— Então você é o plano B, caso as coisas com TK não deem certo? – Perguntei, menos na defensiva. – Por acaso tem alguma lista de caras com quem devo me casar? Porque são tantos que surgem do nada que acabo confuso.
Jessie riu do comentário, colocou as mãos nos bolsos e me observou.
— Você é diferente de como imaginei – revelou. - É bom ter senso de humor levando em conta tudo o que vem acontecendo. Soube que entrou de paraquedas depois do pacto dos nossos pais. Sinto muito por você ter que passar por isso sozinho.
Desde que tudo começou ninguém tinha dito algo assim para mim. Sinceramente, não sabia como lidar com meus sentimentos e não fazia ideia sobre como agir sendo obrigado a me casar com TK. Depois que apanhei, a confusão apenas aumentou. Estava cada vez mais perturbado com relação ao futuro. E agora Jessie me olhava daquele jeito atencioso.
Ele era bonito – chegava a superar o TK – e eu não sabia ao certo como lidar com aquele frio repentino na barriga.
— Então – começou ele, depois de caminhar até o sofá e sentar-se. Me vi convidado a fazer o mesmo. – Conte, como andam as coisas com o TK? Está disposto mesmo a se casar com ele?
— Sim, é claro. Quer dizer, ele me ajudou muito com meu pai e querendo ou não a gente se uniu bastante. Não fico tão desconfortável quando me lembro que em breve ficaremos mais próximos.
— Mesmo assim tem algo que te incomoda, não é? Vamos lá, não precisa mentir.
— Digamos que não estamos tendo um bom dia, mas tenho certeza de que é algo passageiro.
— E por acaso foi ele quem fez isso com o seu rosto?
A pergunta me deixou sem graça. Passei a mão de leve no machucado e neguei. Jessie ficou em silêncio alguns segundos e então retomou a palavra.
— Sabe, não precisa se sentir obrigado a fazer algo que não queira. Essa mansão não é uma prisão. Se algo te deixar desconfortável, deve falar.
— Não é como se realmente houvesse uma escolha. Tenho que casar ou pessoas morrem.
— Foi isso que o TK disse?
— Foi isso o que meu pai disse. Por quê? Não é assim que o pacto funciona?
— Em parte. No nosso ramo pessoas morrem de qualquer jeito, isso seria apenas mais uma escolha a ser tomada. O casamento funciona como uma junção de poder. As riquezas das famílias iam aumentar. Quem não gosta disso? É uma justificativa maior do que a guerra que poderia ou não se iniciar.
Congelei quando ele disso aquilo. Não podia ser verdade, podia? O casamento funcionava mais para a ampliação do poder das famílias do que para evitar uma luta?
Tentei lembrar que, por mais Jessie fosse empático, ele ainda era um desconhecido. Com certeza ele queria algo me revelando aquilo.
— É isso o que você também quer? Aumentar a fortuna da sua família – questionei.
— Acredito que só existam prós com esse casamento. Riqueza, influência, evitar o banho de sangue e ainda ter uma bela companhia ao meu lado. Confesso que não me importaria em casar com você. Ainda mais vendo o quanto é uma gracinha.
Ele se aproximou um pouco e colocou a mão sobre a minha coxa. Me arrepiei um pouco. A aliança dele saltou aos meus olhos.
— Achei que você já fosse casado – pigarreei.
— Hum, não... - ele afastou a mão e pareceu sem graça. – Eu tinha quinze anos quando minha esposa engravidou. Juntamos os nomes e levamos tudo adiante até quando deu.
— E o que houve?
— Amanda morreu no parto e nunca tive coragem de tirar a aliança. Afinal, ela foi o grande amor da minha vida.
Falei que sentia muito e ele voltou a colocar os olhos em mim. Jessie era um cara sedutor e confesso que fiquei balançado ao longo da conversa.
— Perder meu filho e Amanda assim tão de repente... Aprendi a ter responsabilidade, comecei a trabalhar sério com o meu pai e hoje sou uma pessoa que não foge das obrigações. Muito diferente do TK, não acha?
— Vocês são mesmo diferentes.
— Pode apostar que sim... - ele chegou mais perto e minha respiração falhou.
Senti que algo ia acontecer, que a gente acabaria se beijando se continuássemos com aquilo. Tudo era insano!
Por isso me afastei e por um segundo foi como se o olhar dele tivesse se transformado por conta da rejeição. Enxerguei raiva.
— O que está acontecendo aqui? – Perguntou TK, quando surgiu do cômodo.
Saí às pressas de perto de Jessie e me levantei num salto. A expressão de TK era de abalo, como se tivesse me flagrado em uma traição. Talvez, de certa forma, até fosse. Céus, eu estava flertando com o irmão dele!
— Olá, TK – disse Jessie, com a maior calma do mundo. – Vim aqui ver como você está. Cansou de ser um homem de família? Falei com o Júnior que caso as coisas não estejam indo bem entre vocês já posso assumir seu posto. Não seria sacrifício nenhum.
— É claro, o puxa-saco do papai adoraria ganhar essa também, não é mesmo? Mas a tarefa é minha. O Júnior é meu.
Queria contestar aquilo, mas em briga de irmãos ninguém mete a colher. Achei melhor ficar em um canto e me calar.
Jessie se levantou, arrumou o terno e foi até TK. Colocou as mãos sobre os ombros do irmão e sorriu.
— Tom também estava aqui e ameaçou te jogar em uma clínica caso não se comporte – contou. – E quando ao papai, ele está ansioso para conhecer o novo genro. Traga o Júnior para um jantar amanhã. Rey também está convidado.
Antes de ir embora, Jessie se virou para mim e piscou.
— Nos vemos amanhã.
Acompanhei os passos dele até a porta. Quando ela se fechou, olhei para TK e a cara dele revelava puro ódio. Depressa, ele me agarrou pelo colarinho da blusa e explodiu.
— Não pode fazer isso comigo – ele disse, sério. – Pode transar com quem você quiser, mas se ficar com o meu irmão nunca vou te perdoar, entendeu? – Ele pareceu um tanto choroso, olhou para o chão e balançou a cabeça. – Com ele não!
Confirmei, assustado com aquela reação dele.
— Eu entendi, não vou. Me desculpe se te magoei.
— Esqueça – ele foi se acalmando aos poucos – É só que... Da próxima vez que ele vier me chame. Há pessoas perigosas demais no nosso ramo. Não pode ficar de papo com qualquer um que aparece dizendo ser da família.
TK me soltou depois disso, alisou meu peito por um instante e pareceu tentado a pedir desculpas pela reação exagerada. Mas não o fez. Ao invés disso se afastou e começou a atirar a camisa. Jogou ela em cima do sofá e depois arremessou a calça em um outro canto.
— O que é isso?
— Vou para a piscina – ele explicou. – Mas se quiser transar também podemos.
— Dispenso essa.
—Você é quem sabe.
E piscou de um jeito exatamente igual ao de Jessie, antes de ficar apenas de sunga e ir para os fundos.
Minha nossa! Acho que esses dois ainda me levariam à loucura.
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Oi, galera!
A música deste capítulo eu quis postar no outro site (em que publicava esta história antes), mas nunca surgiu a oportunidade. Então aqui está, a canção que nos ajuda a capturar a áurea dos irmãos (Jessie e TK). Espero que estejam curtindo a história. Porque haverão algumas mudanças daqui para frente ^^
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Pacto de Gangues (Romance Gay)
General FictionGay | + 18 | Classificação indicativa. Thiago sempre acreditou não ter um pai, até o dia em que o colocaram frente a frente com Rey - um homem frio e calculista. Não demora para o jovem se descobrir herdeiro de um negócio milionário de tráfico de...