Capítulo 46

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Seus grandes olhos azuis piscavam assustados encarando aqueles três adolescentes alarmados e enxarcados da cabeça aos pés de um líquido escuro, viscoso e fétido que ela conhecia bem. Três figuras adolescentes, assim como ela, que  descobriram seu refúgio desesperado para fugir do grande número de mortos-vivos que os perseguiam e de ameaças maiores.

Seu coração já havia disparado quando a tampa da caçamba de lixo estava se erguendo lentamente, não havia possibilidade de pousar seu irmão ao seu lado e sacar a pesada besta do seu pai para acertar quem quer que fosse, então ela só abraçou o bebê que não parava de chorar em seus braços e aguardou o pior.

Quando vislumbrou aquele trio, um alívio instantâneo passou pela sua mente, só de não ser aqueles soldados que a perseguiam era consolador, entretanto não podia baixar a guarda. Provavelmente não estavam sozinhos ou pior, podiam estar com ela.

— Por favor, não nos machuque! — pediu em tom de súplica. Havia aprendido com os seus pais que sua aparência frágil era uma arma secreta, especialmente contra pessoas cruéis. Fingir fraqueza e fragilidade impulsiona as pessoas a baixarem a guarda, descartando qualquer tipo de ataque ou reação violenta.

Seus olhos se encheram de lágrimas ao se lembrar dos pais e suas dicas de sobrevivência.
Em um único dia ela perdeu tudo, o pai, a namorada, e talvez nunca voltasse a ver mãe novamente. Todos haviam se sacrificado para sua fuga com Igor nos seus braços.

A expressão de espanto dos três adolescentes logo se tornou de complacência.
A garota, a única entre os dois garotos desviou a atenção dela para eles e questionou com ar de preocupação.

— O que a gente faz agora?

Os dois garotos devolveram olhares interrogativos para ela, o choro do bebê ainda soava, diminuindo enquanto a garota tentava aninha-lo.

Agora era a hora de agir, pensou a garota, pegar sua arma e apontar para aqueles três de guarda baixa como seu pai ensinou, mas por algum motivo ela não estava fazendo isso.

— Ela não pode ter ido muito longe! Está com o meu bebê! — retumbou ao longe uma voz conhecida e feminina que fez o coração dos quatro adolescentes disparar ao mesmo tempo recordando de cada momento de horror proporcionado por aquela mulher.

— Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não! — sibilou já com a respiração alterada procurando a sua volta o seu algoz.

O marchar de um grupo humano se aproximava com velocidade na pequena região residencial de Pompéia aparentemente pouco explorada.

— Busquem em todas as casas e todas as lojas, matem a garota, mas me tragam aquele bebê. Vivo.— ordenou Ísis marchando entre a dezena de homens com fardas militares e fortemente armados.

— Precisamos sair daqui. — Tiago falou com urgência olhando para Teodoro que parecia absorto a tudo, mas conseguiu assentir naquele momento.

— Não dá tempo! Eles já estão na ruas.  — falou Jacqueline observando da ponta do beco os movimentos dos inimigos. — Precisamos avisar ao meu pai e o Anderson!

Ísis parou no meio da rua para observar seus homens invadindo as casas e lojas a base de violência destruindo as vidraças e janelas e colocando portas abaixo.

— Legal, não acredito que vim para outro estado só pra ser morto por esse demônio! — reclamou Tiago andando de um lado para o outro em pleno e absoluto desespero que sua expressão corporal entregava. O som agudo do choro de bebê o fez parar e pareceu relembrar aos três adolescentes que eles não estavam sozinhos naquele beco adjacente a loja de doces com alguns corpos de zumbis abatidos no chão. A garota encontrada na caçamba de lixo estava ainda dentro caçamba de pé com o bebê em um dos braços e uma besta com uma aljava recheada com mais de vinte flechas no outro.

Brigada dos Mortos - Sobreviventes em alto marOnde histórias criam vida. Descubra agora