22. O plano

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Acordei e senti um nó na garganta quando não vi sinal de Jessie. Por mais irritante que fosse a maneira como ele me acordava para correr e se exercitar comigo, senti falta de toda aquela animação.

Magoei Jessie quando falei da sua relação com Amanda e agora não sabia como consertar aquilo. Devo ter ficado um bom tempo olhando para o celular, na esperança dele enviar uma mensagem, mas a raiva dele por mim deveria estar maior que a saudade.

Por isso me levantei e tentei começar o dia sem ele. Infelizmente foi chegar na sala e me deparar com TK sem camisa, deitado no chão para fazer abdominais.

— Ficou louco? – perguntei, incrédulo. – Quer romper os pontos?

— Tenho que me manter em forma para enfrentar o Bernardo. Acho bom que você agora saiba um pouco de luta corporal, mas esses quilinhos a mais te deixarão lento em um confronto direto. Deveria malhar.

— Gosto do meu corpo do jeito que ele é.

— Você é gostoso de qualquer jeito. O que digo é que se for lutar precisará treinar.

Fiquei um pouco sem graça pelo elogio.

Ainda não sabia como lidar com o TK, principalmente depois de ouvir para me afastar dele e do irmão, mas havia algo que sempre me levava para perto dele.

— Sai desse chão, por favor – disse, retornando meu sofá para o lugar. TK havia afastado os móveis para fazer as abdominais. – Vamos tomar um café e depois pode tentar se matar aí.

— Aceito o convite. Quero aproveitar cada minuto perto de você.

Sinceramente, ele me confundia às vezes. Primeiro me aconselhava a ficar longe e agora dava em cima de mim descaradamente.

Revirei os olhos e fui até a cozinha preparar alguma coisa. Fiz ovos mexidos, um café forte e waffles.

— Senti falta da sua comida – ele disse, aproveitando o lanche. – O rango da clínica era uma porcaria e eles ainda nos forçavam a rapar o prato. Vi um cara do meu lado vomitar no primeiro dia.

— Parece horrível. Seu pai soube disso?

— Não... Foi Tom que me colocou lá, então pode-se dizer que ele pesquisou bastante para ver onde eu seria mais torturado.

Fiquei sem acreditar.

— Não entendo o que seu irmão ganharia com isso.

— Ele é um controlador. Todos sabem que Tom conta as horas para o papai morrer e ele ficar com o negócio da família. Provavelmente me internou só para que ninguém atrapalhasse seus planos.

— Isso é horrível.

Tom raramente aparecia, mas lembrava dele no meu casamento. Na ocasião, me desejou 'felicidades' por enfim me unir aos Killian, mas aquilo não me pareceu verdadeiro.

— E quanto ao Jessie? Como é a relação dele com o irmão de vocês?

TK não gostou que eu perguntasse sobre meu marido, mas respondeu mesmo assim.

— Jessie é um capacho para o Tom, isso desde criança. Nenhum de nós tem um passado legal, mas Jessie sofreu bastante por conta do meu pai, talvez mais do que eu. Por isso ele se transformou em um tipo de pessoa que obedece calado, respeita a hierarquia e faz tudo o que é ordenado a fazer.

— Tom tem algum controle sobre ele então?

— Digamos que nossa família tem ossos enterrados no jardim. E, alguns deles, foi Jessie quem enterrou a mando do Tom.

Arregalei os olhos quando ouvi aquilo. Sabia que ele estava sendo literal naquele exemplo e me arrepiei.

Às vezes me esquecia que eles eram todos criminosos.

— Não gosto de revirar o baú da família Killian, então vamos conversar sobre outra coisa.

— Só mais uma pergunta, TK.

— Pode mandar.

— Jessie também tem cicatrizes pelo corpo – falei, lembrando do fato de o corpo dele também ser marcado. – As dele são menos perceptíveis, como se tivesse feito algum procedimento estético para escondê-las, mas consigo senti-las quando passo a mão.

— Não é uma visão que eu goste de imaginar.

— Mesmo assim, quero saber o que houve com vocês.

— Nossa família é criminosa, já lutamos muito – ele desconversou. – Levamos bala, facada, socos...

— Sei que se trata de marcas de tortura – joguei minha desconfiança de uma vez, sem aguentar mais segurar aquilo. – Por favor, não minta para mim.

Ele quis parecer calmo, mas enxergava o nervosismo na forma como TK me encarava. Os olhos dele, por mais bonitos que fosse, não desviaram meu foco da verdade. Seja lá o que houve com os dois no passado, foi o motivo de TK ter virado um viciado e Jessie ter problemas para se relacionar comigo.

O que aquela família escondia?

— Thiago... – Ele começou, sério. – Sinto muito, mas não estou preparado para te contar.

Aquilo me chateou, mas não tive como tentar arrancar dele uma resposta diferente porque fomos interrompidos pelo barulho da porta se abrindo e Jessie entrou no ambiente, indo direto até nós.

— Que bom que estão vestidos – ele falou, arisco. – Fico feliz por não pegar vocês dois transando no sofá.

— Teria, se tivesse chegado dez minutos antes – respondeu TK, com um sorriso que irritou profundamente o irmão.

— Parem com isso – intervi, cansado daquele jeito deles. - Me respeitem daqui para frente.

— Desculpe, Thi. – disse TK, olhando torto para Jessie. - Vou tomar um banho e vestir uma camisa. Podemos conversar mais tarde.

Concordei, e quando ele foi embora tive que lidar com meu marido.

— Não precisa agir desse jeito – falei, tomando um gole de café e tentando abrir um diálogo com Jess. – Sei que errei quando falei da Amanda, mas não precisa me punir desse jeito.

— Não estou tentando te punir – ele respondeu, de cabeça baixa. – Ainda te amo e quero que fiquemos bem.

— Não parece – rebati. – Essa foi a nossa primeira briga e a primeira coisa que você fez foi sair de casa! Sei que agi mal, falei o que não deveria, mas tem que entender que estou em uma posição difícil aqui, ainda mais com essa história de um multimilionário queimando nossos caminhões.

— Sobre isso, vou resolver esse assunto com meu irmão hoje. Depois disso, quero ele fora da nossa casa.

— O que pretende fazer?

— Marquei um horário para conversarmos com o Bernardo na Gordon & Cia.

— Vai entrar na toca do leão? Não me parece uma boa ideia.

— É um gesto simbólico. Precisamos descobrir o que ele quer conosco. Prometo que não será perigoso.

— Ótimo. Nesse caso, vou junto.

— Thiago...

— Nem comece! Eu represento os Dragões, lembra? Faço parte desse mundo tanto quanto vocês, então não tem nada que possa fazer para me impedir de ir. 

Pacto de Gangues (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora