Capítulo 10

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Todos sabíamos o que fazer no milésimo de segundo seguinte ao alerta, como se a informação sobre nossa ação tivesse sido recebida junto com o alerta, em alguma forma de download embutido.

Thera simplesmente desapareceu deixando temporariamente um vazio na água que foi imediatamente preenchido. Juki se moveu tão rapidamente que mal pude ver o espectro de luz se movimentar da piscina em direção às suas roupas que estavam posicionadas em um canto ao lado da piscina de lama.

Os demais corremos cada um em direção às suas respectivas roupas, vestindo-as imediatamente. As minhas demostraram ser também um artefato pois já estavam secas e se ajustaram perfeitamente ao meu corpo, enrijecendo como uma armadura flexível e leve que assumiu imediatamente a cor prata. Eu estava oficialmente em missão agora.

Tentei transportar-me até o local onde já sabíamos que nos esperavam mas, para desapontamento meu, nada aconteceu.

— Mas como?

Para sua proteção, lembre-se.

Proteção... Contive o impulso réptil de raiva e indignação frente à necessidade de controle e agradeci pela proteção.

— Obrigada, Vulteran . Espero que essa proteção não seja necessária por muito tempo.

Certamente não. Todos ansiamos por isso.

Havia aprovação na vibração da voz de Vulteran . Alegrei-me com isso e corri em direção ao corredor externo à sala das piscinas onde já havia um transporte holográfico aguardando.

Resgatei a memória de Bruno falando sobre a necessidade de conhecer a tecnologia antes de usá-la. Mas e agora? Eu não sabia como ela funcionava e sequer como interagir com ela.

De qualquer forma confiei que havia inteligência suficiente ali para saber o que fazer independentemente da minha ignorância.
Atravessei a parede de energia e sentei em um dos bancos, me concentrando onde eu queria estar. Mas ele não se moveu. No lugar de frustração ou raiva, senti uma ligeira pontada de tristeza arranhar meu peito. Antes que tal pontada pudesse ganhar força, Zamudi adentrou o veículo pelo mesmo lugar que eu, sentando-se ao meu lado.

— Partiria sem teu irmão em armas, Ishtar?

O sorriso de Zamudi era maior que um sorriso humano, quando observei que a quantidade de dentes que ele tinha também era maior. A risada grave do jovem me deu a certeza de que ele achava graça em minha observação e aproveitei para olhar melhor dentro de sua boca e então perceber que se tratava de uma arcada dentária com duas fileiras de dentes perfeitamente brancos.

— É para mastigar melhor!

Parafraseando o lobo mau da fábula da Chapeuzinho Vermelho, sua risada ganhou novo impulso e não pude evitar gargalhar junto com ele. Entre as gargalhadas o veículo partiu e assumiu considerável velocidade e, como que retornando à missão em mãos, ele me falou mentalmente que havia observado minha atitude diante da máquina e que logo eu interagiria não somente com os veículos de luz mas com toda a tecnologia na estrutura de cavernas, pois eram uma só.

Eu não poderia discordar deles que antes que eu tivesse acesso a sua tecnologia eu deveria poder confiar ao menos em mim mesma.

Como um bebê ao qual ainda não podem ser confiadas as chaves do avião, Ishtar.

Havia algo de humano na fala de Zamudi, mas ele não era humano e algo parecia fora do lugar.

— Estudei a superfície sem haver tomado parte dela. Aprendi com a tecnologia de interação que temos. As mostrarei quando chegar a hora.
Aqui eu não precisava me preocupar em verbalizar pois todos, ou ao menos a grande maioria dos seres circulando pelo lugar, podiam entender pensamentos.

Logo, uma nova onda de informações adentrou nossa mente. Estávamos diante da sala de naves onde dezenas de seres se movimentavam adentrando as naves em pequenos grupos de seis a dez de cada vez.

Não havia portas nas naves que pareciam reduzir a densidade da luz de suas paredes para dar acesso aos seres de diferentes densidades entre si. Havia seres felinos, outros altos azuis, alguns louros e fortes, outros ainda morenos como índios e tantos outros que se misturavam. Apesar da diferença entre cada um deles, havia harmonia em suas ações pois estavam interligados por um propósito, sem nunca perder sua individualidade, apesar do sentimento nítido de que ali eram todos um.

Descemos rapidamente do transporte que parou próximo à parede sendo imediatamente absorvido por ela como da vez anterior. De forma clara todos sabíamos para qual nave nos dirigir. Eram naves cedidas pela Federação, todas iguais e de tecnologia compartilhada capaz de interagir com diferentes outras tecnologias dos planetas confederados.

Bruno, Cláudia e os felinos Monikin e Kara já nos aguardavam diante da nave a nós reservada.

Sem saudações ou demoras, adentramos na nave, sendo Bruno o último a entrar. Ele era o comandante da pequena nave e isso era claro para todos nós ali. O conhecimento já havia sido compartilhado e as instruções recebidas não deixavam dúvidas. Não havia vaidade na Federação. Havia unidade e o senso de que cada um faria o que lhe caberia a favor do todo.
Senti-me acolhida e emanava de mim o sentimento que Vulteran havia me mostrado pela primeira vez em meu recinto: amor e serviço.

A nave era maior por dentro que por fora e no centro dela havia seis acentos, um para cada um de nós, posicionados em forma de círculo onde cada cadeira estava virada para fora, em direção às paredes da nave.

De forma impressionante, ao menos para mim, a pequena nave se apresentou como parte de uma nave maior. Ali estava um organismo biológico e energético independente, uma tecnologia consciente capaz de interagir com nossas consciência. Não havia comando como o que eu esperaria ter em um avião.  Havia apenas os acentos grandes e com aparência confortável apesar de simples.

Logo que eu sentei senti uma onda de energia me percorrer de dentro para fora enquanto o acento se ajustava ao meu corpo. Era como estar flutuando.

Olhei para os lados e vi que era difícil ver os outros tripulantes. Mas não era necessário vê-los, pois eu podia senti-los como se cada um deles estivesse dentro de mim e como se eu mesma estivesse dentro de cada um deles. Logo eu podia sentir a posição de cada uma das demais naves e quantos tripulantes havia em cada uma delas, bem como quem eram eles e o que sentiam. Estávamos conectados como células de um mesmo organismo.

Eu estava na Federação e a Federação estava em mim! Os Répteis certamente não sabem que é assim e mesmo que soubessem nunca entenderiam.

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Nova Ordem (Livro #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora