Capítulo 18

282 27 20
                                    

Capítulo dezoito
Acredite em nós






Segui Peter até a praia leste, e ele parou pouco longe da areia molhada. Me perguntei o que diabos ele estava tramando, mas permaneci quieta.



— Eu sei que Gancho tem pozinho mágico. E que ele vista Londres em determinada época. — soltou a cordinha amarrada à sua calça, e segurou um saquinho em mãos. — Vou te ensinar a voar. Também te darei um pouco. Assim, voltará sempre que lhe der na telha.



Me lembrei de quando tentei antes. Fui um fracasso, e pensei que seria a primeira e última tentativa. Pelo visto, não.



— Você quer aprender? — por algum motivo oculto, eu estava hesitando. Mas foram apenas segundos até que eu desse alguns passos.



Com seus dedos, pegou um pouco do pó brilhante e dourado de dentro do pano amarrotado e sujo, e o salpicou acima de minha cabeça. Conforme as partículas caíam sobre meu corpo, sentia a magia penetrando minha pele e veias. Meus pés saíram do chão segundos após essa sensação estranha. O equilíbrio fugiu de mim. A gravidade se tornou desconhecida, e senti que meus órgãos estavam se deslocando. Mas quando Peter me tocou, me impedindo de subir como um balão, o enjôo que vinha, se dissipou. Instantaneamente levei meu braço solto a direções aleatórias, até que conseguisse tocar seu ombro. Levou uma das mãos até o meu, me levando a perto do chão.



— Leva tempo até se acostumar. — foi a única coisa que disse ao se abaixar e tocar minhas pernas. Não pude evitar meus pelos erguidos e o calor entre as pernas. As ajeitou devagar, até que nenhum espaço sobrasse. Subiu, tocando cada parte na minha lateral, levando meus braços para baixo e a cabeça erguida. — Como uma aula de etiqueta, é importante que mantenha a postura. Costas eretas, pernas juntas. Assim que estiver no céu, seus braços podem se abrir.


— Meus órgãos... Parecem que estão...


— Soltos? Eu sei. Vai se acostumar. — ele se afastou com passos, deixando pouco espaço entre nós. Me senti desconfortável e com medo ao o ver longe.



Fiquei como uma estátua na posição em que me colocou. Mesmo que não parecesse, eu estava com medo, assustada talvez. Tudo em mim parecia estremecer, mas também como se eu não sentisse nenhuma parte de meu corpo.



— Feche os olhos e pense na direção a qual quer ir, a velocidade e quando quer parar. Não tenha medo, não perca o controle, e assim que começar a se mover, abra os olhos. — sua voz parecia confortante, mas eu ainda estava com medo. Quem não estaria?



Apenas assenti, e pensei. Pensei em subir devagar, e bem, eu senti meu corpo levitar. Outra sensação estranha e anormal, mas continuei. Abri meus olhos.




— Não tenha medo! — ele gritou. Mas, quando baixei a cabeça, percebi que estava há metros de distância do chão. Pânico me tomou, e meus pés se sacudiram.



Fechei meus olhos, e meu grito cessou quando senti braços me envolverem.


— Você é medrosa. — a risadinha provocante foi suficiente para que eu abrisse meus olhos. Apenas para encontrar suas íris verdes, e perceber que o agarrei como um bicho-preguiça abraça sua árvore.



Olhei para baixo, apenas por vergonha, e percebi que ele descia lentamente. Assim que chegamos ao chão — eu não conseguia o tocar, mas ele, sim —, me pôs de pé.



— Volte a olhar em meus olhos. — por mais que aquilo me surpreendesse, e que eu me deixei hesitar, o fiz. E o que senti, foi uma inundação. O verde me engoliu em um oceano esmeralda, e meu medo, evaporou aos céus. — Tenho algo para lhe pedir. Sem isso, não conseguirá.



— Pode dizer. — minha voz foi baixa.



— Acredite em mim, você não vai cair. Acredite em você, irá conseguir. — eu sentia um toque em meu ombro e mãos, mas ele sequer estava perto. — Feche seus olhos e apenas acredite em nós.



Respirei fundo, deixando o ar entrar em meus pulmões, assim como aquela frase impactante em meu coração e mente. Repetindo freneticamente, e suave:


Acredito em mim. Acredito nele. Acredito em nós.

E em seguida, para cima, para cima, para cima e devagar.


A mesma sensação me invadindo novamente, e abri meus olhos. Pensei em parar, e o fiz. Mas olhei para baixo novamente, e em questão de metade de um segundo, Peter surgiu em minha frente, erguendo meu queixo.



— Acredite. — meu medo que estava se erguendo, caiu como uma muralha que vira pó. Assenti involuntariamente, e apenas senti o quente de suas mãos atadas com as minhas. Me puxou para trás, frente, baixo e lado.




Quando percebi já estava rindo e voando como uma pluma ao vento. O quão divertido era, passando uma sensação de incrível alegria e paz.


Meu medo não existia. Não enquanto voava.


Foram trinta minutos de vôo, nada cansativo. Juntos, pousamos. Meu riso não cessava, e ele apenas sorria.



— Muito obrigado pela... Paciência. E por me ensinar. — agradeci, ainda rindo vez ou outra, caminhando ao lado dele.



De certa forma, minhas pernas estavam doendo incrivelmente. O cansaço me atingira. Ele me olhou, e eu também o olhei quando parou de andar.


— Eu quem agradeço. — estava sério, mas não havia frieza em suas palavras. — Obrigado por acreditar em mim. Por acreditar em nós.

Lost Boys [PETER PAN]Onde histórias criam vida. Descubra agora