17. Algumas revelações

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— Aqui é nosso quarto e mais para frente fica a suíte. Os pedreiros estão terminando de colocar a bancada na cozinha e temos que escolher as cores das paredes. Ah, e também quero instalar uma banheira. O que acha?

— O que você quiser está bom – respondi, desanimado. – Podemos voltar para a mansão agora?

— Não quer terminar de ver o apartamento? Podemos dar uma volta pelo prédio também – Jessie insistiu. Ele tentou pegar em uma das minhas mãos, mas me afastei e cruzei os braços.

— Vamos nos mudar só semana que vem, não é isso? Não precisa de pressa.

Ele bufou de impaciência, colocou as mãos no bolso da calça e me olhou sem esconder a decepção.

— Esse modo de agir não torna as coisas mais fáceis, Júnior.

— É melhor me chamar de Thiago – reclamei, sem desviar o olhar. – Meu pai não está por perto para ouvir, se é isso o que te preocupa.

— Não tenho medo do seu pai, tenho respeito. Coisa que você também deveria tentar demonstrar vez ou outra.

— Ele me espancou e não foi a primeira vez.

— Júnior...

— A merda do meu nome é "Thiago"! - gritei tão alto que senti minha garganta doer.

Jessie baixou o rosto e suspirou. Vi que ele se controlava, era mais ou menos aquela cara que fazia quando estávamos na cama. Era evidente que ele queria ir além do limite, porém não tive medo.

— Aprenda a calar a boca – ele disse, irritado – Estou sendo um ótimo esposo até agora e se fosse você aprendia a ficar calado e aproveitava o fato de eu gostar de você.

— Se gostasse de mim não teria ficado parado enquanto meu pai me batia. Viu as marcas que Rey deixou nas minhas costas?

— Acha que eu não queria entrar lá e te ajudar? Acha mesmo que gostei de ouvir seus gritos?

— Na cama você gosta. Provavelmente ficou excitado com o meu pai me batendo!

Vi uma veia saltar da testa dele, Jessie levantou a mão aberta na minha direção e dei um passo à frente.

— Bate! – Falei, sem mover mais nenhum músculo. – Sei que você quer, então me bate logo, seu canalha.

Ele baixou a mão, arrependido, e esperou alguns segundos antes de voltar a me olhar.

Vi a tristeza estampada em seu olhar e declinei um pouco de toda aquela raiva. Talvez eu estivesse sendo um pouco duro demais com ele. Afinal, éramos casados. Deveria existir uma maneira de ficarmos junto sem todo aquele clima desolador.

— Desculpe – ele recomeçou. – Sinto muito, mas você não facilita as coisas! Estou tentando fazer isso dar certo e você fica o tempo inteiro me lembrando do meu irmão.

— Não use isso como justificativa. O TK não tem nada a ver com o que está acontecendo.

— Não? Tem certeza disso?

Ele levou as mãos ao rosto, limpou o suor e depois coçou o cabelo antes de ir até um outro cômodo e abrir uma janela para que o cheiro de tinta parasse de incomodar. Esperei que Jessie começasse a falar, mas ele pareceu relutante. Me perguntei o que ele escondia de mim. Sabia que a relação dos Killian nunca foi das melhores, tinha muita coisa naquela família que eu ainda não sabia, mas parecia cada vez mais estranho ter me casado com um deles.

Jessie olhou para a janela e viu o céu escurecer. Depois pigarreou e começou a falar.

— Não é a primeira vez que TK e eu gostamos da mesma pessoa. Isso já aconteceu antes: com a Amanda.

— A noiva que morreu no parto do seu filho?

— Sim. Veja bem, nunca pretendi te contar nada, mas como marido não quero esconder mais nada – ele começou. – E aquele não era o meu bebê. Aquela criança era do TK.

A revelação foi como um choque para mim. Me escorei na parede, fiquei um momento sem acreditar, até que Jessie continuou.

— Amanda era uma amiga, nos conhecemos no ensino médio e começamos a namorar depois de um tempo. Gostávamos um do outro, de verdade, mas quando a pedi em casamento ela relutou e disse que não me amava do mesmo jeito.

— E onde o TK entra nessa história?

— Eles começaram a se encontrar uma semana depois que rompemos, não aceitei bem isso e nossa família se dividiu um pouco. Acho que deve ter sido nessa época que meu irmão passou a se aproximar da gangue do seu pai para se ver livre de mim. – Ele cerrou os punhos, irritado. – Voltei a conversar com ela e Amanda disse que as coisas entre eles estavam indo bem. Tanto que aceitei que estavam juntos e acreditei que um significava algo para o outro. Devia ter imaginado que TK daria um jeito de estragar as coisas.

Ele pareceu relembrar.

Me aproximei, temendo como aquela história se desenrolaria.

— Quando Amanda ficou grávida ela me procurou e disse que o TK tinha se afastado, que ele não assumiria o bebê. Ele a abandonou depois de engravidá-la! Sabe como senti raiva quando descobri isso? Quase matei meu irmão, mas TK se safou e cada um foi para um lado. Pedi Amanda em casamento depois disso, vivemos meses incríveis juntos e comecei a me acostumar com a ideia de ser pai. Resolvi assumir aquela criança e fiquei feliz. Até que ela morreu... – ele enxugou os olhos e fungou. – TK sequer apareceu no enterro.

— É por isso que vocês se odeiam?

— Não o odeio, mas ele tirou de mim a única pessoa que já amei – Jessie veio devagar e pousou a mão em meu ombro, deslizou a mão pelo meu pescoço e acariciou meu cabelo. – Só não quero que ele te tire de mim.

Senti algo diferente, a raiva que me rodeava a poucos minutos desapareceu e me perguntei por quantas coisas Jessie já passou. Não achava que ele fosse o mocinho de toda a situação, mas meu marido era apenas uma pessoa normal, que errava. Precisava dar uma chance para ele. Moraríamos juntos como pessoas casadas e não haveria mais o meu pai para nos atrapalhar.

— Me desculpe – ele pediu, me abraçando. – Vou ser um marido melhor, te prometo isso.

— Eu... - pensei no que dizer. Olhei para os lados e em seguida para ele, imaginando qual seria a melhor coisa a ser feita. – Sobre o banheiro... Em que lugar você quer que a banheira fique? Porque a suíte não é grande e vou querer o chuveiro.

Os lábios dele grudaram nos meus, me pegando de surpresa. Jessie ficou feliz por deixar que eu continuasse, sorria durante o beijo, e então me levou até onde seria nosso quarto. As mãos dele deslizaram pela minha cintura e senti sua ereção em riste. Tirei a blusa e deixei que ele continuasse. Jessie mordiscou meu lábio e continuou com as mãos se movimentando por baixo das minhas roupas até agarrar minha bunda.

— Não vamos transar aqui, vamos? – Perguntei, sem saber se no cômodo ao lado havia alguém responsável pela obra.

— Com certeza vamos. E não vai ser só uma vez. 

Pacto de Gangues (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora