Acidentes

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Um segundo.

Um segundo pode ser crucial.

Um segundo de hesitação pode fazer ser tarde demais e então um paciente perde a chance de ganhar o coração que salvaria sua vida.

Um segundo pode ser um tempo de reação grande demais para ver o garotinho na frente do carro e em seguida frear.

Um segundo pode ser tempo suficiente para denunciar um sorriso no rosto de um psicopata enquanto ele finge ter arrependimento.

Em um segundo, Alice reagiu e agarrou em algo metálico, firme e indistinto. Em outro segundo, seu braço se esticou ao máximo e apertou um botão grande e vermelho no painel pendurado ao seu lado. Rangidos ecoaram. Uma enorme parede transparente meio rachada desceu do lado de fora da estação, tampando o buraco que sugava tudo naquela sala da Secção Noroeste para o espaço. A força de sucção parou. O corpo da cientista se chocou contra o chão com força com a repentina gravidade. Ela gemeu de dor. Em seguida, se ergueu rapidamente e foi, apressada, até o buraco.

— Lance! - chamou pelo comunicador do capacete. - Lance, pode me ouvir?

Ela se aproximou mais da borda do buraco, tomando o cuidado de não pisar em partes fragilizadas do chão. Olhou, cautelosa, tentando ver um capacete como o seu, mas a pouca luz emitida pelas luzes de seu traje não permitia que ela enxergasse qualquer coisa.

Foi então que uma enorme garra negra se ergueu da borda e Alice recuou, alarmada. Olhou ao redor em busca de qualquer coisa que pudesse usar para se defender e viu um longo e particularmente pontudo pedaço da parede. Era perfeito. Se preparou enquanto via outro braço monstruoso se erguendo. As garras arranhavam o chão enquanto a criatura lutava para chegar no topo. Alice olhou sua roupa. Danificar mais uma dessas seria ruim. Resolveu correr e se esconder atrás de mais uma das formas metálicas e indistintas presas ao chão, os restos dos robôs que trabalhavam lá.

Semicerrou os olhos, focando no som alto do arranhar das garras no chão. Até que ele parou: a criatura tinha chegado ao topo. Alice tentou diminuir o ruído de sua respiração ofegante.

Ao longe, o som dos alarmes, denunciando o estado crítico do local.

Silêncio. Estava escuro. Então ecoou o som de garras tocando o chão com força, como se sustentassem um grande peso. Esse ruído se repetiu, ficando cada vez mais alto e se aproximando cada vez mais do local onde ela estava escondida.

Clack clack clack clack...

Clack clack clack...

Clack clack...

Clack...

De repente, o ruído parou. Alice olhou freneticamente para todos os lados, em busca da criatura, mas não a enxergava. Até que ela sentiu um arrepio. Um líquido frio e pegajoso se chocava contra suas costas. Ela olhou para trás e viu, graças às fracas luzes em sua roupa, uma poça do que parecia ser saliva. Com pânico, ergueu lentamente o rosto.

Acima de sua cabeça pairava um monstro terrível.

Tinha o corpo feito de tenebris semelhante ao de uma aranha enorme com a parte de cima de um corpo humano. A cabeça tinha quatro olhos grandes que pareciam feitos de piche e maldade. Não tinha nariz. Sua boca era uma enorme fenda que se abriu com um rugido, mostrando quatro fileiras de dentes pontiagudos. Saliva atingiu o capacete de Alice, embaçando sua visão, enquanto o monstro erguia suas enormes patas de aranha para agarrar sua presa.

Num instinto, Alice se ergueu e correu rapidamente. Porém o monstro-aranha era mais rápido, saltando sobre as ruínas metálicas naquela sala com maestria enquanto rugia. Alice estava ficando encurralada. Foi então que viu a porta no fim da sala. Estava completamente aberta, exibindo um ambiente repleto de pequenas salas de vidro com trancas tecnológicas. Devia ser o local onde os cientistas estudavam as criaturas feitas de tenebris em segurança. Uma ideia surgiu na mente de Alice.

Contágio: O terror no espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora