Capítulo 21

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Capítulo vinte e um
Anti-Heróis







— De quinze em quinze dias o senhor Sánchez irá buscar a criança. Pensão mensal de mil e trezentos em libras. — a juíza disse, olhando por cima do óculos na ponta de seu nariz. — Caso encerrado.

Nos levantamos das cadeiras da fila da frente da esquerda, e caminhei entre as fileiras. John estava logo atrás, com paletó e uma pasta em mãos. Um advogado atrás, e logo após a equipe de Harry.

— Você deveria receber uma indenização e o processar por abandono. — mamãe disse, obviamente insatisfeita. Esfreguei a mão em minha testa, sentindo minha consciência se esvair com cansaço e desânimo e melancolia.

— O júri entendeu que ambos eram jovens. E tudo isso contou para que a pensão fosse determinada. — John respondeu, percebendo meu estado, mais mental do que físico. — Além disso, a defesa de Harry alegaria o fato do abandono de vocês dois também.

Meus pais fecharam por completo a boca, recebendo a verdade com muita dureza.

— Charlotte, nós... Podemos conversar? — Harry me chamou, e me virei para o olhar. John tocou minha cintura, e percebi que devia o levar comigo. O pai de minha filha também percebeu isso, e assentiu. Caminhamos para longe de minha família e dos advogados, isolados em um canto qualquer. — Antes que diga qualquer coisa, eu quero deixar claro que eu não queria nada disso. Eu sequer queria advogados, mas meus pais exigiram.

— Tudo bem. Não é nada do seu feitio me fazer querer te matar. — meu humor estava inteiramente morto. O dele também.

— Apesar de tudo nós sabemos que seus pais tem uma parte bem maior do que a sua neste “abandono”. — John disse. Eu mesma decidi que podíamos ir embora, e me virei. O cacheado com o cabelo cortado – que inclusive odiei – o cumprimentou, e me seguiu.

— Eu te invejo por manter a paciência e a elegância. — comentei, e ele riu.

— Preciso completar o que você não tem. — ri com sarcasmo.

— Vamos sair daqui. Cansei disso tudo. — ele assentiu, e me certifiquei de que Daisy estava na escola de música, e nós dois entramos no carro dele.






Após um tempo na estrada, John parou em frente à um grande edifício. Era o apartamento dele, deduzi. Saiu do carro, e abriu a porta para mim. Cada ato dele fazia meu coração palpitar. Era um homem perfeito. Cavalheiro, rico, bonito, amável. Como eu estava abrindo mão do que toda mulher deseja?

Mas a outra voz, a voz da emoção combatia contra a razão, argumentando que James também era o que toda mulher romântica queria. Charmoso, sarcástico e duro por fora, mas sentimental.

E então, as duas vozes entravam em um consenso dizendo que eu sou abençoada por receber duas definições diferentes de perfeição. E que eu não podia abrir mão dos dois. Um deles deveria ser meu. E então elas sopesaram, e disseram que eu tenho os dois. Mas que só um me terá. E eu sei qual.

— Michael desejou continuar com Peter. Ele encontrou a casa dele. — John disse, destrancando a porta do número trinta e dois, no terceiro andar. — Acho que ainda não encontrei a minha.

Seu riso com um toque de ironia e melancolia me fez ter pena dele. Mas me lembrei que estou sensível demais. Nós dois estamos.

— Você encontrou a sua, não encontrou? O Loster. — ele disse após me dar permissão para entrar, e eu continuei de costas para ele. Cada palavra que dizia era como sons de um tambor alto, que reverberava nos cantos mais profundos da minha alma. Baques que me faziam vibrar e perder o fôlego, e a razão. — Não tem o que responder, eu sei.

Lost Boys [PETER PAN]Onde histórias criam vida. Descubra agora