Capítulo seis
Mãe TemporáriaPeter Pan nos guiou pela praia - já estava com meu casaco em minha cintura, e, oh meu Deus, que calor -, até a cachoeira. Modéstia à parte, ele disse que entravam lá, geralmente, com navios enormes. Então, molharíamos nossos pés. Ele apenas voava, então tudo bem. Meus pés se molharam, invadindo os tênis de pano. Malditos sapatos vagabundos "de usar-em-casa"! Hesitei em passar por ali, na ideia de que me molharia por completo. Mas, obviamente, com magia, uma abertura na cachoeira foi feita, e todos nós passamos intactos.
Ao entrar, me deparei com longas extensões de paredes de pedra cinza-escuro, reluzente com algo como purpurina azul e dourada. Construções de madeira, e ao lado, sob um longo rio que atravessava a cachoeira, um navio. O incrível Jolly Roger - o qual ele roubou há um bom tempo, creio. Crianças por todo o lado, correndo e brincando, até que, bang.
- Temos visita, meninos! - Tinker Bell anunciou. Todos ficaram paralisados, nos olhando.
Eram mais de cinco, sem dúvidas. Todos diferentes, cada um mais bonitinho que o outro.
- Quem são eles, Peter? - um deles perguntou, se aproximando com lentidão.
Peter suspirou, longo e pesado. Talvez não fizesse parte do plano dele trazer Wendy de volta. Mil coisas sobre as quais ele possa ter dito sobre ela me passaram pela mente.
É a raiva.
- Esta é Daisy - sorriu ao olhar para ela, e depois inclinou o queixo para mim. - Aquela é-
- Minha mãe! - Daisy automaticamente gritou. Eu apenas ri, acenando.
- É. - os meninos pareciam ter ficado tristes. Eles não tinham mãe, certo? Meu coração se quebrou ao pensar nisso. - O resto, sabem quem são.
Todos eles franziram o cenho, olhando para... Wendy.
- Por que trouxe esta... - o pequeno pensou. Eles conhecem o "mau-vocabulário" por aqui?
- A língua. - Tinker repreendeu.
- Ela quem deu a ideia. - com a cabeça gesticulou para a Sininho, que deu de ombros. - Conheçam as novatas, e conversem com os meninos.
Observei-o colocar Daisy no chão, com o máximo de cuidado que alguém poderia tomar.
- Eu já volto. - sorriu ao acariciá-la. Se afastou, em passos rápidos, entrou na estrutura de madeira.
Alguns se aproximaram de Michael e John, de Daisy, Danny e Jane, e eu... Bem, continuei a olhar. Até que um deles se aproximou.
- Olá... Peter não disse seu nome. - abaixei a cabeça para o olhar.
- Sou Charlotte. E você? - estendi a mão.
- Piuí. - a apertou, sorrindo. Nome curioso. - É verdade que... Você é mãe dela?
- Sou sim. - olhei Daisy.
- E ela tem um pai? - congelei. Meu corpo tremeu, e minhas veias foram tomadas por ódio e tristeza. O olhei novamente.
- Não. - forçei meu melhor sorriso.
- Então você é o pai, e a mãe dela? - inclinou a cabeça.
- Exato. Sou os dois. - falei, tentando soar confiante.
- Eu não tenho mãe. - falou, e meu coração foi partido novamente. - Peter não gosta, mas eu o acho meu pai.
- Bem, Piuí... - me abaixei em sua frente, afastando um fio de cabelo de seu rosto. - Eu vou ficar aqui durante pouco tempo.
- ... - seus olhos brilharam.
- Posso ser sua mãe temporária. - seu sorriso se abriu de orelha a orelha. - O que acha?
- Que legal! - ele deu saltinhos, e eu ri, mas ele logo parou. - Você... Pode ser a "mãe temporária" dos outros?
Me soou estranho ser mãe de tantas crianças. Mas, eu não teria que trabalhar, nem sustentar ninguém. Dar apenas o meu carinho. Então...
- Tudo bem. - ele gritou, e correu.
- Pessoal! Nós temos uma "mãe temporária"! - ele corria gritando, até que tropeçou, e caiu. Corri até ele, assim como John.
- Oh, meu Deus... Você está bem? - o olhei levantar. Ele ajeitou o chapéu que usava, e riu.
- Estou. Eu sou um pouco azarado. - riu. - Charlotte é nossa "mãe temporária"!
Olhei em volta. John me olhava, pasmo. Dei de ombros, rindo, e após ele se afastar, uma onda de meninos se aproximou, me abraçando.
- Não me lembro de tantas crianças. - ele riu, cruzando os braços.
- Obrigado! - um deles disse.
- Não tem que agradecer. - meu sorriso foi interrompido pelo grito de Peter:
- "Mãe temporária"? - andou um pouco, e parou. - O que diabos é isso?!
Todos os meninos em volta de mim se dispersaram. Peter se aproximou em passos pesados e rápidos, e percebi que John se sentiu ameaçado com isso, ao se aproximar de mim.
- Me explique. - ordenou. Ele iria gritar ao me ver boquiaberta, mas Piuí foi mais rápido.
- Eu pedi. - declarou. - Pedi para ela ser nossa mãe.
- O quê? - ele olhou o menino, assim como eu o fiz. O pequeno estava tomando a culpa por mim, e aquilo não era certo. - Como pôde?!
- Peter, acalme-se. - Tinker disse, se aproximando, ao escutar seu grito.
- Sabe o que aconteceu da última vez que consideraram alguém sua mãe... - se curvou lentamente, caminhando, e o menino apenas recuava. - Como pode ser tão idiota?
- Peter! - a fadinha exclamou.
- Cale a boca! - se virou para ela, gritando.
Todos ali ficaram boquiabertos, e até o som da queda d'água abaixou perante sua ira.
- Essa idiotice não irá seguir! - olhou para Piuí, e depois, o resto dos meninos, fileirados em um canto. - Seus imbecis.
Após o dizer, ele se aproximou deles.
- Eu os ensinei a não serem idiotas! - gritou, olhando os meninos. - Como são tão tolos?!
- Não fale deste modo com eles! - gritei. Ele se virou para mim, e impedi meu corpo de se encolher perante seu olhar.
Todos na caverna conteram seus "oooh!".
- Não são tolos, e nem idiotas, e nem imbecis. - me agarrei ao pouco de coragem que tinha, e à meu "amor de mãe".
- Quem é você para falar assim comigo? - sorriu com sarcasmo, dando passos lentos. - Você mal chegou, vindo por minha piedade... Acha que pode se impôr ao que digo?
- E quem você pensa que é? - cruzei os braços, erguendo a cabeça. Confiante, Charlotte. Confiante.
- Sou o líder deles. - falou com ênfase, e percebi que logo estaria perto demais. - E quem é você?
Ele parou em frente a mim. Por mais surpreendente que fosse, era mais alto que eu. Eis um motivo para empinar o nariz. Após inflar o peito, me senti vitoriosa ao ver seu sorrisinho de escárnio sumir com minha frase:
- Eu sou a mãe deles.
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Lost Boys [PETER PAN]
ФанфикCharlotte Losterman era uma jovem mãe solteira, abandonada pela família e com dificuldades na vida, até conhecer John Darling. O londrino a ajudou a se erguer na vida, conquistando o coração triste. Anos após, toda a família acaba indo até a Terra d...