Capítulo 5

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Capítulo cinco
Paraíso intocado








A pergunta da fadinha surpreendeu a todos. Eu já sabia como iríamos, com o "pózinho mágico". Mas... Além de eu, com toda certeza, não estar pronta para voar, era um pouco óbvio que ele negaria.




— Tudo bem. — meu coração palpitou. E enquanto eu enfartava, Daisy pulou, e Michael sorriu, comemorando juntos.

— Mãe! — as duas vozes finas, soaram, e então, dois pequenos loiros abraçaram Wendy.

— Jack? Jane? — Michael indagou, parando a comemoração.

— O que estão fazendo aqui? — ela perguntou, surpresa.

— Entramos no seu carro sem você saber. — o menino, Jack, justificou.

— Seus filhos? — Peter arqueou uma sobrancelha, com sarcasmo.

— Quem são eles? — a outra, Jane, perguntou, após o "uhum" de Wendy.

— Vamos levá-los também! — Tinker pediu. Os dois pequenos se assustaram.

— Mamãe, é uma fada! — Jane pulou. — Eu quero ela!



Meu semblante se distorceu.



— Mimados? — perguntei, levanto toda a minha boca para o canto, sussurrando para John.

— Apenas Jane. — fiz um "ah". Meio óbvio. Jack ficava quieto ao lado da mãe, porém animado.

— São filhos de Wendy. E, a Wendy. Além de serem pessoas demais para voar. — cruzou os braços, falando baixo para Tinker.

— São pessoas demais, mas... 'Qual é'? — gesticulou com os braços para todos nós. — Eu odeio Wendy, e qualquer descendente dela, mas... A Terra do Nunca tem estado tediosa desde que você mudou.


Ele pareceu ter se ofendido, e eu segurei o riso.


— Sim? — deu de ombros. Tinker comemorou. — Todos aqui! Vocês vão conosco.

— Todos? — Michael indagou, rindo enquanto observava Daisy pular e gritar.

— Infelizmente. — Peter reclamou.


Todos nós nos unimos, e a fadinha, com entusiasmo jogou o pó brilhante, que ao tocar nossos rostos — fiquei preocupada se grudariam como purpurina —, todos começaram a levitar.

Meus pés saíram do chão, e até a gravidade pareceu desaparecer. Senti como se até mesmo meus órgãos se deslocassem. Eu não pude conter uns gritinhos baixos, e apesar do medo, Daisy ria sem parar rodando pelo quarto até ficar de cabeça para baixo.

— Isso vai ser um caos. — Peter resmungou, voando até o lado de fora da janela.

— Está de dia, então vamos rápido. — Tinker parecia entusiasmada. — Tentem firmar os pés no ar. Finjam que o ar é seu chão.


Wendy conseguia, apesar de não ter controle para onde ia. Jane gritava e chorava. Jack conseguiu, e eu achei aquilo espantoso. Daisy continuou rodando pelo quarto. John e Michael conseguiam voar, com mais facilidade do que deviam, e também estavam surpresos.

Eu tentei... Pisar no ar. Mas era estranho demais.



— Firme seu corpo. Controle como se fosse um barco contra a correnteza. — Tinker tentava... Nos inspirar?

— Isso é difícil. — eu falei, tentando me firmar. Eu sequer sabia como, ou onde me firmar, mas estava tentando.



Jack tentava ajudar a irmã, e Michael ajudava Daisy, que apesar de desviar muito a atenção, conseguia mover o corpo para onde queria.


— Eu vou te ajudar. — John riu ao dizer. — Use seus pensamentos. Voar depende apenas da sua força de vontade.


Assenti, e fechei os olhos com força.

Vamos voar direito.


— O que devo pensar? — perguntei.

— Para a direção a qual quer ir. — respondeu, segurando um de meus braços. — Por enquanto terá que pensar nisso, mas logo vai perceber que está voando por conta própria. Pensando inconscientemente.

Suspirei, e abri os olhos. Quero ir para a frente.

Nada aconteceu.


— Quero ir para a frente... — sussurrei. Nada.

— Não funciona? — John perguntou, surpreso.

— Não. — olhei para mim mesma. Qual o problema? Não sou capaz de voar?



Apenas flutuava, mas... Me mover por conta própria era impossível.


— Eu vou te levar. Mas vai precisar aprender. — falou, tocando meus braços em um gesto reconfortante.

— Tudo bem... Obrigado. — segurou minha mão.


John me guiou pelo céu, atrás dos outros. Ver todos voando tão facilmente, até mesmo Daisy, me fez me sentir um lixo humano. Será que há algum problema em mim?

Peter havia dado a mão à minha pequena. Talvez para a guiar pelo caminho certo. Ele parecia incrivelmente amável com ela.

— Esta é a melhor parte. — comentou John. — Feche os olhos.


Me perguntei por que, mas o fiz. Senti algo tocar meu corpo, e a brisa fria que tocava meu rosto desapareceu, e em poucos segundos fui tomada por calor. Cheguei a tremer perante uma mudança tão drástica de temperatura.


— Pode abrir. — escutei John, e então, o fiz.

Meus olhos foram de encontro à água azul, com manchas em verde. Cristalina e transparente. Não pude deixar de sorrir. Logo após, uma ilha. Uma imensa ilha, areia vibrante como ouro em sua praia, coqueiros altos, e logo após, algum tipo de selva. Minha visão se deleitou com a cachoeira — que não tinha menos que uns dez metros —, água jorrando sem parar, e o som alto que ela fazia.


— Ali atrás fica o "covil" dos Meninos Perdidos. — John afirmou.



Era a Terra do Nunca. Logo as descrições e imagens pintadas das histórias me vieram à mente. Não havia nada que se parecesse com aquela visão. Um paraíso muito bem conservado.

Pousamos sob a areia, a sensação de falta gravidade permaneceu em meus pés, e em todo o corpo. Mas eu não pareci ser a única a sentir isso. Todos estavam tontos, Wendy como por exemplo, foi de encontro ao chão. Eu queria me apoiar em John, mas nem ele parecia bem. Daisy rodopiava involuntariamente, e Peter a pegou. A pequena ainda balançava a cabeça, e ele riu.


— Isso é pior que ressaca. — comentei baixinho. John riu, concordando.

— Não mudou nada. — Michael disse, se firmando.

— Não mesmo. — seu irmão concordou, e segurou meu braço. Talvez para me ajudar a me firmar.

— O Capitão Gancho ainda está vivo? — Wendy perguntou, após levantar.

— Sim. Deve estar armando algum plano. Venha, os meninos vão querer os conhecer.

Lost Boys [PETER PAN]Onde histórias criam vida. Descubra agora