Capítulo 9

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Acordei sem ter sequer me dado conta de que havia adormecido.  Era como abrir os olhos pela primeira vez pois era como se tudo tivesse um novo ânimo, um novo sentido.  E esse entendimento me trazia calma e tirava de mim o imediatismo de querer fazer o que eu achava que deveria ser feito, pois agora eu sabia que o “eu” não existia mais.

Levantei da cama para iniciar o novo dia, que aqui não era delimitado por um ciclo de horas com começo e fim. Era como se todos os moradores das cavernas tivessem um relógio interno em sincronia uns com os outros de tal forma que sabíamos o momento de acordar, de se alimentar, de agir... Todos sabiam o que acontecia nas áreas consideradas comuns da caverna.

Nesse momento eu começava uma pequena rotina de limpeza, onde eu utilizaria um pano e o molharia numa pequena poça dentro de uma endentação na parede através da qual um fio de água de cor esbranquiçada fluía docemente, produzindo um calmante som de tilintar.  Essa era uma solução para higiene que me havia sido providenciada para que eu tivesse privacidade.  O toalete era constituído de um buraco no chão sobre o qual eu me agachava sempre que necessário. 

Mas eu sabia que aqui privacidade representava isolamento, o que não era algo muito bem visto.  A maioria dos seres apreciava toda e qualquer oportunidade de estar junto uns dos outros, compartilhando e apreciando a companhia, pois cada momento de proximidade representava troca, aprendizado e o exercício do viver.

Então, tomei uma decisão libertadora.  Introduzi minha mão na pequena endentação na parede e logo a pedra que era a porta, rolou para a direita me dando acesso para fora do recinto.  Caminhei uns poucos minutos e adentrei um corredor logo muito bem iluminado e com diversos cristais que cravejavam as paredes, produzindo luz e emanando uma frequência relaxante e curativa.

Em pouco tempo eu adentrava uma sala com luz mediana que emanava em diversas cores de cristais que pareciam brotar nos cantos dessa sala com jeito de caverna.

Olhei ao redor e percebi diversos seres despidos que se banhavam na grande piscina rodeada de pequenas cachoeiras, fazendo com que a atmosfera se enchesse de um som borbulhante de água morna batendo sobre a rocha.  Havia um suave perfume de folhas e flores emanado pela vegetação rasteira que se espalhava pela parte superior das cavernas e entre a vegetação, pequenos insetos voadores cintilantes pareciam dar mais beleza à cena. O lugar era lindo e mágico.

Deveria haver pouco mais de vinte seres espalhados pelo lugar.  Enquanto alguns pareciam relaxar nas águas ligeiramente esbranquiçadas da grande piscina, outros estavam num canto mais ao fundo, numa piscina do que parecia ser uma argila fluida e muito escura.  Tudo o que dava para ver em alguns seres imersos na lama, era o cintilar de seus grandes olhos translúcidos, e eu não pude evitar achar isso engraçado.

Caminhei margeando a parede de rocha cintilante até uma pedra plana e inclinada.  Ali eu me despi e em seguida mergulhei minha veste de duas peças numa poça onde corria água similar à que eu tinha em meu recinto, só que essa poça era maior.  Mergulhei minha veste e a torci algumas vezes, depositando-a sobre a pedra onde a deixei secar enquanto me dirigi até a piscina de lama, reunindo-me com outros três seres que estavam lá. 

A energia que se misturava à lama vinha em parte dos seres que estavam imersos nela. Era como uma troca na qual a lama retirava qualquer tipo de tensão enquanto recarregava o corpo dos seres com energia vital.

Senti-me totalmente acolhida tão logo submergi meu corpo e telepaticamente agradeci por estar ali com eles.  Era minha primeira vez naquele lugar e todos, sem exceção, pareciam estar empolgados com minha presença. Mas havia algo a mais...  Eles percebiam que eu estava diferente e se alegravam com isso, como se a cada momento eu fizesse mais parte do grande grupo.  E eu também estava alegre...
Junto comigo na piscina de lama estava Juki, Thera e Zamudi. 

Nova Ordem (Livro #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora