O momento de explorar o grande pomar havia terminado e eu precisava... eu tinha que ver o Bruno. Algo me dizia que havia alguma coisa intensa no que ele havia feito. Eu precisava saber o que era e o que isso tinha a ver com a missão maior de livrar a Terra da opressão dos Répteis.
Enquanto eu pensava na conversa que teria com o Bruno, permiti que meu corpo, como que autonomamente, me levasse até ele. Após um tempo caminhando e me concentrando em sua vibração, me dei conta de que o lugar para onde eu estava me dirigindo me era inesperadamente estranho. Como eu não havia estado aqui antes? Imaginei que eu já havia percorrido tudo aqui, cada caverna e escadaria.
Parei e olhei ao redor. Eu estava no que parecia ser um corredor muito largo, de paredes lisas e teto alto e arredondado. As paredes eram feitas de de rocha clara e brilhante como se fosse revertida de purpurina branca. O chão era coberto por um pó muito fino e acinzentado que parecia estar preso no chão, como se um campo magnético o mantivesse ali. Eu nunca havia estado nesse lugar.
Decidi caminhar com cautela e, mais uns passos à frente, um grande salão surgiu. Ele estava repleto dos seres dos quais senti falta durante o dia. Fiquei impressionada com a presença de pequenas naves redondas e acinzentadas alinhadas no chão, como que estacionadas. Havia dezenas dessas naves. Uma delas era consideravelmente maior, pelo menos o triplo do tamanho das outras, e seu formato era esférico, com a parte superior e inferior ligeiramente achatadas. Ela parecia ser totalmente hermética.
Os seres caminhavam, um pouco agitados, de um lado para o outro enquanto outros saiam das naves, aparentemente atravessando as paredes. Eles estavam sérios e pareciam estar ainda focados em seja lá o que tivessem feito.
Apesar de sua forma parecer muito com a humana, era fácil perceber que não eram. A maioria deles tinha pouco ou nenhum cabelo e eram esguios e altos. Alguns tinham pele que variava entre o bege muito claro ao azul vibrante, em padrões que faziam lembrar finas listras que partiam das extremidades de têmporas e pescoço. Imaginei que o restante do corpo deveria ser assim também.
Fiquei parada próximo à entrada daquele salão enorme, observando o movimento por algum tempo. Eu sentia que o Bruno estava por ali, mesmo sem vê-lo. Sentir sua presença já me tranquilizava o suficiente para manter meu foco em observar o que acontecia.
As fêmeas pareciam ser em maior número e eram lindas, algumas andrógenas e outras pareciam modelos humanas, perfeitas e lindas. As fêmeas de uma das espécies me fizeram lembrar os humanos alienígenas que combateram no morro. Ao lado delas haviam machos como elas, igualmente lindos e perfeitos.
Os humanoides de cor azulada não eram tão altos, mas suas cabeças eram consideravelmente maiores que a dos demais seres. Elas se alongavam na parte de trás onde era possível ver algumas manchas em tons um pouco mais escuros de azul. O formato dessas cabeças era arredondado na parte de trás, como se, ao alongar-se, ela também expandisse. Os olhos eram muito grandes, muito brilhantes e extremamente expressivos, com uma cor que me fazia lembrar cristal cinza claro azulado. Deles emanava uma energia que eu somente poderia chamar de bondade.
Subitamente, meu olhar foi capturado por uma visão totalmente inesperada: de uma das naves, saíram, como que atravessando a parede, um grupo de seres altos e largos de corpo. Eles eram fortes e emanavam uma força que eu não havia sentido antes. Seus corpos eram cobertos por um pelo muito fino e denso. Em suas cabeças os pelos eram mais longos e em maior quantidade. O que mais me impressionava, além da força e largura de seus corpos, eram os seus traços, que eram de felinos. Eles possuíam lindos olhos amendoados e grandes e bocas que certamente continham dentes longos e pontiagudos. Eram totalmente felinos e lindos... O ser, que era o maior dentre eles, possuía uma grande cabeleira dourada e presa num coque no alto da cabeça. Vi quando ele parou por um momento, como se tivesse sentido algo no ar. E então, ele olhou pra mim. Fiquei totalmente paralisada, sem saber como reagir. Eu estava relativamente longe de todos eles e, mesmo assim, ele me localizou. Está certo que aqui todo mundo parece que sente onde todos estão, mas essa olhada do leão me pegou de surpresa.
Eu já havia decidido sair de fininho, certa de que eu talvez nem devesse estar aqui, quando fui pega de surpresa mais uma vez, no momento em que o grande felino inclinou sua cabeça sutilmente para frente em uma clara saudação, ao mesmo tempo em que balbuciava a palavra Ishtar.
Percebi, então, que não somente os outros felinos, mas diversos seres haviam parado o que faziam para me saudar também.
— A Aliança Shey te aguarda, Ishtar-Tiam.
A voz de Vunteran me deu o empurrão que faltava para que eu reagisse. Então, lentamente caminhei em direção ao meio do salão, com o máximo de tranquilidade que eu pude reunir, tentando fazer a melhor cara de normalidade que eu consegui.
E cadê o Bruno?
Naquele momento, tudo parecia estranhamente no lugar. Eu me sentia em casa, como se todos fossem minha família. Na verdade, eu sentia a atitude de união e harmonia que havia entre eles todos, unidos pela mesma causa. Eu sentia o que eles sentiam. Eles eram família. Uma família intergaláctica que havia me adotado.
Parei entre eles e olhei ao redor, absorvendo as faces e o sentimento harmônico que os ligava. Senti também que estavam esperando algo de mim, que me aguardavam.
Subitamente, percebi a presença do Bruno movendo-se em minha direção e se tornando mais forte. Em poucos segundos eu já o avistava. Caminhando próximo a ele estava Claudia e um homem, certamente um humano.
O homem parecia o tipo que se vê caminhando na rua ou dentro de um supermercado. Sua presença destoava de tudo ali, como se estivesse no lugar errado. Ele estava nitidamente aborrecido, com testa franzida e rosto avermelhado. Seu cabelo escuro e ondulado estava desgrenhado. A barba por fazer completava a aparência de quem não estava em um bom dia. Frustração e tristeza é o que eu sentia nele. Apesar do humano ter chamado minha atenção por parecer totalmente fora do lugar, eu decidi não me preocupar com ele agora. Afinal, havia dezenas de seres olhando pra mim como se eu fosse a debutante do baile.
Foquei no Bruno que estava, assim como eu, em sua forma verdadeira, todo verde e com escamas que pareciam um padrão exótico de tatuagens. Seus olhos grandes e amarelos pareciam ficar mais marcantes ao lado da figura pálida e luminosa de Cláudia. Foi um alívio revê-lo! Caminhei em sua direção, enquanto saudava aos seres no meu caminho até ele.
Ele vestia a mesma roupa com a qual eu o havia visto mais cedo. A diferença é que agora a roupa estava ajustada ao seu corpo como uma armadura e, em sua cintura e pulsos, havia o artefato que se assemelhava a um cinto e a um bracelete. Era possível perceber a força de seus músculos sobressaindo à sua aparente magreza.
Assim que ficamos próximos o suficiente, ele tocou sua testa na minha, instantaneamente me transmitindo o que sentia, bem como imagens de onde ele havia estado e o que tinham feito.
Prendi a respiração e absorvi todas as informações que entraram em minha consciência de uma única vez, se escondendo imediatamente em um canto da minha memória, como uma caixa que é colocada em uma gaveta. Eu sabia que Bruno havia me contado tudo, mas preferia que eu acessasse essa informação em outro momento.
Seus olhos ternos e amarelos me olhavam com carinho. Ele, assim como os outros, me queria nesse grupo. Não pude evitar sorrir para ele.
— Obrigada, Bruno.
— Espere para descobrir o que te contei antes de decidir se me agradecerá.
Seu sorriso trouxe um tom de advertência e tristeza que instigou ainda mais a minha curiosidade.
— Ainda hoje você saberá. — Eu disse, ansiosa para descobrir o que era.
Uma mão em meu ombro me chamou a atenção para a Cláudia que também sorria pra mim.
— Bom te ver, Lene. — Seu sorriso era largo e perfeito.
— Oi, Cláudia! — Sorri e a abracei pela primeira vez, como se não a visse há muito mais que dez dias.
Ela estava linda, vestindo uma roupa parecida com a do Bruno. Da última vez que a vira, ela estava vestida assim, enquanto combatia os Répteis e protegia os moradores do morro. Seu olhar parecia querer compartilhar várias coisas comigo para encurtar o tempo que eu levaria para me juntar à Aliança. Com certeza, eu contaria com ela para me ajudar.
O grupo começava a dispersar ao meu redor. Enquanto alguns caminhavam em direção ao corredor por onde eu havia chegado, outros desapareciam em uma luz forte que disparava flashes próximos a uma das naves. A cada clarão alguém sumia, transportado para outro lugar. Estavam voltando para suas bases.
Olhei ao redor e somente um dos seres continuava nos observando: o leão de coque.
— O nome dele é Monikin e está ansioso para te conhecer.
Cláudia parecia ter tomado a frente em me entrosar com o pessoal. Mas eu não estava certa se queria conhecer o tal leão. Ele me intimidava.
Sem desviar o olhar de nós, Monikin caminhou em nossa direção com graciosidade e força intimidadora. Juro que me contive para não me esconder atrás do Bruno, mesmo sabendo que o felino não me machucaria.
Em poucos passos, ele estava na nossa frente, quando percebi que ele não olhava somente para mim.
— Olá, Monikin. — Resolvi falar primeiro, projetando meu queixo à frente, demonstrando que eu não estava nem um pouco intimidada.
Sua resposta veio na forma de um grunhido baixo e rouco, seguido de uma mensagem telepática.
— Cramos saúda Ishtar da Terra.
O grande felino então projetou seu braço para frente, virando-o e trazendo-o de volta, tocando o peito com o dorso de sua mão direita, saudando-me em um movimento rápido e gracioso. Se eu não tivesse sentido sua intenção pacífica, certamente teria pulado para trás do Bruno.
Sem saber direito o que fazer, repeti o gesto o mais parecido com o dele possível.
Ao meu lado, Bruno e Cláudia também estavam com a mão no peito. Não o dorso, mas a palma. Me preocupei em ter cometido alguma gafe.
O leão pareceu ter gostado do que viu, pois sorriu contidamente antes de se despedir com outro gesto de cabeça, saindo em seguida.
— Alguém me explica isso, por favor?
Menos de um segundo depois, Cláudia me respondia em voz alta e eufórica.
— Você acaba de se oferecer para lutar com eles em suas batalhas!=========♡=========
Quem aqui também pensou nos Thundercats? _o/
Espero que tenham gostado.
Por favor, votem e comentem!Beijo grande! ☆
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Nova Ordem (Livro #2)
Science FictionEm Nova Ordem, a sequência de Nova Drasskun, Brigitilene é agente da causa Shey infiltrada na Sociedade, o governo oculto. Ela terá que descobrir o máximo que puder para derrotar os opressores da Terra, enquanto controla a réptil dentro de si, a fim...