Capítulo 8

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Atualmente

Samuel se aproximou lentamente enquanto seu irmão caçula recebia atenção das meninas.
Ele tentou não revirar os olhos ao ouvir o drama exagerado que Téo fazia a contar sua história de sobrevivência no trailer para as meninas em detalhes.

— E então eu saltei da cama e rolei no chão procurando um lugar para me esconder. Só que eles já tentavam me agarrar para me devorar e então eu me rastejei até uma mesa e a derrubei formando uma barreira para ganhar tempo...

— Nossa. Eu ficaria apavorada no seu lugar. — disse Juliana fazendo Samuel ri.

— Eu até que controlei o meu medo. — Se gabou Téo — Por isso que estou aqui hoje.

Jacqueline assentiu — Quanta bravura, Téo. Quase nem deu para ouvir o seu choro de desespero já que a sua coragem gritava.

— Ah cala a boca, Jacque. — disse Téo — Eu tinha quase tudo sob controle.

Juliana riu — Só vocês dois para me fazer rir.

— Será que posso falar com o sobrevivente do dia? — perguntou Samuel

— É claro, cara.

As meninas deixaram os dois sozinho.

Samuel respirou fundo. — Eu não queria ter brigado com você, mas você me deu um tremendo susto moleque! Se algo tivesse...

Téo ergueu a mão — Podemos cortar a parte do sermão? — perguntou Téo — No final deu tudo certo, isso que importa.

Samuel afagou a cabeça do irmão.
— Tá certo pirralho. Vai lá que as suas namoradas estão te esperando. —ele indicou a direção de Juliana, Jacqueline e Natasha que estavam perto do trailer.

***
Após cada um concluir sua respectiva tarefa estava tudo preparado para a partida até Brasília.
De acordo com o GPS do celular de Samuel a viagem duraria 14 horas de carro.

Depois de amarrar o carro cheio de alimentos no último trailer os três entraram e ficaram surpresos com a limpeza.

Estava tudo parecendo novo.
O cheiro de álcool era forte e agradável.
Mônica estava com luvas ateando fogo nos velhos colchões e nos corpos dos soldados.
Ela jogou as luvas no fogo e voltou ao trailer.
Samuel e Daniel saíram do último trailer suados.

— Os colchões novos estão lá. — disse Daniel.

— Apesar de limpar tudo com esse álcool forte, nada aqui nos garante que estamos seguros da doença. Quero que tomem cuidado. — ela se virou para começar a dirigir — Tranquem tudo que vamos partir.

***
Os jovens se acomodaram no segundo vagão do trailer que era a sala de comando/cozinha/banheiro.

Téo correu para a janela para ver o pequeno bairro ficar mais longe.
Os primeiros dez minutos da viagem foi silencioso, mas Jacqueline logo tratou de quebrar o silêncio.

— E ai, como era a vida de vocês antes disso tudo? — perguntou ela
— Normal. — respondeu Samuel — Téo ingressando no ensino médio, eu na faculdade. Meu pai voltando do exército depois de um dia de treinamento e minha mãe em casa. Cuidando da gravidez..

— O que aconteceu com os seus pais? — perguntou Mônica surpresa

— A gente morava lá... — começou Téo ainda grudado na janela — Meu pai fez barreiras na casa, armadilhas, porém, cada pessoa morria e voltava para matar outras pessoas... Um dia com quase todos mortos, encontraram a gente né.
Foi terrível, tentamos correr, mas eles estavam por toda parte.
Meu pai mandou a gente entrar no beco ao lado da nossa casa, enquanto eles invadiam.
No final do beco dava para um campo e no campo tinha uma trilha para um acampamento de crianças. — Téo sorriu — Era por ali que eu fugia e mentia que perdi o ônibus — o sorriso sumiu. — Meu pai disse que pegaríamos o ônibus do acampamento e sairíamos dali.
O beco já estava cheio deles, primeiro pulamos a Natasha, depois eu pulei, depois Samuel e em seguida era a vez da mamãe... Samuel já segurava nas mãos dela pronto para puxa-la, meu pai tentava afastar os zumbis, mas era em vão. Vendo que ele não conseguiria sair sozinho dali ela soltou a mão de Samuel e mandou a gente esperar no ônibus.
A gente não queria, mas tivemos que ir.
E esperamos um dia inteiro e no dia seguinte quando voltamos só encontramos pedaços de roupas rasgadas e muito sangue no beco. Sangue no muro da nossa casa, marcas de mãos que parecendo tentaram fugir...

Brigada dos Mortos - Sobreviventes em alto marOnde histórias criam vida. Descubra agora