Capítulo 24

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Levantamos e caminhamos em silêncio por alguns minutos até a entrada principal da Universidade, descemos as escadas e caminhamos um pouco mais até onde o carro negro nos aguardava. Durante toda a caminhada, o Bruno não disse coisa alguma, mas em todo o momento esteve atento a mim, observando cada detalhe que emanava de mim: gestos, cheiros, pensamentos.

Apesar de estarmos quietos, ele mantinha o isolamento ao nosso redor, dando-nos privacidade.

Mal percebi quando entramos no carro e ele partiu para nosso próximo destino. Eu estava mesmo ficando com fome, mas a ideia do que iríamos comer me tirava o apetite. Preferi não interferir nesse assunto, decidindo por dedicar energia a outras coisas. A manhã havia sido de muitas revelações e era hora de focar em outras coisas, de aprender sobre outros temas enquanto o assunto projetos de hibridização assentava em minha consciência.

Olhando para minhas próprias mãos, eu as via como as familiares mãos humanas pensando que essa imagem não passava de uma ilusão criada para enganar os humanos e outros híbridos imersos na ignorância quanto ao mundo real que os cercam. Pensei em retirar a camuflagem de minhas mãos, para confrontar um pouco da verdade contida em mim mesma. O Bruno, apesar de parecer estranho olhando pela janela do carro, tinha sua atenção em mim.

Lentamente retirei a camuflagem de minha mão como quem retira uma luva, sem pressa alguma. Aos poucos, a começar pelo pulso, muito permitindo que a verdadeira cor de minha pele sobressaísse, revelando o verde que se tornava mais escuro conforme se aproximava das pontas de meus dedos. Conforme a camuflagem era retirada, como se uma luta fosse puxada em direção aos dedos, eu via se revelar diante de mim quem eu realmente era para os répteis: uma meia humana destinada a consolidar a dominação na Terra, um símbolo do êxito dos Drasskunianos sobre o planeta que escolheram para ser Nova Drasskun. Não demorou para que eu visse as pontas dos meus longos dedos cuja cor se igualava à cor de minhas unhas, ou melhor dizendo, garras. Lembrei de como elas podem ser letais, como lâminas de um estilete afiado.

Antes que as imagens de como eu havia usado essas garras passassem pela minha mente novamente, permiti que, mais uma vez, a camuflagem cobrisse minha mão.

Diante de nós, no banco do motorista, a figura silenciosa do homem que conduzia o carro luxuoso permanecia incógnita. O Bruno não o havia apresentado a mim. Talvez gente poderosa não se importe em saber o nome daqueles que os servem. Talvez bastasse para mim saber sua função apenas. Bruno continuava me observando com curiosidade enquanto nos mantinha isolados. Preferi não perguntar nada a ele e fazer minha própria investigação. Ele já havia me contado demais e era hora de eu começar a descobrir as coisas por mim mesma, a partir de minhas próprias investigações, mesmo que sejam inofensivas como descobrir a identidade do nosso motorista.

Retirei meus olhos de minhas próprias mãos e olhei pela janela, displicentemente sinalizando que estava distraída, quando na verdade era bem o contrário.

Não precisou muito para que eu tivesse minha atenção voltada para o motorista. D0 não tinha pressa. Essa investigação seria um passatempo, uma distração comparado ao que eu tinha descoberto essa manhã.

Primeiro, me concentrei em sua forma. O homem tinha um biótipo típico de homem americano que eu costumava ver nos filmes na TV: alto, branco, cabelos e olhos claros, além de músculos bem desenvolvidos. Talvez ele fosse uma espécie de segurança também. Se bem que duvido que Bruno ou eu precisássemos de um segurança.

Observei a figura com mais detalhe, percebendo o tom azulado de seus olhos e o castanho muito claro, quase louro de seus cabelos. Algumas poucas sardas, quase imperceptíveis, salpicavam seu nariz e a parte superior de suas bochechas. Seria essa aparência apenas um disfarce?

Nova Ordem (Livro #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora