Daniel fez a curva e fez o caminho de volta as pressas.
Como Vicente havia dito, havia mais guardas nas ruas do que o normal.
Não havia outro caminho, Daniel não conhecia a ilha, nem outras estradas, dá a ré e fazer a curva com certeza iria chamar a atenção e então ele resolveu passar lentamente.
Os guardas sinalizaram para ele parar como se fosse uma blitz de verdade.
- Merda... - resmungou Daniel apertando o volante com força, ele analisou a quantidade de guardas que estavam presentes, havia mais ou menos uns seis. E todos armados com fuzis para uma simples inspeção.
Daniel esticou o braço discretamente alcançando a mochila escondida no chão do carro. Ele alcançou uma pistola e a puxou lentamente para não chamar a atenção do guarda que o encarava. Ele colocou a pistola ao seu alcance, debaixo da sua perna e calculou se deveria agir.
Qual seria a porcentagem de sobrevivência.
Poucas.Poderia até atropelar uns três, mas os outros três atirariam e acertaria os outros quando ele acelerasse.
Era ariscado demais, teria que seguir normalmente e torcer para que não revistassem o carro.
- Fiquem atentos, tem uma blitz mais a frente. - avisou Daniel observando um dos soldados sinalizar para ele se apressar. - Estão nos parando, se preparem para um ataque.
Ele não acelerou e nem diminuiu, foi levando o carro lentamente. Ganhando tempo para que o seu grupo se armasse e se preparasse para o possível confronto. O soldado já avançava, aparentemente irritado.
- Ô imbecil? Está surdo? Rápido, não temos a noite toda! - gritou batendo na lataria do carro com violência. - Daniel já estava com os dedos no gatilho e a pistola destravada.
- Eu cuido desse. - disse um outro soldado dando tapinhas no ombro do soldado estressado. Ele sinalizou para Daniel encostar e foi em direção ao lado do motorista.
Daniel soltou a respiração que nem percebeu estar prendendo e escondeu a arma debaixo da perna, mas pronto para puxa-la e usa-la a qualquer momento.
- Larga a arma. - disse o homem com um tom intimidador.
Daniel sentiu o coração acelerar, como ele havia percebido que ele estava segurando a arma, havia usado a maior discrição possível?
O homem encostou na lataria do lado do motorista e olhou para dentro do carro.
Era um homem grande, negro, cabelo crespo e com uma barba de semanas.
- Onde está o Vicente? - perguntou o homem fardado e então abaixou os olhos para uma das mãos de Daniel que ainda escondia a arma. - Não vai precisar disso. Não agora.
- Seu uniforme não é da FAB. - disse Daniel olhando o uniforme dele de soldado do exército. - Como o conhece?
- Não devia voltar. - disse o homem o encarando e ignorando a pergunta considerada irrelevante. - O avião deixou o aeroporto. Não vai ter outro avião disponível tão cedo. A maioria está danificada. O que aconteceu?
- É amigo do Vicente... - disse Daniel o encarando e ignorando a pergunta dele também. - E não é da FAB. O que fez você trair a sua dona?
O homem o encarou e finalmente torceu o braço resolvendo responder as perguntas de Daniel - Ele salvou o meu filho. - respondeu o soldado soltando um suspiro - Ísis o colocou no campo de treinamento para jovens, ele fez 15 anos uns três meses atrás, Ísis o jogou em um campo cheio de zumbis, com mais umas crianças. Da mesma idade, inclusive o filho do Vicente.
É um método doente que ela tem de recrutar novos soldados. Ela diz que eles precisam aprender a sobreviver sem nós. Um dia vamos agradecê-la... - ele balançou a cabeça negativamente, Daniel decidiu não cortar a história dizendo que já sabia sobre o campo. Apenas assentiu o incentivando a continuar - Vadia, ela quase matou o meu filho. Ele estava apavorado, junto com as outras crianças. Nós os pais não podíamos fazer nada, estávamos com armas apontadas para nossas cabeças. Se tentássemos algo ela nos mataria e depois os nossos filhos. Palavras dessa pirinha... - a voz do soldado estava carregada de ódio, e um ódio bem justificado, ele continuou -Quando Vicente ficou sabendo que o filho estava lá dentro, ele invadiu o campo furioso. Ísis não permitiu que os soldados atirassem nele por algum motivo. Então ele simplesmente entrou, arrancou a arma de um dos soldados na porrada, arrombou a porta a tiros e atirou na cabeça de cada morto, salvando as vidas da metade das crianças. - o homem olhou para trás os soldados estavam ocupados demais para prestar atenção neles - Depois disso Vicente ficou preso por um longo tempo no sítio, junto com o garoto. E eu venho os ajudando secretamente. Entregando água e comida descente um ou duas vezes na semana.
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Brigada dos Mortos - Sobreviventes em alto mar
Misterio / SuspensoQuando os mortos retornam a vida, Mônica se vê sozinha para proteger seus três filhos no início do fim dos tempos. Já que seu marido um fuzileiro naval está fora do país. Mas ao conseguir informações sobre a volta do marido para resgatar a família...