Capítulo 26

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De forma rápida, o garçom se aproximou para colher nosso pedido. Ambos tinham sua atenção em mim, aguardando que eu pedisse.

— Ainda tem aquilo que comi aqui no almoço?

Preferi falar em voz alta. Por algum motivo, eu não estava interessada em fazer o jogo desse mundo réptil. Eu só queria mesmo comer e sair da presença do Czanor. A memória do que quase aconteceu entre nós soava como um alarme para que eu não baixasse minha guarda por um instante que fosse.

Em respeito à minha opção de comunicação, o garçom respondeu verbalmente.

— Certamente, honrada mãe.

Essa história de ser mãe pra todo mundo já estava começando a me cansar. Talvez, fosse somente a presença de Czanor que me deixava inquieta, ansiosa. Melhor focar na comida e depois em ir dormir. Mas onde eu pousaria hoje? Preciso encontrar Bruno. Preciso ter mais controle sobre minha vida.

Bem que eu poderia chamar o Bruno agora e pedir que me dê minha bolsa, minhas coisas, sejam elas quais forem.

Czanor continuava me olhando daquele jeito. Um olhar de quem estava prestes a avançar na presa. Eu continuava sentindo a já conhecida atração, e ela me irritava, pois significava que havia algo implantado em mim para forçar uma união física com Czanor pelo mero propósito reprodutivo. Repugnante.

Sem pressa e tentando demostrar o máximo de calma e indiferença possível, fui pegando pedaços de torrada e de caponata. Levei o pedaço da comida até a boca e abocanhei tudo de uma vez. Nossa, como eu estava com fome. Fechei os olhos e saboreei o alimento, sorvendo o sabor e sentindo sua textura. Eu estava totalmente concentrada na comida quando ouvi um gemido baixo vindo do Czanor. Abri os olhos rapidamente como se tivesse acabado de me dar conta de que não estava sozinha. Levantei os olhos e dei de cara com os olhos azuis semicerrados e brilhantes... Ele estava se excitando em me ver comer.

— Continue. -- Ele disse com voz rouca e contida.

Ele estava rígido como uma estátua e olhava pra mim como se temesse fazer qualquer movimento, por menor que fosse. O quanto ele estaria desconfortável com minha presença?

Decidi aproveitar o acesso que ele me dava e tentei captar sua intenção. Eu precisava saber se eu estaria sob alguma ameaça. Afinal, eu estava sozinha em um lugar desconhecido com uma pessoa que me via com um meio para alcançar seus propósitos, afinal, Czanor tem como missão ser o reprodutor, o pai da nova espécie.

Deixei que minha consciência se aproximasse da dele, quando senti intensa energia que ele continha como quem segura um touro pelo chifre. Recuei, assustada com a intensidade dessa energia que era ao mesmo tempo feroz e submissa.

Ele sabia que eu o havia acessado e recuado. E agora? O que eu faço?

— Apenas coma, pequena.

Ele não poderia ter ouvido meu pensamento. Eu estava isolada. Certamente minha expressão fácil de ler não passou desapercebida.

— Claro. Só estou esperando o jantar.

Quão grande foi a minha alegria quando dois garçons trouxeram as bandejas com os pratos quase idênticos aos do almoço.  A exceção era uma espécie de farofa amarela.

— O que tem nessa farofa? -- Perguntei ao garçom.

— Trata-se de uma mistura de farinha de amêndoas e farinha de mandioca temperada com azeite, cebola, alho, açafrão e sal, grande mãe.

— Pode deixar que eu me sirvo.

Os garçons obedeceram prontamente e logo só havia eu, Czanor e a mesa cheia de comida entre nós.

Nova Ordem (Livro #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora