— Segure ele – disse meu irmão, rasgando a blusa do TK para deixar a ferida à mostra e virando o corpo dele. – Podemos tirar a bala, mas irá doer bastante.
— Ele ficará bem? – Perguntei, aflito.
— É óbvio que sim – respondeu meu irmão, colocando luvas descartáveis e me olhando, sério. – Depois vai ter que me contar no que você está metido, Thiago?
Talvez tivesse sido uma má ideia telefonar para John, mas eu precisava de alguém que entendesse de primeiros socorros e ele cursava enfermagem — era o mais próximo de um médico com quem poderia contar. Afinal, levar um gangster para um hospital estava fora de cogitação.
Colocamos o corpo do TK sob a bancada da cozinha, peguei a maleta com o equipamento do meu irmão e entreguei para ele. Quando John pediu, me posicionei para segurar o irmão do Jessie e percebi que havia outras feridas pelo corpo dele. Algumas antigas, outras estranhamente recentes. No braço dele havia um buraco de bala, mas nossa maior preocupação era a bala no abdômen, que sangrava pra cacete.
— Precisamos de algo para que ele não sinta dor – falei, preocupado. – Tem alguma injeção ou outro medicamento?
— Só tive tempo de trazer uma maleta de primeiros socorros. A única coisa que tenho são analgésicos e isso vai ser a mesma coisa que nada para ele – meu irmão pegou um bisturi e o embebedou em álcool. Em seguida, aproximou a lâmina do ferimento de TK e penetrou a pele.
No mesmo instante, TK se contorceu.
— Ele está acordando! – alertei.
— Segura firme! Não deixe ele se mexer.
Consegui segurá-lo devido a fraqueza dele.
Assim que TK se deu conta do que acontecia começou a gritar. Trincou os dentes e agarrou meu braço, apertando e tentando conter a dor.
John conseguiu tirar a bala, mesmo com dificuldade, e então aos poucos o ambiente foi se tornando mais silencioso. Foi nessa pausa que TK tentou me dizer algo.
— O quê? – Perguntei, aflito. – Você disse algo?
Me aproximei dele para tentar ouvir melhor.
— Eu quero... Vodka.
E desmaiou de novo, como quem pega no sono.
Não pude deixar de soltar um riso, aliviado por ele estar bem. A última coisa que queria era que TK sangrasse até morrer na minha cozinha e, mesmo naquelas condições, era bom finalmente poder vê-lo novamente.
Enquanto eu sorria, vi o olhar sério do meu irmão me fitar e baixei a cabeça.
Explicar tudo para ele seria complicado. Por isso nos concentramos em cuidar dos demais cortes do TK, limpando e costurando onde precisava. Tivemos que lidar com a febre dele e em seguida o levamos para o quarto — onde trocamos suas roupas e o deixamos confortável, com as cortinas fechadas.
Quando tudo terminou, voltei para a sala de estar com o John — sujo de sangue — e tentamos enfim conversar sobre o que aconteceu ali. Precisei aguentar o sermão que veio em seguida.
— Tudo o que vou dizer, é que não te criei para isso – reclamou ele.
— John...
— Primeiro foi o casamento. – continuou. – Você passa um mês sem me ver e de repente recebo um convite falando que vai se casar sem nem se dar ao luxo de conversar comigo antes. Agora, me liga às pressas e me faz cuidar de um homem quase morto. O que está acontecendo com você, Thiago?
— Desculpe, não quis te envolver em nada disso.
— E quem é esse drogado aí? – me perguntou. – Se for seu traficante, juro que te mato!
— Nunca me droguei! Você não tem nada com o que se preocupar.
— Um cara baleado aparece na sua casa e não preciso me preocupar? Acha que esse tipo de coisa é normal?
Tinha que pensar em uma boa resposta antes que aquela conversa saísse do meu controle.
— Aquele é o irmão do Jessie – revelei, pensando bem nas palavras. – Os dois têm problemas, então quando ele chegou aqui dessa forma não soube o que fazer, entrei em pânico e te chamei.
— Então ele veio procurar pelo irmão e não por você?
— Sim... Exatamente.
Aquilo me fez pensar um pouco.
Será que TK veio aqui por mim ou pelo Jessie?
Ouvimos um baque vindo do quarto e corri até lá, abrindo a porta de uma vez e vendo TK sentado na cama e olhando para as coisas que caíram da escrivaninha quando ele tentou pegar a água que deixamos lá.
— Minha nossa, deite-se já aí! – mandei. E tive que ir até ele e força-lo a me obedecer.
— Tenho que ir – disse TK, com uma tosse seca. – Preciso voltar para lá ou eles vão destruir tudo!
— Do que ele está falando? – questionou John, curioso.
TK viu que não estávamos sozinhos e se calou.
Quando a dor voltou, ele se contorceu um pouco na cama e me segurou para tentar acalmar-se.
— Acho que devemos chamar a polícia – falou John, cruzando os braços.
— Nada de polícia! – TK gritou.
— Fica calmo – pedi, preocupado com ele. Depois me voltei para John – Ninguém aqui vai chamar a polícia.
Meu irmão não pareceu satisfeito com isso, mas assentiu.
— TK é abreviação de quê? – ele perguntou.
— Do meu nome de batismo. – respondeu TK, de olhos fechados e segurando o abdômen dolorido. – O maldito nome que meu pai escolheu e sempre detestei.
Ele teve um acesso de tosse e não conseguiu mais prosseguir com a fala.
— Isso é normal? – perguntei para John. – Acha que a bala atingiu algo no pulmão?
— É fumaça – TK falou, e deu outra pausa para tossir. – Respirei um pouco daquela merda quando os caminhões foram queimados. Um mês limpo e decidem me intoxicar com fumaça de maconha e cocaína.
Olhei para John, que já estava de olhos arregalados por ouvir aquilo.
Percebi que era perigoso demais para o meu irmão continuar ali, se ele soubesse de tudo poderia ficar em perigo. Por isso pedi que ele me deixasse à sós com o TK e, quando tive certeza que não estávamos sendo ouvidos, me aproximei e sussurrei minha pergunta.
— O que houve com você?
— Fugi da clínica de reabilitação, mas fiquei limpo e tentei voltar para a família. Iria acompanhar os caminhões e provar meu valor depois do que fiz com você, mas acabei preso em uma emboscada. Homens armados atiraram na gente, roubaram o dinheiro e se livraram das nossas mercadorias.
— Por que fizeram isso?
TK se contorceu mais um pouco antes de conseguir forças para falar.
— Ainda não sei, mas consegui lutar contra um deles e descobri quem está por trás disso. O nome dele é Bernardo Ramires.
— Ramires? – me surpreendi – O dono das empresas Gordon & Cia? Eles são conhecidos mundialmente!
— O próprio. Parece que ele está fazendo uma caças às bruxas na cidade, uma limpa total dos criminosos.
— Mas porquê? O que esse Bernardo ganha com isso?
— Ainda não sei, mas provavelmente é vingança. Conheço o rapaz e ele sempre busca um motivo para se vingar de alguém. – ele suspirou, cansado – Acredite, se o Bernardo quer acabar com o crime na cidade, ele vai conseguir.
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Pacto de Gangues (Romance Gay)
General FictionGay | + 18 | Classificação indicativa. Thiago sempre acreditou não ter um pai, até o dia em que o colocaram frente a frente com Rey - um homem frio e calculista. Não demora para o jovem se descobrir herdeiro de um negócio milionário de tráfico de...