12. Despedida

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Quando chegamos em casa meu pai afrouxou o nó da gravata e tirou os sapatos. Em seguida, se virou para mim e me olhou de cima a baixo, vendo o estado em que me encontrava.

Foi estranho vê-lo me defender daquela maneira depois do TK me atacar e o caminho de volta para casa foi silencioso.

Quando Rey caminhou em direção às escadas, me vi forçado a segui-lo.

— Espera! – Chamei, fazendo ele parar antes de chegar ao primeiro andar. — O que foi, Júnior?

— Quero saber o que acontece agora.

— O mesmo de antes. Você se casa com um dos Killian.

Ele tentou seguir caminho, mas o segurei, puxando sua camisa.

— Por favor, espera – falei, sem soltá-lo. – Não quero me casar com o Jessie!

Ele olhou para a minha mão e mostrou-se com raiva.

Recebi um tapa. Minha cabeça girou e quase caí para trás.

Virei o rosto para que ele não me estapeasse de novo e o soltei.

— Você não está mais na casa do seu irmão! – Esbravejou, ajeitando a camisa. – Já matei gente por muito menos, então fique esperto. Isso é o mínimo que espero de você daqui para frente.

— Eu só queria...

— Ainda não entendeu? Não importa o que você quer! Te trouxe para cá por um único motivo: quero expandir meu território. Poderia fazer isso à força, mas os Killian levam família à sério. O jeito mais fácil é te usar.

Depois disso, ele se afastou e foi embora.

Fiquei desolado, comecei a chorar e, com receio de um dos empregados aparecer e me ver daquela maneira, subi para o quarto.

Em uma única noite os rumos da minha vida tinham se alterado drasticamente e não sabia o que fazer. Jessie, mesmo à primeira vista sendo uma pessoa gentil, não tinha me ajudado o tanto que TK foi capaz.

Nunca estive tão solitário.

Deitei na cama, usei os travesseiros para abafar o choro e quase não ouvi a janela do quarto quando alguém bateu nela. No susto, lembrei da arma que TK guardava na escrivaninha e voltei meus olhos para lá. Só não precisei dela porque quando olhei para a janela enxerguei a pessoa responsável pelas minhas lágrimas.

— O que está fazendo? – Perguntei, abrindo a janela e deixando-o entrar.

— Consegui escapar do Tom. Nem amanheceu e ele já conseguiu gente para me internar. Tive que correr para cá, não podia deixar que me levassem sem conversar com você antes. Sinto muito pelo que fiz, estava alterado e triste pela sua aproximação com o Jessie. Acabou que o empurrei para você.

— Nunca quis te substituir – falei, choroso. – Era para a gente se casar.

— Eu sei, meu anjo – ele passou as mãos pelo meu rosto, alisando um pouco. – Sabe que te amo?

Não consegui dizer o mesmo, mas ele entendia isso. Por este motivo selou meus lábios com os dele e prensou nossos corpos, me segurando firme pela cintura.

Senti a ereção dele, o beijo ainda tinha gosto de álcool, mas ignorei e tentei me concentrar no quanto era bom estarmos juntos.

Minhas mãos foram para a nuca de TK. Deixei que tirasse minha camisa e fui suspenso pelos seus braços musculosos. Ele me jogou na cama. Suas calças e depois de alguns segundos estávamos nus, um por cima do outro.

Ele foi carinhoso, me penetrou olhando nos meus olhos e com as nossas mãos unidas ficamos naquela posição como se não precisássemos de mais nada além daquilo. Apertei o ânus — queria senti-lo inteiro em mim —, e não demorou até que o líquido quente escorresse. Ficamos unidos, ofegantes.

Ainda com ele dentro de mim, sorri feito um bobo.

— Me perdoe pelo que fiz no jantar – ele falou, me acariciando – Você não merece nada além de carinhos, beijos e afagos.

— TK... O que iremos fazer agora?

Ele tirou o pau aos pouquinhos. Vestiu a cueca, mas não saiu da minha cama e nem desgrudou os olhos de mim.

Parecia tão certo a gente juntos. Infelizmente a vida era uma merda.

— Nós podemos fugir – ele sugeriu.

Por um momento não soube o que responder. Meu coração dizia sim. Conforme o tempo passava entendia que não importava o que fizesse seria sempre uma moeda de troca para o meu pai. Assim como ele era capaz de me bater, faria qualquer coisa para conquistar mais fortuna. Eu não devia nada a ninguém ali. Ainda assim, muitas pessoas podiam morrer se me precipitasse.

— Me desculpe – falei, de coração partido. – Não posso.

— Vai escolher o Jessie então?

— Vou escolher evitar tiroteios pela cidade inteira! Sabe o que meu pai acaba de dizer? Que pegaria o poder à força se não fosse mais fácil unir as famílias.

— Eles nunca vão me deixar te ver de novo, Thiago.

— Se fugirmos será pior.

— Para mim nada é pior do que te perder – ele falou tudo o que estava entalado na garganta depois disso. – Olha, sei que não sou o que você queria. Tenho essas tatuagens, sou cheio de cicatrizes, pierciengs e ainda tem essas roupas de mendigo, mas eu posso mudar. Juro que tento ser melhor, coloco até ternos que nem o Jessie se você quiser.

— Não é a sua aparência o problema.

— Então diga o que preciso fazer – ele continuou, choroso. – Eu procuro ajuda. Não coloco mais uma gota de álcool na boca. Não vou mais fumar. Paro com todas as drogas e mijo num copinho todo final de mês se quiser!

— Por favor, para.

— Posso ser melhor!

— Chega, TK.

— Só me dê uma chance...

— CHEGA!

Devo ter falado alto demais, porque ele ficou estático. Depois de fechar os olhos, ele ficou alguns segundos quieto, de uma maneira constrangedora. Depois de cerrar os punhos, saiu de perto de mim, vestiu as calças e catou a camisa em algum canto.

Ele parecia prestes a desabar.

— Sou mesmo um idiota – falou, transtornado. – Enfrentei os seguranças do Rey para estar aqui, fugi de pessoas que queriam me internar, me declarei, me humilhei para você. E tudo isso quando está óbvio que o sentimento não é recíproco.

— Não está sendo justo.

— Foda-se! – Ele continuou. – Nada na merda da minha vida dá certo.

— TK, espera.

Antes que eu pudesse falar mais algo ele foi para a janela e sumiu na escuridão. Pensei em ir atrás dele, mas não sabia o que poderia dizer para ele ficar. Não suportaria saber que machuquei alguém por uma decisão egoísta, não importa o quanto gostava do TK. 

Pacto de Gangues (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora