Capítulo 11

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Capítulo onze
Deixe Fluir





Comi o mais rápido que pude para sair dali. Se não bastasse o calor do cômodo, as coisas que Smee me disse estavam me sufocando. Senti como se fosse explodir.


Eu corri pelo navio, até chegar ao convés, e me encostei no bombordo, respirando tão fundo que meus pulmões doíam.


Aquele idoso havia conseguido me tornar claustrofóbica durante minutos. Quando terminei de tomar ar, e meu coração se acalmou, olhei em volta, me achando idiota. Pensei no que fazer. Apesar de estar calma, a agonia permanecia em meu interior. Um tipo de dor no coração havia me tomado.


Talvez pela culpa. Amor. Ou o desespero.


Caminhei pela madeira polida do convés, e fui até a proa. Olhei a estátua, a qual eu sabia que era uma sereia, e depois subi na borda, me apoiando nela. Durante um momento me vi em Titanic. Só que sem Jack. Então, pensei em Gancho. Ou melhor, James.


O que ele estava fazendo? Será que pensou em mim?


Lembrei de minha conversa anterior, e que eu iria o torturar indo embora. Uma decisão que devia ser fácil, agora parecia impossível sequer cogitar qualquer escolha.


Bem, fiquei um tempo ali, encostada na sereia, observando o céu. Até que o azul se tornou alaranjado, e eu percebi que estávamos no pôr-do-sol. Assim que o céu mudou, Smee surgiu, me pedindo para ir à meu quarto, e trocar de roupa.



Entendi como um: "seu capitão vem aí".



A euforia que me tomou quase me incomodou, mas ignorei qualquer lado racional meu. Eu queria mesmo o ver, queria ouvir sua voz, o abraçar. Ouvi-lo dizer que sou especial, apenas para dizer o mesmo. Pensei em ignorar minhas razões, e aceitar que o amava. Mas aquilo era muito estranho. Demais.


Quando entrei no quarto, o vestido estava sob o espelho. Fechei a porta, caminhando até ele. O peguei, e era pouco mais pesado que o outro. Uma cor diferente. Roxo. Algo como um tom da paleta de cores meia-noite — o que foi? Conheço um pouco de design e arte.


As mangas se estendiam até o pulso, e apenas uma listra se estendia no dedo do meio. Ele ia até meus pés, e era aberto atrás, até pouco acima de minha cintura, em um "U". Não havia decote na frente. Até acima do decote era rendado, e sua saia não era rodada, assim como a do musseline. O tecido? Deduzi algum pano com algodão, rendas e cobrindo a saia, uma fina camada de Chiffon de seda brilhante.


Precebi que eu não usara vestidos como aquele desde... Desde nunca. Vestidos longos e largos e leves eram normais, mas, algo que me lembrava looks de artistas em um tapete vermelho, nunca. E a surpresa: saltos. Os calcei, e prendi o cabelo em um coque elegante, mas despojado ao mesmo tempo.


Quando saí, Smee atou as mãos, sorrindo.


Lost Boys [PETER PAN]Onde histórias criam vida. Descubra agora