CAPÍTULO EXTRA: PASSANDO ÍSIS, BEATRIZ E VICENTE III

305 40 2
                                    

Beatriz seguiu para a cerca animada, caminhou pelo quintal da sua casa, do outro lado da cerca podia ver as casas simples dos sobreviventes. Algumas luzes estavam acessas, indicando algum movimento na moradia.

Procurou alguém do outro lado da cerca, apesar do severo toque de recolher, Beatriz sabia que tinha alguém ali. Se posicionou em frente a janela do seu quarto, sentou-se no gramado e começou a escrever o seu bilhete.

Quem é você? Apareça.

Ela arrancou a folha cor de rosa do seu caderno da Moranguinho, caderno que usava como um tipo de diário, para não se sentir tão sozinha.
Procurou uma pedra pequena, embrulhou na folha, colocou dentro do cano grosso que encontrou e apontou para o alto, arremessando para o outro lado da cerca.

Esperou por quase cinco minutos, mas nenhum bilhete chegou.
Nenhuma lanterna piscou.

A garota respirou fundo, já desistindo e pensando em voltar para o quarto, quando uma pedra caiu a uns cinco metros de distância a sua esquerda.

Beatriz correu para pegar a pedra embrulhada, ansiosa arrancou o barbante e abriu o bilhete.

Você já me conhece.
Espero que lembre de mim.

Beatriz sorriu e voltou para pegar seu caderno e caneta para responder.

Então eu te conheço?
Você é homem ou mulher?
É da escola?
Da ilha?
Da capital?

Beatriz arremessou o bilhete já ansiosa pela resposta. A expectativa de ser alguém conhecido a animou ainda mais, porém ela já passou por tantos lugares. Conheceu tanta gente. Poderia ser qualquer um, já que boa parte do estado estava procurando abrigo na ilha, já que o governo estava tomando medidas absurdas de proteção.

Longos seis minutos passaram até outra pedra pousar no gramado. Beatriz correu para pegar o bilhete, ansiosa pelas respostas.

Venha para os fundos e veja com seus próprios olhos.

Apreensiva Beatriz olhou do bilhete para a cerca algumas vezes. Com cuidado se aproximou da cerca elétrica, a procura da pessoa que estava trocando bilhetes a moda antiga.

Porém, devido a escuridão não conseguiu avistar ninguém. Estava na dúvida se deveria ir até os fundos. Estava com medo.

Sua mãe havia falado tantas coisas horríveis sobre o que as pessoas fazem para sobreviver. Tantas maldades. Por isso ela não deveria sair de dentro da cerca, pois as pessoas eram traiçoeiras.

Mas que mal poderia haver em duas pessoas trocando bilhetes bobos, entre uma cerca elétrica de alta voltagem?

Tomando coragem Beatriz caminhou até os fundos da mansão, a iluminação era mais precária, por ser uma região em obra.
Chegando em passos lentos e hesitantes, Beatriz alcançou os fundos da mansão.
A poucos centímetros de distância da cerca avistou uma silhueta. Uma figura
encapuzada, de uma pessoa alta e de ombros largos. Beatriz logo deduziu ser um homem. A figura estava coberta pelas sombras. A silhueta pareceu perceber sua aproximação e deu alguns passos em sua direção ficando a dois metros de distância da cerca elétrica, uma distância segura para não receber a carga mortal.

Houve diversos casos de pessoas que tentaram invadir ou roubar a mansão e acabaram fritadas pelos altos volts.
Por isso a cerca era repleta de avisos para manter-se longe.

Brigada dos Mortos - Sobreviventes em alto marOnde histórias criam vida. Descubra agora