Capítulo 34 - Parte III

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Daniel fez a curva e fez o caminho de volta as pressas.

Como Vicente havia dito, havia mais guardas nas ruas do que o normal.

Não havia outro caminho, Daniel não conhecia a ilha, nem outras estradas, dá a ré e fazer a curva com certeza iria chamar a atenção e então ele resolveu passar lentamente.

Os guardas sinalizaram para ele parar como se fosse uma blitz de verdade.

- Merda... - resmungou Daniel apertando o volante com força, ele analisou a quantidade de guardas que estavam presentes, havia mais ou menos uns seis. E todos armados com fuzis para uma simples inspeção.

Daniel esticou o braço discretamente alcançando a mochila escondida no chão do carro. Ele alcançou uma pistola e a puxou lentamente para não chamar a atenção do guarda que o encarava. Ele colocou a pistola ao seu alcance, debaixo da sua perna e calculou se deveria agir.

Qual seria a porcentagem de sobrevivência.
Poucas.

Poderia até atropelar uns três, mas os outros três atirariam e acertaria os outros quando ele acelerasse.

Era ariscado demais, teria que seguir normalmente e torcer para que não revistassem o carro.

- Fiquem atentos, tem uma blitz mais a frente. - avisou Daniel observando um dos soldados sinalizar para ele se apressar. - Estão nos parando, se preparem para um ataque.

Ele não acelerou e nem diminuiu, foi levando o carro lentamente. Ganhando tempo para que o seu grupo se armasse e se preparasse para o possível confronto. O soldado já avançava, aparentemente irritado.

- Ô imbecil? Está surdo? Rápido, não temos a noite toda! - gritou batendo na lataria do carro com violência. - Daniel já estava com os dedos no gatilho e a pistola destravada.

- Eu cuido desse. - disse um outro soldado dando tapinhas no ombro do soldado estressado. Ele sinalizou para Daniel encostar e foi em direção ao lado do motorista.

Daniel soltou a respiração que nem percebeu estar prendendo e escondeu a arma debaixo da perna, mas pronto para puxa-la e usa-la a qualquer momento.

- Larga a arma. - disse o homem com um tom intimidador.

Daniel sentiu o coração acelerar, como ele havia percebido que ele estava segurando a arma, havia usado a maior discrição possível?

O homem encostou na lataria do lado do motorista e olhou para dentro do carro.

Era um homem grande, negro, cabelo crespo e com uma barba de semanas.

- Onde está o Vicente? - perguntou o homem fardado e então abaixou os olhos para uma das mãos de Daniel que ainda escondia a arma. - Não vai precisar disso. Não agora.


- Seu uniforme não é da FAB. - disse Daniel olhando o uniforme dele de soldado do exército. - Como o conhece?


- Não devia voltar. - disse o homem o encarando e ignorando a pergunta considerada irrelevante. - O avião deixou o aeroporto. Não vai ter outro avião disponível tão cedo. A maioria está danificada. O que aconteceu?


- É amigo do Vicente... - disse Daniel o encarando e ignorando a pergunta dele também. - E não é da FAB. O que fez você trair a sua dona?


O homem o encarou e finalmente torceu o braço resolvendo responder as perguntas de Daniel - Ele salvou o meu filho. - respondeu o soldado soltando um suspiro - Ísis o colocou no campo de treinamento para jovens, ele fez 15 anos uns três meses atrás, Ísis o jogou em um campo cheio de zumbis, com mais umas crianças. Da mesma idade, inclusive o filho do Vicente.
É um método doente que ela tem de recrutar novos soldados. Ela diz que eles precisam aprender a sobreviver sem nós. Um dia vamos agradecê-la... - ele balançou a cabeça negativamente, Daniel decidiu não cortar a história dizendo que já sabia sobre o campo. Apenas assentiu o incentivando a continuar - Vadia, ela quase matou o meu filho. Ele estava apavorado, junto com as outras crianças. Nós os pais não podíamos fazer nada, estávamos com armas apontadas para nossas cabeças. Se tentássemos algo ela nos mataria e depois os nossos filhos. Palavras dessa pirinha... - a voz do soldado estava carregada de ódio, e um ódio bem justificado, ele continuou -Quando Vicente ficou sabendo que o filho estava lá dentro, ele invadiu o campo furioso. Ísis não permitiu que os soldados atirassem nele por algum motivo. Então ele simplesmente entrou, arrancou a arma de um dos soldados na porrada, arrombou a porta a tiros e atirou na cabeça de cada morto, salvando as vidas da metade das crianças. - o homem olhou para trás os soldados estavam ocupados demais para prestar atenção neles - Depois disso Vicente ficou preso por um longo tempo no sítio, junto com o garoto. E eu venho os ajudando secretamente. Entregando água e comida descente um ou duas vezes na semana.


Brigada dos Mortos - Sobreviventes em alto marOnde histórias criam vida. Descubra agora