Capítulo 23

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2012

Rio-me bem alto da piada que a Pepper acabou de dizer, o que faz a minha mãe mandar vir que os vizinhos não fizeram mal a ninguém para terem de ouvir os meus histerismos.

-Até eu ouvi a tua mãe, - ri-se a Pepper.

-Pois, ela deve achar que fala muito baixinho, deve.

-Deixa lá, o meu padrasto quando começa a mandar vir com o Zach também não fala muito baixinho.

Franzo o sobrolho.

-Eles não se dão bem?

-Não desde que ele se casou com a minha mãe.

Não sabia disto. O Zach nunca tinha dado a entender que tinha uma relação menos que boa com o pai. Com a Pepper e a madrasta, até que entendo que não se dê tão bem, mas com o pai? Essa não compreendo.

-Pepper, o que é que aconteceu à mãe do Zach?

-Morreu antes de ele sequer ter dois meses. Ou pelo menos foi isso que o meu padrasto me contou.

Sinto os meus lábios a comprimirem-se um contra o outro, compaixão e pena a invadirem-me o coração. Coitado.

De repente, vejo qualquer coisa a aparecer junto à janela, e, quando olho, encontro o Ashton num dos ramos da árvore junto à janela do meu quarto.

-Pepper? Vou ter que te ligar amanhã de manhã.

-Okay, vai lá! Até amanhã, Char!

-Tchau.

Desligo a chamada e corro para a junto da janela para a abrir. O Ashton sorri-me e tenta balançar o ramo de maneira a chegar mais perto da janela.

-Eu vou-me matar só para entrar no teu quarto, - resmunga ele, atirando-se de cabeça para dentro do quarto.

-Se fizeres mais barulho, o meu pai trata disso por ti.

Ele ri-se e levanta-se do chão para me dar um beijo.

-Com quem estavas a falar? - pergunta ele, puxando-me para a cama.

-A Pepper. Estivemos a contar piadas e a falar do Zach.

-Um desperdício de tempo, então.

Rio-me.

-Basicamente.

Puxo o computador para o meu colo e mostro-lhe o ecrã, que o faz rir (baixinho, para os meus pais não ouvirem).

-Titanic? A sério, Charlie?

-Tu é que és o idiota que nunca viu o Titanic!

O Ashton põe um braço à volta dos meus ombros, e eu aproveito para deitar a minha cabeça no seu ombro.

-Três horas de filme? Acorda-me quando acabar!

Mando-o calar-se e ponho a dar o filme.

-:-:-

As lágrimas caem-me sem parar, e assoo-me ao lenço de papel que o Ashton me estende.

-Não era assim tão triste, - diz-me ele.

-Não tenho culpa que sejas insensível...

O Ashton ri-se, mais alto que o que seria aconselhável, mas os meus pais também já dormem profundamente.

-Não sou insensível, sou homem. Homem que é homem não chora.

You've Gone Away • Ashton Irwin #Wattys2014Onde histórias criam vida. Descubra agora