Suprimentos

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Alice acordou com o barulho de algo batendo com força no metal. Ela olhou o painel portátil onde poderia ver a descrição de danos e ergueu as sobrancelhas, surpresa. Um pequeno meteorito tinha acabado de acertar o lado de fora, o que ocasionou o barulho. O sistema não detectou nenhum problema a partir disso, mas Alice se perguntou o quão longe no Sistema Solar a estação estava. Ela desistiu de voltar a dormir e se levantou. Era agora.

Pegou a bolsa, onde colocara o que imaginava poder usar para consertar a falha no sistema de transmissão de energia, e abriu a porta. Seu caco grande de vidro estava em suas mãos, como sempre, pronto para perfurar qualquer monstro. Não demorou muito e um guincho foi ouvido seguido pelo som de garras batendo no metal. Alice preparou bem o caco, mas então sentiu uma terrível pontada no estômago e acabou abaixando a mão. Assim, quando a criatura apareceu, a cientista não conseguira acertar um ponto que imaginava ser vital. Mesmo assim, ela o machucou e o ser se distanciou dela, guinchando.

Ela olhou sua mão e viu que tremia. Precisava achar comida logo. Assim, ela escondeu discretamente a entrada para o laboratório e seguiu pelo corredor mal iluminado.

A estação oscilava como um barco, como se estivesse sendo atingida várias vezes do lado de fora. Alice balançou a cabeça, tentando afastar esse pensamento. As coisas já estavam ruins. Mais isso e não haveria esperança de sobrevivência. Ela resolveu continuar.

Seu caminho era árduo, de modo que teve que escalar muitas pilhas de detritos e pedaços de metal. Até que ela chegou à barreira. Estava tampando parcialmente o caminho e estava amassada terrivelmente no canto em que se conectaria à outra parede. As mesmas "raízes" escuras, grossas e gelatinosas que Alice já vira antes cobriam as paredes, como se tentassem passar por aquele pequeno espaço. A cientista seguiu com os olhos a trilha das raízes e viu que começavam no chão, mas não havia qualquer fonte delas por perto.

— Estranho. - murmurou Alice, passando a mão enluvada suavemente sobre a mancha escura ao lado das raízes. Parecia uma mancha feita quando café derramado secava. - Hum... - Alice recolheu a amostra e a colocou delicadamente em um vidrinho em sua bolsa.

Ao que parecia, era uma poça de "sangue" ressecado deles. Analisando as bordas do local onde estava a poça, ela viu que costumava ser uma das saídas de ar. Apertou o metal. Estava lacrada há muito tempo e a tampa devia ter cortado as raízes e as separado do corpo. Um arrepio percorreu sua espinha. Então ela pareceu se dar conta de algo. Lacrar as saídas de ar, usar um portão para evitar o contato entre as seções... Isso a lembrava de alguma coisa, mas era uma ideia vaga. Suspirou. Era horrível estar com a memória bagunçada. Então ela simplesmente cortou uma pedaço fino das raízes e o guardou em um saquinho.

Desde que encontrara o laboratório que funcionava, Alice entrou em um trabalho quase contínuo para saber qualquer coisa sobre esses seres. Desnecessário dizer que ela conseguiu quase nada. A maioria dos elementos que formavam as amostras que ela recolhera não eram identificáveis. Mas ela não desistia em tentar entedê-los, procurar suas fraquezas...

Barulho.

Ela virou-se rapidamente para trás, atenta. Ousou ligar a lanterna de energia limitada e constatou, aparentemente, para seu alívio, que se tratava apenas de um pequeno ser semelhante a um rato. Ela deixou-o ir e voltou-se para o portão. O painel que permitia que ele fosse aberto do lado dela estava quebrado e empoeirado. O jeito seria passar pelo buraco. Com muito cuidado, Alice passou primeiro sua bolsa. Depois se aproximou vagarosamente, tomando cuidado para não entrar em contato com as raízes. Quando estava no meio da passagem, ela ouviu um terrível rosnado do fim do corredor. Com isso, ela se assustou e acabou esbarrando nas raízes. Elas reagiram se contraindo e se afastando de Nancy, indo em direção a o que quer que fosse que estivesse no final do corredor.

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora