vermelhos brilhantes encararam a cientista, um sorriso assustador embaixo deles. Alice tentou gritar, mas precisaria de ar para isso. Ela sentia sua consciência se esvaindo quando de repente surge uma voz.

- Ei, você! - gritou uma voz masculina meio rouca. - Vai brigar com alguém do seu tamanho!

Som de tiro.

Subitamente Alice sentiu o aperto afrouxando e o que havia tampado sua garganta estava saindo. Ela despencou no chão, sem ter o que a segurasse. Se ergueu fragilmente com seus braços trêmulos e começou a respirar, ofegante. O ar invadia seus pulmões rapidamente e sua cabeça estava zonza. Ela ouviu som de coisas caindo e direcionou seu olhar para o lado.

A sua visão turva via apenas dois vultos: o ser de sombras que a perseguia e uma silhueta desconhecida. Alice viu quando as garras do monstro feriram o estranho e ouviu quando ele gritou de dor. Ela se levantou para ir ajudá-lo, mas então algo estranho aconteceu.

A criatura começou a "derreter" e a guinchar muito alto, como se estivesse sentindo muita dor. Alice tampou os ouvidos e correu na direção do estranho, que estava sentado no chão com a mão na barriga. Finalmente o som agudo parou e a cientista pôde tirar a mão das orelhas. Quando ela olhou para o lugar onde o ser havia estado, só o que restara dele fora uma poça de líquido negro.

Alice ouviu uma tosse e virou-se para o estranho. Foi então que ela levou um susto. Antes sua mente parecia anestesiada e ela não reconheceu o homem. Mas agora ela percebeu. Os cabelos rebeldes, a barba por fazer, e, principalmente, o traje de astronauta em frangalhos... O estranho era o mesmo homem de sua visão.

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E foi isso, gente! 😊

Desculpa por demorar tanto pra postar, eu não sabia como começar esse capítulo. Estou postando pouco antes da minha prova, então, me desejem sorte 😄

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Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora