Na cabana em Fernando de Noronha...
Os jovens estavam aproveitando o conforto da casa de Vicente, o piloto vinha mapeando o aeroporto para organizar a fuga daqui há alguns dias.
Ele decidiu sair sozinho e estudar a rotina da segurança do aeroporto para que eles pudessem quebrá-la com facilidade e sem correr riscos.
Na mesa de jantar ele estava sentado sozinho estudando os mapas e criando rotas, pediu para que ninguém o incomodasse.Daniel bufou ao se jogar no sofá ao lado de Juliana que linha um livro qualquer.
A garota tentou ignorar o irmão e folheou livro para a próxima página, mas ele começou a reclamar.— Será que só eu que estou farto de ficar sendo jogado para escanteio? — questionou Daniel cruzando os braços, claramente aborrecido ao olhar para Vicente trabalhando sozinho na mesa de jantar. — Ele não nos deixar ajudar. Não nos deixar sair daqui...
— Depois dos últimos dias de aventura até chegarmos aqui? — perguntou Juliana sem tirar os olhos do livro — Acho que sim.
— Ele não é não. — disse Tiago Oliver entre os dentes, ele estava jogando dominó com Jacqueline e Téodoro e estava perdendo.
Téodoro liderava o rank com 10 pontos, Jacqueline logo atrás com 8 pontos e Tiago com 0 pontos. — Passei. — bufou ele para seus adversários.
Téo gargalhou após introduzir um gabão de pio e encarou Jacqueline que estava analisando o jogo com seriedade de uma jogadora profissional. Ele desviou os olhos da adversaria e olhou para Juliana e Daniel — Eu sinceramente estou de boa. Estamos seguros aqui.
— Seguros e parados. — disse Jacqueline fazendo a sua jogada que fez Tiago resmungar mais uma vez.
Téo mordeu os lábios e soltou um suspiro e esperou a jogada de Tiago.
— Não é possível! Vocês estão de complô! — Bufou ele irritado — Passei de novo. E odeio esse jogo. Odeio dominó.
— Não acho bom a gente se acomodar desse jeito. Ainda estamos na ilha da Ísis. Eles podem nos achar a qualquer momento. — disse a Ferraz mais nova observando Téo colocar a peça que ela esperava, mas ele mudou jogando o outro lado e fechando ela. — Garoto, você tá escondendo peça, é? — disse ela o encarando.
Téo gargalhou — Claro que não. Agora pode passar.
— É por isso que nunca ficamos desarmados. — respondeu Juliana fechando o livro.
— Eu passei. — Disse Jacque estreitando os olhos.
Tiago resmungou e passou novamente.
— Mas estamos baixando a guarda cada vez mais. — disse Daniel e então olhou para Vicente — Ele não confia na gente.
— É claro que ele confia. — disse Tiago encarando Daniel, o mesmo se inclinou para frente para ouvi-lo. — Só não é da politica dele colocar a gente para um trabalho potencialmente perigoso, como a Ísis costuma fazer.
— O que ela costuma fazer? — Perguntaram os três voltando a atenção para o garoto.
Tiago franziu a testa — Vocês não sabem? Onde ela colocou vocês quando os sequestrou?
— Um hotel. — respondeu Juliana como se fosse óbvio.
— Ah... É claro. — disse Tiago como se tudo fizesse sentido.— Filhos de gente importante, né?
— Dá pra responder a pergunta ô pirralho? — sugeriu Daniel.
— Falou, falou. Sem estresse. — disse Tiago erguendo as mãos — Ela separa os jovens. Meninos e meninas. Os largar em um campo cheio de zumbi e joga algumas armas. Quem sobreviver ela recruta.
Os três arregalaram os olhos surpresos. Sabiam aquela mulher era perversa e perigosa. Logo perceberam que sabiam de menos.
— Tá falando sério? — questionou Téodoro o encarando. Sem conseguir acreditar no que estava ouvindo. Ela tinha uma filha e uma neta, como poderia fazer isso com os filhos e netos dos outros?
Tiago assentiu seriamente.
— Isso quando os pais ou responsáveis não fazem o que ela manda? — perguntou Juliana.
Tiago balançou a cabeça negativamente — Independente dos pais a obedeceram ou não. Ela deu a idade mínima para servi a ela. Quinze anos.
Juliana balançou a cabeça indignada — Inacreditável. Essa mulher é um monstro.
Tiago soltou uma risada irônica — Monstro é apelido carinho... — ele parou e olhou para a cozinha e viu a irmã concentrada nas panelas e então sussurrou. — Ela é o próprio diabo.
— Alguém precisa parar essa mulher. — disse Jacqueline. — Ela está indo longe demais! Alguém tem que matá-la.
Juliana encarou o irmão.
— Não cabe a nós. — disse Daniel encarando a irmã mais nova. Ela aparentemente não gostou de ouvir.
As Ferraz eram assim, não conseguiam esconder quando algo as desagradava. Daniel soltou um suspirou e continuou.
— Essa mulher já provou ser muito perigosa. Chega de nos arriscar. Vamos sair dessa ilha e nos encontrar com a nossa família. Já temos problemas o suficiente para resolver.
— Não podemos comprar essa guerra. — disse Juliana encarando a irmã — Por mais que quiséssemos ajudar essas pessoas, está fora do nosso alcance.
— E ela vai continuar escravizando e ameaçando os mais fracos, que não sabem se proteger? — questionou Jacque — Enquanto a gente foge em um belo avião. Pais morrem, filhos morrem. Pelo capricho de Ísis. E sabendo disso nós vamos fugir sem fazer nada? Sem ao menos dar o que ela merece?
Jacqueline se levantou e foi para o quintal em passo pesados.
— Nossa... — disse Téodoro após a porta se fechar com força.
— Eu vou falar com ela. — disse Juliana começando a se levantar.
— Ela precisa de um tempo sozinha. A última coisa que ela quer ouvir agora é um sermão de um irmão mais velho. — disse Daniel segurando a mão da irmã, ela a puxou a fazendo sentar novamente. — Ela vai entender que não podemos salvar o mundo.
— O que me preocupa é o tempo que ela ficou sozinha. — disse Juliana o encarando e então olhou para Téodoro — Ela não me contou tudo.
— Eu vou ajudar o meu irmão e a Bia na cozinha. — disse o garoto se levantando e escapando do futuro interrogatório.
— Aconteceram muitas coisas com a gente nesses últimos meses. — disse Daniel olhando para Juliana. — Você também não contou muita coisa. Não contou sobre o incêndio no refeitório da escola. Não contou o que aconteceu com o Fernando. O que ele fez com...
— Nada. — respondeu Juliana cortando o irmão.
— Não estou mais questionando. Só estou comentando. Eu resolvi guardar alguns acontecimentos para mim... Nossa mãe então, nem se fala. — ele segurou a mão dela — Há coisas que não queremos compartilhar, só deixar no fundo da mente e tentar esquecer. Eu estou preocupado com a Jacqueline também, ela tá diferente. Não é uma mudança que me agradou, mas talvez seja necessária para ela sobreviver.
— Vou falar com ela. — disse Tiago se levantando.
— Boa sorte. — disse Juliana.
Ele agradeceu e seguiu até a porta. Tiago respirou fundo e abriu a porta e fechou a trás de si. Jacqueline estava sentada no sofá da varanda olhando para o muro.
— Não enche. — ela foi logo dizendo sem nem mesmo olhar para quem era.
Tiago a ignorou e se aproximou se sentando ao seu lado.
Jacqueline bufou, mas não disse mais nada. Ela permaneceu encarando o muro.
Tiago também não disse nada por alguns minutos, ficou apenas contemplando o trabalho duro do seu pai os protegia da Ísis e seu exercito do outro lado.
Ele imaginou Vicente trabalhando sozinho, cortando arvores, talhando os troncos, amarrando uns aos outros, cravando na terra e levantando.
Sozinho?
Não, impossível.
Ele teve ajuda.
Só não imaginava de quem.
Perguntaria assim que tivesse a oportunidade.
Tiago novamente respirou profundamente apagando os devaneios e atraindo um olhar rápido de Jacqueline e então começou a falar.
— Eu tenho milhares de motivos para querer a Ísis morta. — disse Tiago olhando para o muro — Ela mandou a minha mãe para morrer. Ela planejou uma armadilha para matar a minha mãe e tirar o meu pai de mim. Escravizou ele, o deixou morrendo nas suas prisões mais sujas. Me deixou morrendo na prisão imunda dela... O meu pensamento dentro daquela prisão era apenas matá-la. Matá-la com as minhas próprias mãos. Por tudo, tudo que ela causou a minha família, a mim...
Jacqueline o encarou, Tiago agora encarava as próprias mãos.
— Mas eu percebi que a morte é fácil demais para alguém que causou tanto mal. A vingança só nos envenena. Tudo que a Ísis fez contra a minha família, foi por vingança. Queria se vingar da minha mãe por ter 'roubado' o marido dela. — ele fez aspas com os dedos e riu sem achar graça — Ela me torturou, me prendeu e me deixou morrendo, só para torturar o meu pai, por não amá-la... Eu pensei muito enquanto estava preso. Fiquei meses lá, tive muito tempo para clarear a mente. Ísis é uma mulher envenenada, morta por dentro. Ela consumiu litros de ódio, inveja, rancor por minha família, pelo meu pai durante anos. Ela se envenenou a cada dia, até chegar ao ponto de se satisfazer de prazer pela dor de terceiros. E eu me perguntei diversas vezes, eu queria mesmo beber desse veneno? Queria consumir ódio e reproduzi-lo em violência. Em maldade, tortura? Queria ficar igual a ela? — ele negou com a cabeça — Não, eu não queria. Jamais seria igual a Ísis. Jamais deixaria o ódio, o rancor me dominar.
Jacqueline abaixou a cabeça e fitou as próprias mãos, procurando o que dizer.
— O que ela fez... O que ela faz. Não tem perdão. — disse Jacqueline.
— Quem disse em perdão? — questionou Tiago — Eu não a perdoei e provavelmente nunca vou perdoar. Ainda quero que a Ísis pague por tudo que ela fez, que ela está fazendo e o que vai fazer. Só que matá-la com facadas ou tiros não vale a pena. Ainda mais nos dias de hoje É bondade demais para quem só causou sofrimento. Ela merece que a vida a machuque, lenta e dolorosamente. E o melhor é que não vai ter ninguém para cuidar dela, para amá-la nos últimos momentos da sua vida. Essa sim, é a pior morte.
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Brigada dos Mortos - Sobreviventes em alto mar
Misterio / SuspensoQuando os mortos retornam a vida, Mônica se vê sozinha para proteger seus três filhos no início do fim dos tempos. Já que seu marido um fuzileiro naval está fora do país. Mas ao conseguir informações sobre a volta do marido para resgatar a família...