Depois que me deitei ouvi a porta se abrir e Jessie tentar não fazer barulho no caminho até a cama. Fingi dormir enquanto ele se desvencilhava das peças pesadas da roupa e se deitava ao meu lado.
Normalmente gostava quando Jessie se aconchegava e vinha me abraçar, mas naquele momento queria um tempo para mim mesmo — para pensar e refletir sobre como a chegada do TK mexeu comigo.
Sabia que um dia nos veríamos de novo, mas desde que me casei o tempo que passei com Jessie deixou esse reencontro cada vez mais distante. E agora lá estava ele, como hóspede no quarto ao lado e se recuperando dos ferimentos da emboscada com os caminhões.
Minha cabeça estava tão cheia que, quando senti a mão de Jessie encostar em mim por baixo das cobertas, me afastei.
— Desculpe – ele pediu, me dando um beijo de leve, na bochecha. – O dia foi longo, não deveria ter te acordado.
— Não estou afim agora. – retruquei, de mal humor. – Não quero que me machuque.
Mesmo no escuro, percebi que a expressão dele mudou quando falei aquilo, assim como a entonação da voz.
— Não ia te machucar, na verdade só queria tocar em você.
— Sempre que me toca eu fico roxo. Então desculpe por não querer nada hoje.
— Já falei que podemos parar se quiser, não precisamos de sexo para ter um bom casamento. Nunca te obriguei a transar comigo.
— ...
— Fiz algo errado?
Continuei sem responder.
Aquilo o deixou irritado, porque Jessie mexeu nas cobertas e tentou se levantar.
— Jessie? – me virei, antes que ele fosse embora – Aonde vai?
— Dormir na sala.
Afastei as cobertas e me sentei na beirada da cama. Suspirei alto, não entendo o porquê de todo aquele drama. Nunca tínhamos dormido separados desde o casamento.
— Não precisa. Tudo o que falei é que não estou afim.
— Você disse mais do que isso – rebateu. – Mas deixa pra lá, amanhã resolvemos tudo e quem sabe paro de te forçar a dormir comigo.
— Sabe que não foi o que eu quis dizer.
— Pois meu irmão acha que bati em você. Por acaso falou para ele que te maltrato, Júnior?
— Não me chame de Júnior.
— Responda a pergunta.
— Claro que não falei nada disso! – e gaguejei de nervoso. – Ele viu uma marca de quando a gente transou e se fixou nessa ideia estúpida. A culpa não é minha. Na verdade, é sua!
— Porque sou o vilão da história, é isso? O cara que não sabe transar de um jeito normal.
— Você nem mesmo tenta!
— Não me venha com essa – ele estourou. – Perguntei mil vezes se estava tudo bem para você e todas as respostas foram 'sim'. Sempre me preocupei contigo, parava no meio do sexo para perguntar se estava te machucando, e mesmo assim preferiu se abrir com meu irmão ao invés de comigo.
— O TK não tem nada a ver com isso.
— É claro que tem. Você e a Amanda, são todos iguais. Correm para ele como se eu fosse um monstro!
— Claro! Porque se você fazia isso com ela, não é à toa que a Amanda te deixou.
Só me dei conta do que disse quando foi tarde demais.
Levei a mão à boca, completamente arrependido, mas era tarde demais. Amanda continuava uma sombra em nossas vidas — mesmo Jessie tendo tirado a aliança dela do dedo para colocar a nossa, a ferida ainda estava aberta.
Jessie me olhou com desprezo e naquele momento me senti a pior pessoa do mundo. Quis me levantar e pedir desculpas, mas ele se afastou e acertou a parede com raiva.
— Nunca mais fale dela! VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO!
— Eu sei, sinto muito – falei arrependido. – Não deveria ter feito isso, falei sem pensar e sinto muito por isso.
— Foi cruel – ele disse, limpando o rosto. – Quer saber, você e TK se merecem!
Jessie saiu dali batendo a porta.
Ouvi barulho de chaves e corri para fora do quarto, só a tempo de vê-lo deixar o apartamento — sabe-se lá para onde.
Afastei o cabelo da testa e segurei as lágrimas enquanto pensava em uma maneira de reverter aquela situação. Foi então que reparei que TK estava fora do quarto de hóspedes, parado, me olhando enquanto mantinha a porta aberta.
— Briga de casal? – Ele perguntou.
— Não enche o saco!
— Calma, anjinho – ele disse, sorrindo. – Acredite, é até melhor se ele não voltar. Meu irmão não presta para você.
— Acho que ainda não entendeu – cuspi as palavras. – Estou CASADO com o Jessie. Pode ter sido um casamento arranjado, mas gosto dele, e na próxima vez que falar mal do meu marido vou quebrar a sua cara. Entendeu agora, 'anjinho'?
TK arregalou os olhos, surpreso pela minha reação.
Fui em passos rígidos de volta para o quarto, mas antes que fechasse a porta a voz dele me interrompeu.
— Ele fazia o mesmo com ela.
Voltei um passo ao ouvir aquilo.
— Escutei tudo o que disseram, as paredes são finas aqui – ele deu uma leve pausa e suspirou antes de continuar. – Fico feliz que Jessie não te bata, mas na época da Amanda era pior. Acho que por isso foi fácil conquista-la. A garota estava farta daquela vida.
Não disse nada, apenas olhei para TK, que de cabeça baixa tirou um cigarro do bolso e o acendeu.
— Larguei ela depois que ficou grávida, mas não esperava que aquela idiota fosse correr de volta para o meu irmão... Amanda era uma vadia, mas não merecia morrer daquele jeito. A grande verdade disso tudo é que Jessie e eu, nós dois, fomos responsáveis pelo que aconteceu com ela. – Depois me olhou com uma seriedade que raramente enxergava nele. – Se eu fosse você, se afastava de nós enquanto é tempo.
Entrei no quarto e fechei a porta sem falar mais nenhuma palavra com ele.
Lembrei como foi difícil para mim confiar no Jessie no início do nosso relacionamento. Sempre achei que havia algo errado no fato dele gostar daquelas coisas na cama, mas a vontade de me distanciar do meu pai foi maior e dei uma chance para ele.
Acho que precisava tirar um tempo para descobrir o que queria mudar na minha vida.
Talvez fosse mais fácil odiar os dois. Mas como conseguir fazer isso se até nos meus sonhos eles apareciam?
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Pacto de Gangues (Romance Gay)
General FictionGay | + 18 | Classificação indicativa. Thiago sempre acreditou não ter um pai, até o dia em que o colocaram frente a frente com Rey - um homem frio e calculista. Não demora para o jovem se descobrir herdeiro de um negócio milionário de tráfico de...