Me acostumei com a nova moradia, mesmo não sendo bem um lar. Todos os dias acordava e me deparava com gente desconhecida circulando pela mansão. Pessoas que trabalhava para o meu pai e acordavam cedo para as tarefas diárias, a maioria envolvida na entrega dos caminhões com drogas cujos destinos variavam dos setores urbanos mais ricos da cidade até as favelas e bairros pobres. O pó branco era comprado em todo lugar. E o lucro era alto!
Dinheiro, armas e drogas. Três coisas que nunca tive e que agora me rodeavam aos montes.
Em geral, achava estranho ficar perto de tantos criminosos, mas eles me respeitavam e me tratavam como o futuro chefe, herdeiro de um império. Os empregados morriam de medo de mim, por isso era raro ficarem próximos enquanto eu circulava pelos ambientes. TK era a única constante desde que minha vida se tornou essa tempestade em alto mar e aos poucos ia me deixando levar pelos meus sentimentos por ele.
Começava a pensar que talvez não fosse ruim nos casarmos.
— Coloco mais chocolate? – Perguntou o garoto dos olhos mais azuis que já vi na vida, fitando a tigela com os ingredientes dos biscoitos.
Me apressei e tirei o pacote das mãos de TK antes que ele estragasse tudo.
— Temos chocolate suficiente.
Guardei o chocolate em pó e ele sorriu, me agarrando por trás e me prensando na bancada da cozinha enquanto beijava meu pescoço.
— Chocolate nunca é demais – sussurrou no meu ouvido.
— Pare de me encoxar. Assim irá me atrapalhar.
— Puf, tudo bem então – ele reclamou, sentando-se na bancada da cozinha. Em momento algum tirou os olhos de mim. – Isso aí vai demorar?
— Não sei, normalmente é John quem cozinha.
— Acho que escolhi o irmão errado então.
Ele riu, sacana, e o belisquei antes de me afastar.
Estávamos há apenas uma semana juntos e começava a gostar cada vez mais dele. Achava legal o jeito como sempre me queria por perto e o via como um bom amigo. Sim, "amigo", porque havia vários travesseiros nos separando na cama – eu mesmo coloquei um por um, mesmo que todas as manhãs acordássemos abraçados.
Ainda estava arredio quanto à nossa união. Descobrir que TK era viciado contribuiu para que me afastasse um pouco, mas parecia haver um imã naquele rapaz. Não importava o quanto ele parecia errado para mim, sempre que me tocava eu ficava mais atraído por ele.
Coloquei os biscoitos no forno e fiz em seguida minha dancinha da vitória para indicar que tudo tinha dado certo.
Ele veio me beijar e dessa vez resolvi deixar.
Seus lábios eram doces, ele me segurava de um jeito mais bruto e gostoso que me fazia sentir nas nuvens e sempre era difícil me desvencilhar dos seus braços. Mesmo assim, era melhor não alimentar um monstro que parecia insaciável.
— Tenho que levar um carregamento daqui a pouco. Ficará bem sozinho?
— É claro, assim aproveito para conversar um pouco com meu pai.
— Ou pode jogar pimenta nos olhos. Deve ser mais divertido.
Ele me beijou com mais vontade. Queria me afastar, mas TK tinha uma pegada maravilhosa.
— Guarde alguns biscoitos para mim! – falou, com um sorriso gigantesco – Até mais tarde, bebê.
— Não me chama de bebê!
Aquela idiotice de procurar apelidos continuava, mas de certa forma achava aquilo cada vez mais meigo.
Quando ele foi embora me lembrei que ainda não sabia o significado de TK - não tive coragem de perguntar –, mas algo me dizia que o mistério não duraria muito. A forma como nos aproximávamos era a prova disso...
— Filho da puta! – O grito de Rey interrompeu meus pensamentos.
A voz do meu pai vinha da sala de estar e o alarde me fez correr até lá. Ao me aproximar pude vê-lo próximo de dois homens: um à frente, com a arma apontada para a cabeça do mais baixo, que chorava e implorava de olhos fechados para que não o matassem.
— O que está acontecendo aqui? – Perguntei, assustado.
Rey sequer virou o rosto. Continuou com a atenção voltada para o sujeito de joelhos. Puxou a arma para si, tomando o lugar do capanga e ameaçando a vida do homem que chorava feito uma criança. A tensão estava no ar, algo terrível estava prestes a acontecer e torcia para que não envolvesse sangue.
— Pai! Você não vai atirar nele, vai?
— Se quiser ficar para ver, não me importo – respondeu. – Mas cale a porra da boca ou não me responsabilizo pelo que farei com você!
Me afastei um passo e reparei nas notas de cem reais espalhadas em volta deles. Era mais dinheiro do que minha avó conseguiria ganhar em um ano de aposentadoria.
— Rey – tentei outra vez. – Por favor, não faça isso.
— Esse desgraçado tentou me roubar – explicou, trincando os dentes. – Fingiu que um dos caminhões havia sido roubado, mas pelo visto vendeu a mercadoria para alguém e quis ficar com a grana. Sabe o que acontece com quem tenta me passar a perna, filho?
Fiz que não, com a cabeça.
— Matar não é a solução para esse tipo de coisa - insisti - Você conseguiu o dinheiro de volta, não houve prejuízo.
— Aqui vai uma lição que não pude te dar antes, garoto: pouco importante o dinheiro, se não tiver o respeito de todos eles.
A arma foi engatilhada e não senti mais medo. Fui para perto dele e afastei a mão do meu pai.
Rey me fulminou com os olhos e – aproveitando o momento – o ladrão se levantou e começou a correr em direção a porta.
Torci para ele conseguir escapar, mas meu pai foi mais rápido e não precisou ajeitar a mira antes de atirar - a bala foi certeira nas costas do rapaz. O corpo gordo do ladrão caiu por cima do carpete branco e começou a inundá-lo de sangue. A bala atingiu as costas e o deixou imóvel no chão, agonizando.
Levei a mão à boca, imóvel. Aquilo era surreal para mim, jamais imaginei que veria tamanha violência.
Rey caminhou até o homem e disparou mais quatro tiros, dessa vez na cabeça do fugitivo.
— Sai daqui! – Rey gritou para o capanga que acompanhou tudo em silêncio.
Não quis ficar a sós com meu pai. Não depois do que vi. Infelizmente, quando o capanga saiu, não tive tempo para escapar. Me assustei ao ser pego pelo colarinho da blusa e um chute dele em minhas pernas me levou ao chão.
Rey me puxou com força, me arrastando em direção à poça de sangue que se formava no centro da sala. Me contorci, na tentativa de escapar.
— Olha para isso! – Ordenou, jogando minha cabeça para perto do corpo. Meu rosto bateu no sangue e ele arrastou minha cara na poça, me impedindo de respirar. – Sofrimento desnecessário! Sujeira desnecessária. E tudo por sua culpa!
O gosto do sangue chegou na minha garganta e tive vontade de vomitar.
— Nunca mais atrapalhe meus negócios! – Ele gritou, me chutando com força.
Depois me levantou, apenas para socar meu rosto com o punho direito.
Achei que fosse me matar ali, mas ele se conteve e aproximou meu rosto do dele.
— Nunca me contradiga ou da próxima vez será você ali. Eu mesmo te mato!
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Pacto de Gangues (Romance Gay)
Fiksi UmumGay | + 18 | Classificação indicativa. Thiago sempre acreditou não ter um pai, até o dia em que o colocaram frente a frente com Rey - um homem frio e calculista. Não demora para o jovem se descobrir herdeiro de um negócio milionário de tráfico de...