Diário de bordo 160420

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Tosse.

Algo extraordinário aconteceu. Eu encontrei um sobrevivente. Eu... Eu... Eu nem sei o que dizer! É um homem, deve ter uns trinta anos. Tem pele num tom de marrom claro. Os olhos são escuros e os cabelos estão grandes e revoltos, o que mostra que ele deve estar aqui há um bom tempo. Está com o que restou do que parece ser um traje do espaço e, no momento, não está em boas condições devido ao que aconteceu quando ele apareceu. Eu tinha acabado de chegar depois de ter "consertado" o gerador principal e de ter fugido daquele ser bizarro. Então a luz apagou subitamente e eu fiquei pensando em como resolver tudo no escuro. Foi então que tudo começou a ligar e desligar do nada, como se todos os aparelhos do laboratório estivessem com defeito. Eu devia ter imaginado que era ele. O monstro me atacou, eu devo ter ficado inconsciente por um tempo. Então o estranho apareceu e atirou na criatura.

Não sei no que ele estava pensando, já que isso obviamente resultaria no que aconteceu e ele agora está gravemente ferido. Mas lhe devo minha vida. Se ele demorasse mais, eu... Bem, o que importa é que eu estou viva, o que foi bom, já que pude fazer os primeiros socorros rapidamente e colocá-lo numa "maca" improvisada. Os sinais vitais estão estáveis, mas ainda não estou muito segura. Minha experiência com essas criaturas me mostrou que mesmo um corte feito por essas garras que desafiam a ciência moderna pode ter resultados fatais. Infelizmente, durante a briga, a máquina reparadora de tecidos foi a mais duramente quebrada. E ironicamente esse gravador foi o único objeto daqui que não sofreu nenhum dano. Agora estou tentando ver o que posso fazer com ela, mas não tive muito sucesso. Acho que sou melhor incubando microorganismos e isolando antígenos do que reajustando fios e parafusos.

Eu não sei o que houve com ele, porque eu o vi como um desses "humanos mutantes" e o vi morrer. Pelo visto, ele não está muito morto. Estou esperando ele acordar.

Tosse. Falta de ar. Tosse forte.
Suspiro.

Estou ficando preocupada com a minha saúde. Essa tosse está piorando e estou respirando com dificuldade, mas ainda é cedo para não dizer que é apenas algo passageiro. Nem estou com febre. Mas meus problemas de estômago voltaram e o fato de que eu devo economizar suprimentos não ajuda muito nesse ponto. Mas, acima de tudo, estou preocupada com minha sanidade.

Suspiro.

Imagino que ficar todo esse tempo sozinha e com medo tenha influenciado, mas o que eu quero dizer é...

Respiração profunda.

Estou tendo alucinações. São vívidas e, se eu não fosse cética quanto a isso, parecem visões. Sei o quanto isso é ridículo, mas esse homem estava na minha... No meu delírio. Ele parecia preocupado e havia uma névoa densa no ar. Não acho que era uma memória. Minha mente pode ainda estar confusa sobre o que pode ter acontecido depois de Nancy aparentemente ter me flagrado mexendo no X-28 em seu laboratório, mas tenho quase certeza de que nunca fui à Sala dos Controles. Também acho que nunca tinha visto esse homem antes. Ele deve ser um dos engenheiros. Aquele traje era geralmente usado pela equipe especializada em fazer reparos na parte externa de Primux. Um trabalho muito perigoso, já que...

Som de baque abafado. Bipes.

Outro meteorito. Como pode ver, há muitos pedaços de rocha, entre outras coisas, que se chocam com as paredes da estação. Às vezes batem em antenas ou propulsores e ficamos todos em risco enquanto isso não for resolvido. Os danos podem chegar a algum ponto vital, como nossos reservatórios de oxigênio e de água. Então o trabalho dessa equipe é fundamental. Talvez ele saiba o que houve para que Primux tenha virado esse caos.

Silêncio.
Suspiro.

E há outro ponto. Enquanto eu estava inconsciente, eu tive um "sonho", por assim dizer. Começou com uma memória, a do meu último passeio com a minha filha, na Terra. E então foi para algo diferente. Talvez uma continuação daquele sonho recorrente que eu tinha. Ao que parece, o que me causou medo, foi a aparição de Nancy no laboratório. Eu tinha descoberto alguma coisa. Não me lembro agora do que eu falei, mas sei que era algo sério. E tinha a ver com o projeto confidencial de Eliot e do almirante Meliès. Provavelmente também está relacionado com o que houve e com a tenebris. Por isso, mesmo que ele não tenha permitido, recolhi amostras do sangue e da pele dele para procurar confirmar minha teoria da relação entre a capacidade de divisão celular das células e a multiplicação da tenebris.

Tosse forte.

Claro que também não posso esquecer de me aprofundar na pesquisa a respeito das partículas com as quais entrei em contato antes. Preciso saber se elas são de alguma forma letais ou patogênicas. Por sorte, nisso eu sou boa. Vou procurar, talvez nos meus olhos ou no meu sangue, vestígios daquelas partículas, porque as amostras que estavam nas minhas roupas se degradaram. Teorizo que, assim como os vírus, elas necessitem de matéria orgânica para se reproduzir. O que pode ser muito ruim caso eu as tenha aspirado. Isso novamente é algo para eu me preocupar. Eu não tenho as respostas que literalmente podem significar se eu vou sobreviver ou não nesse lugar hostil. Apenas posso teorizar, mas quando se imagina muito a respeito de um futuro incerto e tenebroso, milhares de possibilidades terríveis vem à cabeça. Preciso ter um plano C em mente. Um plano de fuga.

Bipe seguidos.

Oh, não! Os batimentos dele estão caindo!

Som de alta descarga elétrica.

Vamos.

Piiiiiiiiiiiii...

Vamos.

Piiiiiiiiii....

Vamos!

Piiiiiiiiii...

Reaja!

Piiiiiiiiiii...

Não...

Pi... Pi... Pi...

Funcionou... Mas o que será que...

Som de murmúrios.

"Onde eu estou?"

Você acordou...

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Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora