Capítulo 1

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A vida em uma caverna é algo totalmente novo e desafiador.  Saber que há quilômetros me separando da superfície da Terra poderia ser claustrofóbico se o interior da Terra não fosse tão espaçoso.

A distância entre o chão e o teto é imensa e, algumas vezes, é possível observar a formação de nuvens por entre as quais alguns pequenos seres alados passam voando.  Não sei dizer se são aves ou borboletas.

Há muito espaço nesse lugar que é formado por um grande número de cavernas e escadas e mais cavernas e mais escadas. 

Cada uma dessas cavernas se apresenta em cores, sons e brilhos que as diferenciam entre si.  Além de cores e cheiros, há também uma assinatura energética em cada uma delas, que faz com que, mesmo estando de olhos fechados, seja possível identificar exatamente onde você está.

As pessoas também apresentam essa vibração. Assim, antes que alguém chegue perto de você, já é possível identificar quem é e qual o seu estado de espírito e intenção.

Aqui, aparentemente, todas as atitudes são sempre boas e proativas. Cada um dos habitantes desse lugar encontra satisfação em ensinar e em aprender uns com os outros.  É uma grande escola onde os livros são cada um de nós e a lousa é a nossa própria consciência e sentidos.

Isso aqui é lindo. 

Nos meus primeiros dias eu não me cansava de simplesmente caminhar, ou melhor, vagar por cada canto desse lugar.  Quando eu achava que estava perdida, bastava me concentrar no Bruno ou em qualquer outra pessoa que eu conhecesse aqui para que eu encontrasse meu caminho de volta.  Era como se tudo e todos estivessem ligados por fios invisíveis que nos levassem ao encontro um do outro.

Enquanto eu caminhava, eu admirava cada pedaço de parede cujas cores variavam entre o dourado, o ocre, o prateado e tons acinzentados que refletiam a composição dos minerais que estavam presentes em todo o lugar.  Entre frestas e em locais específicos era possível observar o crescimento de plantas e o movimento de pequenos seres.

Lembro do dia em que me encontrei numa enorme sala que parecia do tamanho de um estádio de futebol. O teto era tão alto que não podia ser visto porque nuvens não permitiam. Esse lugar, especificamente, parecia um grande jardim cheio de plantas, árvores, flores e cipós, além de pequenos animais que se moviam aqui e ali.

A luz emanava de objetos esféricos que se moviam por todos os lugares.  Eram chamados de replicadores.  Eles eram feitos totalmente de energia e periodicamente iam até locais onde era possível absorver a energia do sol ou de cristais, carregando-se como baterias que armazenavam grandes quantidades de energia solar que seria utilizada, na maior parte,  para o cultivo de alimento. 

Nesse grande lugar, as esferas de luz se moviam alimentando cada planta na medida em que precisavam. Elas voavam rápida e graciosamente por toda a parte, demorando-se um pouco mais aqui e ali, como se tivessem inteligência própria.  Talvez tivessem mesmo...

Pude contemplar as mais diferentes plantas nas quais se formavam frutos que eu nunca vira antes.   Eram em todas as cores, aromas e tamanhos... Havia verduras e raízes de todas as formas. E era isso que se comia aqui: frutos, raízes, folhas, grãos... Nenhuma vida animal era sacrificada para o sustento de outra, pois nesse lugar nenhum ser valia mais que outro. Parece inacreditável, mas as plantas eram como voluntárias na geração do sustento de outros seres, como se sua missão de vida fosse sustentar a própria vida.

O lugar era fantástico.

Aqui não há a interferência de ondas de rádio, radares, celulares, correntes elétricas... nada.  Por conta dessa leveza no ar e da alimentação, o corpo e a mente parecem funcionar com mais liberdade para atingir seu potencial.

E eu não tenho feito muitas perguntas por aqui. Tenho preferido ouvir e observar. Certamente há muito que ouvir e muito que observar em um lugar onde o tempo parece não fazer diferença alguma.

Me sinto como um bebê que ainda não entende o mundo ao seu redor e prefere fazer nada além de perceber cada nova sensação e estímulo.  E estímulo é o que não falta aqui.

Estiquei os braços e pernas enquanto me espreguiçava sobre uma pedra que era extremamente confortável para ser uma pedra.  Na verdade eu sequer a tocava, pois havia um campo magnético que se moldava ao meu, permitindo que eu flutuasse sobre ela.  Era como estar deitada sobre uma deliciosa nuvem invisível.

Enquanto eu me esticava preguiçosamente no que eu chamava de meu quarto de pedra, senti a vibração do Bruno aproximando-se ao longe. Havia algo de diferente nele. Ele tinha algo para me dizer... algo que não havia me dito nesses dez dias em que estivemos na caverna.

Levantei rapidamente e ajeitei minha roupa que mais parecia um pijama de tecido de algodão leve e bege bem claro que me impedia de sentir frio ou calor, já que se adaptava à temperatura do meu corpo e do ambiente. 

Prendi meu cabelo num coque com um nó e me preparei para receber meu amigo híbrido que se aproximava.  Não demorou para que ele estivesse diante da pedra de correr que era a minha porta.  Ela abria somente pelo lado de dentro, como uma espécie de trava de segurança que me deixava mais à vontade, apesar de eu saber que ninguém me faria mal aqui.

Abri a porta lentamente, colocando minha mão dentro de uma endentação esférica, o ponto exato para mover a pedra sem fazer esforço.  Logo eu estava de frente para o Bruno que vestia uma roupa parecida com a minha, porém de tecido mais escuro que eu sabia ser na verdade um artefato que, além de deixá-lo confortável, também se moldava ao seu corpo formando um escudo e até mesmo uma camuflagem, se fosse preciso.  Eu sabia que ele estava pronto para algum tipo de missão.

— Aonde você vai?

— Não vou longe.  Vou ajudar em uma evacuação.  Retorno em seguida.

Sua frase me fez lembrar a visão que ele mostrou antes de me trazer para a caverna. Nela eu vi quando Ishtar-Tiam e Bruno resgatavam um grupo de humanos de uma espécie de cativeiro para, em seguida, levá-los para uma nave e retirá-los da Terra.

Minhas lembranças foram percebidas por Bruno que prontamente respondeu a pergunta que eu não havia feito.

— Quase isso. Volto já.

Seu olhar era terno e parecia significar que ele ainda tinha algo para me dizer, mas não diria agora.

— Quando eu poderei ir junto? – Eu precisava de ação.

— Em breve.  Você precisa estar pronta antes. – Havia compreensão e ternura em sua voz.

— Eu estou pronta! – Claro que estou pronta, não estou?

Eu preciso estar pronta. Preciso continuar minha missão de eliminar os Répteis da Terra e libertar os cativos e escravizados.

O sorriso de Bruno parecia achar graça em mim e eu não gostei disso.  Eu falava sério, oras!

— O espírito é esse, Lene. Então, se prepare para  as missões que virão.  Você é uma Shey agora.

Tocando rapidamente sua testa na minha, o Bruno se afastou e caminhou rapidamente para fora da ala de alojamentos. Quando eu o veria novamente?

O tempo é uma ilusão, Ishtar-Tiam.

A voz de Vunteran era firme e gentil e eu sabia o que isso significava.

— Que bom. Nunca mais estarei atrasada para nada. – Eu disse, sarcástica.

Então venha para o salão de treino.  Jagnar te espera.

Eu sabia que esse dia logo chegaria.  Os dias que passei apenas vagando e passeando por esse grande complexo de cavernas interligadas foi apenas um período de adaptação para o que viria em breve: o treinamento de Ishtar.

Sem me demorar mais, caminhei em direção ao salão de treinamento, um salão que ficava próximo à parte central do conjunto de cavernas.  Eu não precisava de mapa ou de qualquer orientação para saber exatamente como chegar lá.  Bastava seguir o fio invisível que me ligava àquele lugar e a qualquer outro lugar nesse subterrâneo.

Em pouco tempo eu adentrava a grande sala na qual estive na primeira vez em que cheguei. As lembranças ainda eram fortes, marcadas pelas experiências que antecederam minha chegada aqui. Agora era hora de adentrar uma nova fase de descobertas.  Eu seria apresentada à parte de mim a quem chamavam de Ishtar-Tiam.

Nos poucos passos que dei dentro da grande sala, logo percebi a presença de Jagnar, o ser grande, dourado e poderoso com orelhas pontudas e olhos repuxados que se assemelhava a um elfo halterofilista.

Eu sabia que ele havia me percebido chegar, e sem se virar, me saudou com um sorriso telepático e ansioso.

— Darnlik!

— Darnlik-jhir!

Eu já estava acostumada com a saudação de sua espécie que significava algo como “satisfação plena”, para a qual a resposta era “satisfação plena no universo”, ou quase isso.

Eu percebia que ele estava muito ansioso para o que iríamos fazer agora.  Era como se ele estivesse esperando por isso há muito tempo, como uma criança que não vê a hora de desembrulhar o presente de Natal.

O lugar estava estranhamente vazio no momento. 

— Onde estão todos?

— Trabalhando.  Assim como nós.

Com um sorriso que parecia emanar um brilho mágico, Jagnar arremessou dois pequenos objetos em minha direção, os quais peguei, com somente uma de minhas mãos, em dois movimentos rápidos e fluidos nos quais interceptei os objetos no ar em dois fluidos movimentos que se interligaram como o bater das asas de um beija-flor. Meus olhos arregalaram instantaneamente!

— Mente e corpo, juntos. Você está aprendendo a deixar seu corpo fluir junto com sua consciência, como um só que são.

Eu não tinha palavras! A liberdade que esse lugar dava ao potencial de funcionamento do corpo e consciência acabara de ser demonstrado no rápido e simples movimento de pegar objetos no ar!

Abaixei os olhos e vi em minha mão um pedaço de pão denso, quadrado e leve, além de uma fruta relativamente grande e de casca dourada.

— Coma antes de começarmos. – Jagnar disse com gentileza e firmeza.

Era a hora de começar o curso de Ishtar.  Ainda atônita pelo que eu acabara de fazer, simplesmente obedeci a instrução do elfo e mordi o pão enquanto eu acariciava a fruta com meu polegar. 

O pão tinha sabor suave e adocicado que em muito se assemelhava ao pão doce da superfície.  Entretanto, havia algo de diferente nele: um sabor mais rico e marcante que trazia consigo o sentimento de bem estar e uma disposição de que eu podia sentir instantaneamente em meus músculos.  

A fruta me trazia algo um pouco diferente... Gratidão.  Eu era grata porque a fruta estava aqui para mim, gerada e nutrida por outro ser vivo e oferecida para proporcionar vida ao ser que a comia.  As plantas davam uma parte de si mesmas para sustentar a vida de outros seres que, em troca, cuidavam da planta e de sua descendência que, neste caso, eram plantadas em grandes cavernas aqui no subterrâneo.

Éramos todos um e gratos uns pela vida dos outros, pois que, de bom grado, se doavam pela vida em próximo, fosse esse da espécie que fosse. Aqui nesse lugar não havia dinheiro que recompensasse as trocas e nem contas para pagar.  Tudo era suprido pelo trabalho e pela oferta do fruto desse trabalho.  Não havia medida para o quanto cada um deveria trocar para que se mantivesse algum tipo de equivalência.  O que importava, e o que todos buscavam, era que tudo funcionasse e que todos estivessem bem. Havia grande prazer e satisfação pessoal em oferecer o que se podia fazer ao próximo, pois cuidar do próximo significava cuidar de si mesmo.

Finalizei o pão e a fruta em meio ao sentimento de gratidão, depositando as sementes cuidadosamente em um bolso na parte de trás da calça que eu vestia.  Eu precisava oferecer algo de volta para todos que me ofereciam algo.  Era uma necessidade que nascia em mim.
Jagnar me olhava intensamente enquanto eu comia em meio aos meus pensamentos.  Certamente ele entendia o que se passava em mim e concordava comigo.  Ele estava feliz por eu, em pouco tempo neste lugar, já poder entender um sistema que para eles era tão simples, mas praticamente impossível de entender para as pessoas imersas no sistema capitalista e individuais da superfície.   Eu também podia sentir o que se passava nele, pois estávamos conectados telepaticamente, assim como a tudo nesse lugar.

Dando um passo atrás e se distanciando de mim, Jagnar começou a falar com seu tom de voz melodioso e grave.

— Hoje é teu primeiro dia de treinamento Ishtar, mas teu despertar começou no momento em que pisaste aqui. Meu trabalho, pelo qual tenho ansiado desde minha designação a esse sistema solar, é o de ajudar-te a conectares com tua natureza Anun e colocá-la em prática. Tu receberás o conhecimento ferramental e o treinamento para fazer com que tuas habilidades sejam funcionais para a causa. 

Dando mais um passo para trás, Jagnar colocou uma considerável distância entre nós, o que já começava a me preocupar. Do que o elfo que havia brincado de esconde-esconde comigo no meu primeiro momento nessa caverna queria brincar agora?

Certamente ele já sabia o que se passava dentro da minha mente e respondia com um sorriso contido de quem estava prestes a se divertir.

— Durante teu despertar Réptil te tornaste um menurac.  Isso foi possível porque possuis o elemento humano o qual esteve livre para aflorar, graças à sabotagem que fizemos em ti quando eras apenas um pequeno amontado de células em um laboratório.

Então eu era fruto de uma sabotagem entre facções alienígenas que se opunham.  Eu estava realmente no meio de uma guerra e, o mais importante, era peça fundamental nas estratégias desses grupos. Quanta dualidade dentro de uma pessoa só!

Como eu posso estar certa de que esse despertamento Anun é seguro para as pessoas ao meu redor? A ideia de ser uma espécie de arma de destruição em massa ainda pairava na minha mente.

Jagnar olhava para mim e eu tinha certeza de que ele selecionava o que me diria a fim de não perder o foco em sua própria missão para comigo.

— O elemento Anun em ti permite que teu potencial humano se desenvolva totalmente. Basta que queiras e te permitas desabrochar para novas possibilidades. Para isso, é preciso que tenhas foco e concentração.

Concentração... Acho difícil com tantas coisas acontecendo. Eu não deveria estar aqui.  Nada disso deveria estar acontecendo.  Onde meu livre arbítrio entra nisso tudo?

Eu tinha certeza que era totalmente transparente para Jagnar que agora caminhava em minha direção.  Dois passos depois e ele se inclinava para me olhar diretamente nos olhos.  Se eu não pudesse sentir suas intenções certamente eu teria dados vários passos para longe da figura mitológica.

Assim tão de perto não pude deixar de observar seus olhos.  Sua íris era consideravelmente maior que a íris de um humano e ocupava quase que totalmente a parte branca do olho.  A cor era um tipo de verde com fios dourados que se moviam rapidamente ao redor da pupila, como uma tempestade de raios que, no lugar de assustar, parecia hipnotizar.

Mergulhei na cor verde cristalina de seus olhos sentindo paz e ansiedade ao mesmo tempo em que percebia sua consciência envolver meu corpo e o limpando das interferências que me impediam de cumprir minha missão.

— O foco vem com paz, Ishtar-Tiam.

— Meu nome é Brigitilene.

— Por enquanto. – Ele disse sorrindo.

Sem desviar-me do seu olhar, eu permiti que ele me limpasse. Sinceramente, eu precisava disso. Se eu havia aceitado estar aqui, então que fosse para levar a cabo o que tinham para mim. Eu sabia que podia confiar nesses seres que compartilhavam a mesma missão que eu tinha: libertar a Terra.  E se eles podiam me ajudar a cumprir minha missão, então eu estava dentro.

Alguns instantes olhando para a tempestade dourada nos olhos do alienígena foram suficientes para eu colocar de lado qualquer outro pensamento que não o de aprender o que ele tivesse para mim hoje. O foco dele, agora, era meu também: cumprir a missão.

— Então, comecemos.

Com um sorriso maroto no canto do lábio, Jagnar projetou seu braço direto para trás e rapidamente projetou um soco na minha têmpora esquerda!

O reflexo que eu tive foi o de colocar meu braço esquerdo entre minha cabeça e o punho do elfo, na tentativa de me proteger do golpe. Isso, definitivamente, não estava começando muito bem!

Para minha total surpresa, o impacto nunca aconteceu.

O punho de Jagnar surgiu no lado direito da minha cabeça e permaneceu ali parado para que eu notasse. O que tinha acabado de acontecer aqui?

Jagnar prendia a respiração enquanto observava atentamente a expressão de choque no meu rosto, enquanto eu notava seus dedos se movendo. Dois segundos depois sua grave e melodiosa gargalhada enchia toda a enorme caverna, enquanto eu, ainda chocada e sem entender nada, somente olhava para a face da criatura.

— É pra treinar ou pra brincar de mágica? Você tá rindo de quê?  — Eu disse, irritada.

Ele apenas gargalhou mais alto ainda.
O desejo de ter controle crescia em mim, borbulhando como um mecanismo automático numa situação desconfortável. 

Poucos segundos depois e ele me olhava de volta, sem sorrir e com uma expressão concentrada e intensa.

— Se controle é o que queres, então controla a Réptil. — Ele dizia enquanto retirava a mão da minha cabeça.

Não havia um milímetro sequer de humor nele agora.

Me dei conta de que a Réptil que havia matado os lagartos que torturaram meus amigos assim que assumiu o controle sobre mim, me fez entender que eu somente estaria livre dela se eu a controlasse.

Obviamente a Réptil tentaria se impor novamente. Ela era o inimigo aqui. Jagnar me cobrava domínio sobre o inimigo em mim.
Respirei fundo ao mesmo tempo em que acenei minha cabeça, desnecessariamente indicando que eu concordava com ele.

— Você tem certeza de que quer fazer isso? Eu não sei se é uma boa ideia me dar mais... Habilidades. — Eu disse, reconhecendo que talvez, isso tudo fosse demais para mim e que não valeria o risco.

— Tu és quem escolher ser. Lembra-te do que Masnik te mostrou e de que ainda está cedo para fazer tua escolha. Antes, conheça Ishtar na medida em que aprende o que isso significa. Escolher virá depois.

Ele tem razão. Se eu quero vencer os Répteis, não posso simplesmente dar a eles o controle da minha vida. Se eu não for mais forte que a Réptil, não há razão para eu estar aqui e a causa já estará perdida. 

— Confie que não estou aqui perdendo o meu tempo, criança. — Ele disse ternamente me olhando nos olhos, atento às minhas ponderações internas.

Colocando sua mão direita sobre meu ombro, Jagnar pressionou-o levemente para em seguida atravessá-lo com a mão. Eu podia sentir que seu punho havia atravessado meu tórax e deslizava pelo meu corpo até sair pelo meu estômago. Era isso o que ele queria me mostrar quando me golpeou na cabeça! A mágica que ele havia feito era, na verdade, a habilidade de atravessar a matéria.

Nova Ordem (Livro #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora