Capítulo 4

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2014

Em Nova Iorque, quando acordo, a primeira coisa que faço é ir tomar um duche, com o velho rádio nas alturas. Mas agora, a primeira coisa que faço é olhar para as paredes cor-de-laranja à minha volta e pensar que são a coisa mais horrorosa que já vi na vida.

Eu não gosto da cor laranja. Não sei porquê, simplesmente não gosto. E recuso-me a acordar todos os dias a olhar para esta monstruosidade.

Tomo um duche rápido, com um álbum do James Morrison a tocar no rádio, e ponho um par de calções e uma T-shirt de cor clara.

Decido ir comprar tinta para pintar as paredes do quarto que era dos meus tios. Pouco me importa se não posso, vou ficar a viver aqui nos próximos tempos e quero uma cor decente nas paredes.

Quando abro o frigorífico, torna-se óbvio que também preciso de comprar comida, a menos que queira sobreviver com um ovo e um bocado de sumo de limão. 

A viagem até ao supermercado relembra-me do episódio de ontem com o Ashton.

Quem me dera poder parar de pensar naquilo. Aquele beijo repete-se mil e uma vezes na minha cabeça, sem parar. Mas seguem-lhe sempre as mesmas palavras.

Charlie, não voltes a fazer isso por favor.

Não voltes a fazer isso por favor.

Não voltes a fazer isso.

A mensagem é clara: o Ashton seguiu em frente. Eu agarrei-me a todas as memórias que tinha dele como a miúda dependente que era quando o conheci, enquanto que ele decidiu que não valia a pena esperar que eu voltasse como eu lhe tinha prometido que ia fazer.

Despacho-me relativamente rápido no supermercado, só a comprar bolachas, refrigerantes, comida congelada e noodles instantâneos. Não sei cozinhar, por isso as minhas refeições não vão passar disto. Mas, como há que ser saudável, compro também umas quantas maçãs verdes, só mesmo para dizer que sim.

-Charlotte? És mesmo tu?

Olho na direção da voz e encontro um dos amigos do Ashton. Mas qual era mesmo o nome dele? Só o vi um par de vezes, e já foram há dois anos, não me lembro. 

-Calum! - exclamo, quando finalmente me lembro do nome do rapaz.

Ele sorri-me.

-Não sabia que estavas de volta.

Claro que não, o Ashton deve estar a tentar esquecer isso com todas as suas forças. Nem deve ter mencionado aos seus amigos.

-Estava a precisar de umas férias, - rio-me. - Mas estás um bocado ridículo, com o capuz para cima e os óculos de sol que te escondem as sobrancelhas. Pareces uma mosca careca!

-Fãs, - suspira o Calum. - A banda tornou-se bastante conhecida, e mal podemos sair à rua sem sermos atacados.

-Ah, as desvantagens de se ser famoso, - troço.

Ele ri-se e oferece-se para levar alguns dos sacos, ao qual agradeço e aceito. Quando chegamos a minha casa, convido-o a entrar e vejo-o olhar para as minhas malas todas à entrada.

-Escusas de ficar especado a olhar, - digo-lhe. - Ainda só tive paciência para tirar a roupa que estou a usar agora e o CD que pus a dar hoje de manhã, nem me apetece tirar as malas do caminho.

O Calum obriga-me a sentar-me num dos bancos da cozinha enquanto ele arruma as compras e me prepara um pequeno-almoço. Não consigo evitar a sensação de que ele já sabia que eu estava de volta - podia ter descoberto tanto pela Pepper como pelo Ashton - e que me estava a tentar compensar.

You've Gone Away • Ashton Irwin #Wattys2014Onde histórias criam vida. Descubra agora