Capítulo 16

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Confesso que não percebi quando peguei no sono. Acordei torcendo para que tudo pelo que passei nas últimas horas tivesse sido apenas um sonho. Mas não foi.

O distante teto e o quarto gelado me lembravam que tudo, desde eu ser entregue por Thera aos répteis até a visita de Vunteran me dizendo que eu estava por minha conta, significavam que eu estava, novamente, só. Mas diferentemente das vezes anteriores em que eu me senti assim, dessa vez a solidão vinha com uma sensação de independência. Eu não precisava de ninguém na minha vida para me sentir segura. Eu era mais que suficiente para mim mesma e isso, por si só, me era prazeroso. Assim, outros seres apenas serviriam para agregar conforto à minha vida, nada mais.  Pude sentir um novo sorriso surgir em meu rosto e, junto dele, a consciência de que o DNA Réptil conferia um novo entendimento, uma nova sensação às percepções de minha realidade. Essa era Ewha, o monstro que havia mostrado seu poder e crueldade contra os Répteis que torturavam Wellington e Wenderson, meus amigos e praticamente meus irmãos. Ao menos ela fez o que somente ela poderia fazer e que é o motivo pelo qual eu quero, agora, que ela viva em mim: infiltrar-me e destruir os répteis, os monstros que acreditam que a Terra é o quintal e a dispensa deles.

Matarei todos eles. Se Vunteran quer que eu fique agora por minha conta, então é assim que vou agir. Senti um novo sorriso mover meus lábios.

Levantei da cama disposta a iniciar minha nova jornada como Ewha. Fui até outra endentação na parede, logo em frente ao local de onde eu acabara de me levantar: esse era o toalete. Assim me coloquei diante do lugar, a parede mudou sua forma tornando-se um espelho que refletia minha imagem perfeitamente. Eu estava linda em minha forma híbrida: cabelos longos castanhos e ondulados ornavam o rosto de olhos grandes e amarelos, de lábios mais finos que em minha forma humana e pele em um degrade de tons de bege e verde. Coloquei uma mecha de cabelo atrás de minha orelha, bem menor e que mal pôde segurar os poucos fios de cabelo que depositei ali. Nisso, eu pude contemplar os suaves relevos em minha testa e têmporas, resquícios de escamas que, em um Réptil, significa proteção. Eu era linda e esquisita. Senti o poder dessa beleza e dessa esquisitice inflamar em mim. Eu sou Ewha, a mãe de uma nova raça, o marco de conquista e honra da civilização Reptiliana sobre Nova Drasskun.

Pisei no centro de um quadrado delineado no chão, que era do tamanho de uma cabine de chuveiro. No segundo seguinte um campo de energia me envolveu criando uma espécie de caixa ao meu redor. Mas ao invés de ficar preocupada, eu sabia que podia relaxar e aproveitar o que viria.  Um fluxo de uma espécie de vapor circundou meu corpo como um pequeno ciclone, suavemente acariciando minha pele. Retirei a veste que era na verdade uma peça de tecnologia e a joguei no chão. Ela me lembrava do que havia se passado comigo até ali, me lembrava de Ishtar-Tiam.  Os Répteis acreditavam que Thera havia providenciado essa veste para que eu pudesse sobreviver ao tempo que passei no espaço. Eu apenas sabia disso, como se minha mente, de alguma forma ainda estivesse conectada à causa... Talvez eu estivesse... Não! Vunteran disse que estava só e não sonharei que, de alguma forma, não esteja.

Com o corpo nu, o pequeno ciclone de vapor pôde fazer seu trabalho em meu corpo, limpando, esfoliando, massageando. Meus cabelos eram também lavados por esse vapor que carregava consigo as impurezas que retirava de mim. Nem uma gota de coisa alguma caía no chão durante esse banho. Em alguns instantes eu estava limpa e seca e, então, a caixa de energia desapareceu. Eu ainda precisava vestir alguma coisa e ansiei por algo para vestir. Eu preferia não colocar a roupa de Ishtar novamente. Eu simplesmente queria algo mais... sofisticado.

E então eu vi  se materializado ao meu lado, flutuando no ar, uma espécie de vestido que era também um macacão. Era uma veste sofisticada, provida de tecnologia e beleza. O tecido, apesar de translúcido, não permitia que meu corpo fosse visto. Ele também mudaria de cor sempre que preciso, indicando que alguma funcionalidade havia sido acionada, para aquecer ou refrescas, para endurecer como um colete a prova de balas ou se tornar totalmente maleável e gracioso como um lindo vestido de festa. Pelo visto, as tecnologias usadas por essas diferentes raças eram semelhantes.

Nova Ordem (Livro #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora